Vale do Açu – Conforme previsão do Departamento Nacional de Obras Conta a Seca (DNOCS), a Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, o maior reservatório de água doce do Estado (armazena 2,4 bilhões de metros cúbicos de água), começou a sangrar às 3h de ontem. O reservatório ainda não está recebendo água do açude Coremas, da Paraíba, o que deve acontecer no início da noite desta sexta-feira.
O início da sangria da Armando Ribeiro é motivo de preocupação para os produtores de camarão e fruticultores do Vale do Açu, mas também de alegria para a população de mais de 40 municípios do Rio Grande do Norte, inclusive Mossoró, que são abastecidos pelo lago através do sistema de adutoras construídas pelo Governo do Estado.
A preocupação dos carcinicultores é porque a sangria da Armando Ribeiro, segundo a empresária Tácia Liane, da empresa Aquaviva, aumenta o volume de água do rio Piranhas/Açu entre os municípios de Itajá e Macau, deixando todas as fazendas de camarão em cativeiro ilhadas na região entre os municípios de Pendências e Porto do Mangue.
O principal motivo da alegria da população de mais de 40 municípios do Rio Grande do Norte é que a sangria mínima da Armando Ribeiro é sinônimo de garantia de abastecimento destas cidades nos próximos 3 anos. Outro motivo é que a cheia despolui o leito do rio, que tem sido castigado nas últimas décadas com esgotos das cidades e agrotóxicos dos projetos.
A lâmina de sangria da Armando Ribeiro, às 15h de ontem, estava em 40 centímetros. O técnico Geraldo Margelo, do escritório do Dnocs em Assu, informou que a barragem está recebendo menos água, com a redução das chuvas no Médio Oeste e o sertão paraibano. Destacou, no entanto, que esse quadro vai mudar nas próximas 36 horas.
Essa mudança será proporcionada com a chegada da água da sangria da Barragem Coremas, na Paraíba, provavelmente no início da noite de sexta-feira. O Coremas, às 15h de ontem, estava transbordando com lâmina de 60 centímetros. Juntando com a água que está chegando do Seridó, o técnico calcula que a Armando Ribeiro passe a transbordar com 1 metro.
Açude Cajá sangrou
Em Tabuleiro Grande o clima é de euforia da comunidade. Depois de quatro anos, o açude Cajá, responsável pelo abastecimento humano do município, voltou a sangrar, trazendo esperança e tranqüilidade para os munícipes.
Além do fim do problema com a água de consumir, o açude se transformou em local de diversão das famílias que aproveitam para se divertir e ganhar algum dinheiro com vendas.
Severiano Melo pode viver estado de emergência
Severiano Melo, no Alto Oeste, deve ser o próximo município potiguar depois de São Bento do Trairi a ter decretado seu estado de emergência por causa das chuvas.
O prefeito Silvestre Monteiro entregou ao secretário estadual de Interior, Justiça e Cidadania, Leonardo Arruda, um pequeno dossiê que documenta os estragos causados pelas chuvas em seu município.
O vice-governador e secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Iberê Ferreira de Souza, visitou ontem alguns municípios que vem sendo atingidos pelas chuvas há 15 dias.
Segundo ele, a situação em São Bento do Trairi, que ficou ilhado com o desmoronamento da cabeceira da ponte de acesso ao município, “está sob controle”.
Ponte metálica
Ontem, porém, o secretário Leonardo Arruda disse que a tentativa de se instalar uma ponte metálica com o Exército para minimizar o problema não foi possível devido a problemas técnicos.
“Tornar transitável aquele trecho da ponte sobre o Riacho do Feijão dependerá do tempo”, disse ele.
No município de São José do Campestre, o vice-governador disse que o Corpo de Bombeiros está providenciando travessia segura da ponte sobre o rio Jacu, que deixou ilhadas cerca de 4 mil pessoas na comunidade Paraíba.
Em Japi, uma ponte na rodovia RN 092 foi interditada, uma vez que a cabeceira estava sendo prejudicada pelo grande acúmulo de água no riacho. Técnicos do DER já foram enviados ao local, garantiu Iberê.
O vice-governador Iberê Ferreira atravessou o rio de canoa para acompanhar os trabalhos. Ontem, já em Natal, o vice-governador explicou que sua visita teve como objetivo principal levar conforto às pessoas que, a exemplo da comunidade da Paraíba, ficaram ilhadas. “As pessoas precisam de apoio nessas horas difíceis”, disse.
Martins registra maiores precipitações da região Oeste
Martins – O município está registrando as maiores chuvas dessa região. Segundo informações da base de meteorologia local, no último domingo, a chuva chegou a 185 milímetros, sendo a maior já ocorrida esse ano. Em alguns pontos, pessoas que mantêm contadores particulares afirmam ter passado de 200mm.
