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Magia Audio-Visual

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Aurino Araújo

Certa vez, um cidadão botou um aviso na vitrine central de sua loja, comunicando que, naquele dia, o estabelecimento estava fechado para balanço. Contudo, viu que pessoas chegavam à porta e forçavam a entrada, ignorando a comunicação, bem à vista de quem estava do lado de fora. Deduziu então, que o papel comum com o aviso escrito à mão, “desaparecia”, “camuflava-se” em meio à profusão de posters em policromia colados ao lado, contendo mensagens de propaganda de produtos vendidos na loja, todos com atraente visual e fotografias de primeira qualidade. Estava ali a magia da propaganda bem feita, que tem o condão de gerar compras.

Todavia, em alguns casos, ela apenas vende ilusões. Um fotógrafo italiano, que adquiriu fama mundial produzindo ousadas fotos para determinada grife internacional, reproduzidas em outdoors espalhados pelo mundo inteiro, anos atrás participou de um programa televisivo aqui no Brasil, durante o qual, sabatinado pelos papas da propaganda tupiniquim – além de conhecidos jornalistas – chamou, cara-a-cara, os publicitários de “ilusionistas”. Na verdade, o que ele quis dizer é aquilo que os que são mais observadores já sabem… Quem viaja constantemente pelas rodovias brasileiras, costuma ver, nos postos de gasolina e nas paradas de caminhoneiros, um sujeito meio sujo, geralmente de bermudas, sem camisa e usando chinelão, mexendo nos apetrechos de uma”cozinha” improvisada sempre agregada à carroceria de madeira de seus caminhões e carretas, no preparo de um “rango” de feijão com arroz, carne de jabá, etc… Coisa muito diferente daquele antigo pôster de propaganda de determinada marca, onde, pelo vidro de uma churrascaria com ar condicionado, vê-se um motorista forte, corado, bigodudo, envergando um vistoso blusão de couro e traçando uma suculenta picanha, provavelmente argentina. Do lado de fora, um reluzente caminhão da famosa marca, novíssimo, sem um tico de poeira na lona simetricamente esticada, que cobre sua carga e nem uma gota de lama nos pneus, que brilham quase tanto quanto a lataria, graças a uma demão de glicerina.

Na TV, via-se uma belíssima modelo, ou estrela de cinema nua, numa banheira de espuma e em poses sensuais – e eu num tenho nada contra, registre-se – a propagar as virtudes desse ou daquele sabonete ou de determinado xampu.Via-se, também, a alegria e despreocupação de um idoso avô que cuidava do neto, pagando-lhe os caprichos com cheque ou cartão de conhecido banco, enquanto se comunicava com seu filho, pai do garoto que, do banco de couro de seu jatinho em pleno vôo, informava-lhe, pelo celular, que tinha providenciado as coisas, de modo que ele se desobrigasse daquilo e curtisse a vida à vontade…

O pano de fundo, naturalmente era o banco. Pois, vamos à realidade: no caso do sabonete ou xampu, quantas mulheres não entram na banheira com a sensação de que sairão dali transformadas em deusas, como aquela da televisão… Algumas nem mesmo se apercebem que são muito mais bonitas ao natural e que, muitas vezes se artificializam até ficarem feias, caricatas. E o Banco? É só dar uma passadinha por lá – e nem precisa ser exatamente aquele do vovô – para ver uma multidão obediente na tal “fila única” e olhando para uma “bateria” de 10 caixas, com somente três funcionando. Esse contingente passa 30 minutos, às vezes 45 ou mais penando na fila, resmunga reclamações mas, à noite em casa quando vê o vovozinho – ou uma versão moderna de anúncio – retorna outro dia para mais uma sessão de tortura.

E olhe que tem uma nova Lei que obriga o atendimento em, no máximo, 30 minutos. Acho que foi isso que o italiano quis dizer. Fiquei do lado dele. Fosse eu, diretor de filmes publicitários, botava motorista de caminhão pra fazer o papel de motorista de caminhão; botava na banheira uma mulher comum, pra que ela se identificasse com a que está na poltrona e botava no ar um anúncio de banco mais condizente com a realidade.

Mas, venderia produtos, com esse anúncio? Penso que sim. Porque, noutro programa TV, vi a dona de importante agência de propaganda dizer que nem sempre o anuncio premiado era o que vendia mais produtos…

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