quinta-feira, 18 de abril, 2024
28.1 C
Natal
quinta-feira, 18 de abril, 2024

Mais velhos, mais jovens

- Publicidade -

Jorge Boucinhas – médico e professor da UFRN

Há fatos, abordados pela Medicina, que, de quando em vez, têm ameaçado quebrar a cabeça de muitos.  Sabe-se, por exemplo, que a incidência de doenças crônicas aumenta inevitavelmente com a idade. Assim, seria de esperar que as pessoas chegando a um século de vida, amiúde chamadas de “velhos dos velhos”, fossem os idosos mais debilitados. Constatou-se, com surpresa, serem freqüentemente ágeis e saudáveis. Os centenários, claro que com algumas exceções, dizem que sua nona década transcorreu sem maiores problemas. Alguns chegam a ainda estar a trabalhar, são sexualmente ativos e apreciam viagens e cultura, tocando a vida adiante como se a idade não fosse problema. E evidências crescentes mostram que um número significativo é mais saudável que a maioria dos que estão entre 75 e 90 anos.

Algumas evidências curiosas são provenientes de um estudo sobre o Mal de Alzheimer realizado no Centro Hebraico de Reabilitação para Idosos, em Boston, EUA. Alguns cientistas haviam publicado que metade das pessoas com 90 anos teriam Alzheimer e que dois terços dos centenários seriam afetados, mas o estudo acima citado indicou coisa bem diversa, pois dentre 12 pacientes com mais de 100 anos, apenas 4 apresentavam a doença. Esse baixo percentual foi surpreendente, ainda mais levando-se em conta que pacientes internados provavelmente deveriam ter maior probabilidade de estar enfermos que os externos. Ora, pelo menos sob o ângulo cognitivo, os “velhos dos velhos” estavam em melhor forma que o esperado. Como explicar?  Suspeitou-se que, por algum motivo, certos idosos seriam particularmente resistentes a enfermidades incapacitantes e letais para a maioria das pessoas antes dos 90. Por causa dessa proteção não só viveriam mais que os outros como permanecem relativamente imunes a outras doenças, no que poderia ser denominado “sobrevivência seletiva”.

Tal conceito pode também esclarecer várias outras descobertas que mostraram a relativamente boa saúde física e mental desse grupo. Ao que parece, cada ano os seres humanos que sobrevivem até quase um século de idade ficam menos propensos a desenvolver Alzheimer. Além disso, em média, têm uma mente mais aguçada que os na oitava década.

Dado curioso é que o grupo de homens com mais de 90 em geral têm funções mentais melhores que suas contrapartes do sexo oposto.  Mulheres com demência, ao que parece, tendem a conviver com a doença e a não morrer dela. Por isso, as macróbias sobreviventes, como média, soem apresentar menor capacidade mental, quiçá porque os macróbios representam os melhores espécimes masculinos, os sobreviventes saudáveis que ficaram após a “partida” dos menos bem dotados.

Outrossim, os homens de idade mais avançada também mostram desempenho superior ao das mulheres em termos de saúde física. Os com 60 a 70 anos são reconhecidamente mais suscetíveis a insultos cerebrais e ataques cardíacos do que mulheres da mesma idade. A demora na chegada dessas doenças graves permite às mulheres sobrevivência maior e, em números absolutos, mais membros dos sexo feminino ainda estão vivos aos 95, mas os componentes do sexo masculino começam a assumir a liderança a partir daí. E embora correspondam a tão somente 15% dos centenários, correspondem a 40% dos indivíduos que atingem os 105 anos de vida.

Sinais precoces dessa inversão já podem ser vistos em pessoas na oitava década. Homens que sobrevivem até essa idade sem problemas graves geralmente continuam a viver sem precisar de cuidados médicos especiais. Investigadores do National Aging Institute, EUA descobriram que homens com mais de 80 anos eram mais independentes que mulheres da mesma idade. O estudo indicou que 44% dos homens nessa faixa etária eram robustos e independentes, contra apenas 28% das mulheres.   Afora isso, na Duke University foi estimada a expectativa de vida ativa (número de anos restantes com possibilidade de vida independente) para a população senecta dos Estados Unidos, tendo-se verificado que, acima do patamar dos 85, os homens podem esperar uma vida mais ativa do que as mulheres.

Mas, que condicionantes podem levar os seres humanos a atingir 95 anos ou mais em boa saúde?  Variáveis múltiplas e interconectadas têm papel importante. Os chamados genes da longevidade parecem proteger contra o desenvolvimento de doenças; a capacidade de adaptação (geneticamente determinada ou não) permite que os sobreviventes sejam atingidos por doenças mortais; hábitos saudáveis (quais deixar de fumar, adotar dieta balanceada e exercitar-se) também ajudam).

Sobre isto vai-se discorrer melhor no próximo Artigo.  

Feliz tempo pascoal e até lá!

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas