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Magma

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Dácio Galvão
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O nome do cara é Tiganá Santana. Tem a tez preta, cabelo pixaim e desde cedo escreve poesia e fala vários idiomas. A mãe, pesquisadora de estudos afro-brasileiros ligada ao Centro de Culturas Populares e Identitárias, da Universidade Federal da Bahia, o estimulou a seguir a carreira diplomática. Preferiu estudar violão clássico optando para o cenário artístico. Em dada entrevista.diz: “No Ocidente (aqui entendido como cosmovisão), se você é negro, já se trata dum senão a priorii.”

Graduado em filosofia caminha com a crença descalça no terreiro de candomblé. É onde cumpre seu dever ritual exercitando a espiritualidade. Fala mais adiante consciente: “… há uma longa (talvez infindável) trilha pela frente, no que diz respeito ao combate efetivo ao racismo – e etnocentrismo  – que, sistematicamente, reduz ao nada as ontologias, culturas, pensares, sistemas e profundezas do outro (nesse caso, notadamente, o/a outro/a negro/a), donde se origina a marginalização e, mesmo, a criminalização do candomblé.” Recluso e avesso a consseções midiáticas passou a morar em Sampa depois de um período estudando no Senegal. Fixou residência saindo da zona de conforto ou do território criativo onde vivenciou a maioria das experiências.

Tiganá traduz o erudito sonoro sendo o primeiro compositor brasileiro autoral em dialetos kigongo e kimbundo. Células rítmicas e linguísticas ancestrais pipocando em mantras tecidos nas batidas do instrumento que construiu: o violão-tambor.

Quando leio alguma entrevista de Tiganá Santana tenho a estranha sensação de não querer prosseguir até o final, por certa preguiça e ou exigência de reflexão. Ao mesmo tempo percebo algo de impulsivo e irresistível seja por profundidade e propriedade de conteúdo. Então desemboca a pororoca da impossibilidade de não ir até o fim. 

Nascido na Bahia de todos os Santos ouviu João Gilberto, Dorival Caymmi  trazendo como todos artistas de lá o misturado caldeirão originário,  variados ritmos, toques e afins de diásporas de áfricas.       

Entre 2010 e 2015 trabalhou em Maçalê, The invention of Colour, Tempo & Magma títulos dos três CD’s que lançou em tempos de alta da indústria cultural. Segmento profuso e dominante que faz girar a roda do capital na economia da cultura, com frestas para surgir uma luminosidade negra, forte e consciente. Mais um  ingrediente na linguagem musical diversa que Mário de Andrade no século passado já vislumbrava como sendo a linguagem brasileira que mais mobiliza e sociabiliza. 

É de uma indescritível força estética ouvir Santana interpretar a canção “Sou eu”, de Moacir Santos e Nei Lopes, gravada por Djavan, no CD,  Ouro Negro. Quatro Negros Cavaleiros desbravando limites de fronteiras de humanização diante do apocalipse que se desdobra mundo afora nas atuações do estado islâmico, sindicato do crime, primeiro comando da capital, família do norte e comando vermelho.

Entre o mineral pastoso e rochas vulcânicas milenares pode pintar uma voz, quem sabe, uma voz-magma dizendo: “”Se uma estranha paz / te vestir de azul / não te espantes não sou eu.” O eu-Deus, eu-Vida!

Nesses tempos de barbáries nada mal ouvir, sonhar.com Tiganá!

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