São Paulo – Mais que o recuo das taxas de juros, o alongamento dos prazos de pagamento tem dado combustível para o crescimento das vendas no varejo neste início de ano. E este é o grande chamariz de vendas. Os planos de pagamento de longo prazo, isto é, cujo parcelamento é superior a 13 prestações, respondem hoje por 45% das ofertas anunciadas pelas redes varejistas em todo o território nacional, segundo a ShoppingBrasil, empresa especializada em pesquisas de ofertas do comércio. O crediário de 9 a 12 prestações também representa 45% das ofertas. “Pela primeira vez, os planos de prazos mais longos aumentaram consideravelmente a sua participação nas ofertas anunciadas este mês e se igualaram à fatia dos planos de pagamento intermediários, entre 9 e 12 vezes”, observa o diretor da empresa, Minoru Wakabayashi.
Em contrapartida, a pesquisa mostra que o crediário de curtíssimo prazo, em até 4 vezes, tende a desaparecer das ofertas, com cerca de 1% de participação hoje. Nas contas do vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, o alongamento de prazo tem impacto maior no valor da prestação do que o recuo nos juros. Numa mercadoria de R$ 1 mil, a queda de 1 ponto porcentual nos juros de 6% corresponde a um recuo de 9% no valor da prestação num plano de 24 meses.
No entanto, se o plano for esticado de 24 para 36 vezes, com juros mantidos em 6%, o valor da prestação cai 14%. Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), diz que o crédito – prazos e juros – é o principal responsável pelo bom desempenho do comércio neste início de ano, que, segundo ele, é mantido este mês “As lojas também esticaram os prazos de carência do primeiro pagamento”, destaca Solimeo.
Consumo aumenta com rendimentos
Rio – A massa de rendimentos no País deverá crescer pelo quarto ano consecutivo este ano e acumular uma expansão acima dos 20% entre 2004 e 2007. A projeção é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento. Em 2003, ano seguinte à crise de expectativas no período eleitoral, houve queda de 9,2%. Para este ano, o instituto estima um avanço de pelo menos 5% na massa salarial. O crescimento da massa de renda, na prática, empurra para cima o consumo das famílias, principalmente de produtos de segmentos que dependem menos do crédito para vender. Este é o caso dos chamados bens semi e não-duráveis, como alimentação, remédios, vestuário, dentre outros. Em outros segmentos como os de bens duráveis, que incluem eletrodomésticos e automóveis, o crédito tem papel mais relevante para estimular o movimento de compras.
A massa salarial leva em conta o valor médio do rendimento do trabalhador e o total do pessoal ocupado na economia. Assim, esta massa aumenta quando a renda do trabalho cresce e quando aumenta a quantidade de trabalhadores. Nos últimos três anos, o avanço do rendimento real (excluída a inflação) foi mais importante do que o crescimento do pessoal, explica o economista do Ipea Marcelo Ávila. As estimativas do Ipea foram feitas com base na evolução da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, que abrange as seis principais regiões metropolitanas do País (Rio, São Paulo, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte e Salvador). Ávila explica que esta pesquisa é mensal e permite acompanhar a evolução da conjuntura do trabalho. Já a Pesquisa Anual por Amostra de Domicílios (PNAD) tem dados das regiões não-metropolitanas também. “Este ano haverá crescimento na renda e na ocupação. Será um ano favorável ao mercado de trabalho”, afirma Ávila.
O economista avalia que o valor médio do rendimento do trabalho deverá, ainda no primeiro semestre deste ano, superar o valor em dezembro de 2002, de R$ 1.087,89, antes do início do primeiro mandato do Governo Lula. Ainda assim, o montante ficará um pouco abaixo do maior valor recente, que foi em julho do mesmo ano (R$ 1.168,28). Segundo Ávila, embora a massa salarial venha crescendo, porque também leva em conta o pessoal ocupado, o valor específico do rendimento ainda não conseguiu superar o patamar de meados de 2002. “O rendimento também está crescendo mas não conseguiu neutralizar a queda intensa que ocorreu anteriormente”, afirmou o economista. A renda média do trabalhador chegou a dezembro de 2003 em R$ 951,58, 12,6% abaixo do valor no mesmo mês do ano anterior.