Raios, trovoadas e muita névoa são características comuns em Martins. Segundo o empresário Júnior Teixeira, no final de semana, um raio matou uma vaca na comunidade de Lagoa Nova, assustando todos os moradores daquela região.
Com as precipitações, as estradas vicinais, quase todas descendo e subindo serra, estão quase intransitáveis. Foi necessário que a prefeitura organizasse uma força-tarefa para evitar que a comunidade rural ficasse prejudicada.
Esse ano já choveu mais de 800mm no município, o que fez com que todos os açudes sangrassem, inclusive o da Visão, que é o maior do município, seguido do Porção e Chapéu.
Agricultura
A regularidade do inverno na serra está deixando felizes os agricultores. Seu Damião Firmino, 82, plantou milho e feijão em janeiro e já começou a colher a safra. Ele disse que, se for possível, ainda pode voltar a plantar.
Carcinicultores se preparam para cheia
A empresária Tácia Liane, da empresa Aquaviva, de Pendências, disse que informou que se a lâmina de sangria da Armando Ribeiro chegar a 2 metros, todas as 20 fazendas de camarão do delta do rio Piranhas/Açu, entre as cidades de Macau, Pendências e Porto do Mangue, ficarão ilhadas, como aconteceu em 2004.
As fazendas não ficariam ilhadas se o Governo do Estado tivesse concluído a Estrada do Camarão, que começou em 2005 e até hoje não concluiu. Falta construir uma pequena ponte e dois quilômetros de asfalto. Devido a essa negligência, a empresária disse que em 2004 os carcinicultores usaram canoas para transportar os operários.
Para este ano, a empresária acreditava que as chuvas não fossem tão fortes. Entretanto, com as chuvas fortes nas regiões Seridó e Médio Oeste, no Rio Grande do Norte, assim como no Alto Sertão Paraibano, os empresários já esperam o pior. Estão abastecendo as fazendas com ração para garantir o alimento dos camarões para nas próximas semanas. Acreditam na redução das chuvas.
Chuvas são mais intensas no Alto Oeste e no Seridó
Dos trinta municípios com maior volume de chuvas este ano, dezenove estão no Alto Oeste e Oeste; dez no Seridó e um no Vale do Açu. A distribuição geográfica das chuvas é uma mostra de que o inverno de 2008 tem tudo para ser um dos melhores das últimas décadas.
De acordo com o Boletim Pluviométrico da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), entre 1º de janeiro e 26 de março, choveu 771,8 milímetros em Martins, 612,4 em Riacho de Santana e 608,8 mm em José da Penha. No Seridó, o município com maior volume de chuvas é Serra Negra do Norte, com 566,7 milímetros.
O Seridó é a região que mais está se beneficiando com a distribuição temporal e espacial das chuvas, situação considerada ideal para a agricultura e também para os açudes, que estão tomando água regularmente. A maioria deles estava praticamente seco. É o caso do Gargalheiras, em Acari, e do Itans, em Caicó. Com capacidade para 80 milhões de metros cúbicos, antes da chegada das chuvas o reservatório que abastece Caicó tinha apenas um quarto da água que pode acumular. O açude Dourado, em Currais Novos, que estava seco, encheu. A Caern agora vai aproveitar para reativar o sistema de abastecimento de água da cidade.
De acordo com informações do blogue do jornalista Robson Pires, o nível do Itans aumentou mais 76 centímetro entre quarta e quinta-feira. Para atingir a lâmina de sangria ainda faltam, de acordo com a última leitura, 5 metros e 25 centímetros. “Mas, já deve ter diminuído. É que o Rio Barra Nova está com muita água e despejando para dentro do reservatório. Sem contar que o açude Esguicho, de Ouro Branco, está sangrando”, diz o jornalista.
Segundo Robson, o Gargalheiras está faltando 1 metro e 72 centímetros para sangrar. O açude de Cruzeta, 2 metros e 74 centímetros. A Barragem Boqueirão está com pouco mais de 48 milhões de metros cúbicos.
Bate Papo
Iberê Ferreira de Souza – Vice-Governador
O que mais impressionou o senhor nessa visita às áreas atingidas pelas chuvas?
O que mais chamou minha atenção com as obras de engenharia, no caso das pontes, é que não estão sintonizadas com a realidade. Não há bueiros suficientes para aliviar o peso das águas e o resultado é o que vimos: cabeceiras de pontes cedendo.
O senhor considera que isso deve ser melhorado…
Certamente. Quem vive no semi-árido sabe que lá é muito seco até chover muito – e em pontos concentrados. Ou seja, não é uma chuva bem distribuída.
O senhor tentou a solução da ponte de metal como solução provisória em São Bento do Trairi. Por que não deu certo?
O Exército foi muito solícito. Mas, infelizmente, eles dispunham de uma ponte de 40 metros, quando a necessidade para aquele caso era um de 50 metros.
O senhor andou de barco?
Sim, um trecho pequeno. Em São José do Campestre as pessoas ficaram ilhadas.