sábado, 20 de abril, 2024
25.1 C
Natal
sábado, 20 de abril, 2024

Marchinhas renascem na boca do povo

- Publicidade -

Yuno Silva – Repórter

O que seria do Carnaval sem a irreverência de letras que contextualizam o cotidiano? É justamente neste período, que as pessoas tentam esquecer dos problemas ironizando, quem diria, a própria realidade. Os motes que eternizam letras e canções são os mais diversos, e podem surgir em qualquer esquina sem qualquer pretensão. Já tivemos o “Dólar na cueca”, o “Carnaval com Bin Laden” e a bola da vez, pelo menos aqui em Natal, são os rumores em torno da vinda da presidenta Dilma Rousseff à cidade e sua estada no hotel de trânsito da Barreira do Inferno.
Assim como o Carnaval, as campanhas políticas são um território fértil paras as marchinhas. Na foto, o então compositor Magnus Kelly em sua campanha para deputado, nos anos 70
Diante dessa possibilidade, uma letra em especial voltou à chamar atenção: o frevo-canção “Barreira do Inferno”, composição de Magnus Kelly e de Miranda Rocha.

Escrita ainda na década de 1960, quando Magnus era um jovem de apenas 19 anos e trabalhava na Recebedoria de Rendas do Estado, hoje rebatizada de Secretaria de Tributação, a música foi inspirada na época que o centro de lançamentos de foguetes estava prestes a ser inaugurado. Como nada é por acaso, Magnus Kelly era colega de trabalho do compositor  potiguar Dosinho, autor de frevos e marchinhas que fazem sucesso até hoje, principalmente no Carnaval do Recife. “Foi Dosinho quem me incentivou a gravar a música. Ele também articulou os músicos que escreveram a partitura”, disse o compositor, que chegou a ocupar o cargo de Deputado Estadual na década de 1970.

Escute a marchinha


Marchinha Barreira do Inferno, versão oficial na voz de Riberto
Henrique, vocais de Dalvinha Lopes e coro da Orquestra de Duda (acervo
Rádio Cabugi/Globo).


Composição: Magnus Kelly de Miranda Rocha
É com você menina
Que este ano eu quero
Brincar o carnaval
Na Barreira do Inferno
A minha fantasia
É toda de aço
Eu vou brincar com ela
E não vou sentir cansaço
No meio do salão
Ou por onde passo
A turma vai gritando
Olhe o homem do espaço!

Compacto foi lançado em 64
“Em 1964, o Capitão Bulcão, então responsável pela Barreira do Inferno, também era da diretoria do América. Eles estavam gravando um compacto promocional sobre os bailes do clube e o frevo-canção ‘Barreira do Inferno’ acabou sendo incluído”, recorda o abecedista. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE localizou o compacto nos arquivos da Rádio Globo/Cabugi, onde, além de “Barreira do Inferno”, também estão registradas as canções “Vem querida”, de Aurino Francisco, e duas de Dosinho: “Não se faça de doido não” e “Mandando Brasa!”.

Tradicionalmente, os bailes elegiam a melhor música do Carnaval, e naquele ano (1964, ) ele lembra, as favoritas eram ‘Barreira…’ e ‘Não se faça de doido não’. “Claro que não dava para competir com Dosinho”, declarou Magnus Kelly.

Segundo Kelly, em 1995 o Coronel Aviador (Mário Ossamu) Nakamitis pensou em adotar um hino para o centro de lançamento e acabaram chegando até a música de Magnus. “A banda da Barreira do Inferno transformou o frevo-canção em marcha rancho, e desconheço se essa versão chegou a ser gravada. Mas sei que sempre é executada nos desfiles como um dos hinos oficiais da Barreira”, disse.

Questionado se irá compor uma marchinha em homenagem à passagem da presidenta Dilma Rousseff pelo centro de lançamento localizado em Pium, Parnamirim, Magnus desconversa: “Vou pensar no assunto”.

Ninguém esquece um frevo de Dosinho

Outro personagem desse Sábado de Zé Pereira é o experiente Claudionor Batista de Oliveira, que contabiliza seus 83 anos de Carnaval. Mais conhecido como Dosinho, ele informa que 2011 vai ser diferente: “Não irei lançar disco independente este ano, pois a gravadora onde edito minhas músicas no Recife está lançando dois CDs com músicas minhas. Aí complica ser concorrente meu próprio concorrente”, diverte-se o sempre bem humorado Dosinho.

Os discos promocionais que estão saindo na capital pernambucana trazem músicas já lançadas anteriormente: “Carnaval com Bin Laden” e “Dólar na cueca”, mas o potiguar adianta que está preparando nova composição que “fala sobre um lava jato para lavar ficha de políticos”, revela.

Escute a Marchinha Carnaval com Bin Laden

Escute a Marchinha Dolar na Cueca

Apesar do frevo ser pouco executado nas rádios natalenses, em Recife Dosinho é tratado como merece: “Mesmo se eu fosse dez não daria conta da demanda de shows, eventos, entrevistas…”, garante. “Eu nem distribuo mais meus discos nas rádios aqui de Natal”, lamenta.

Dos antigos compositores, do quilate de Capiba e Nelson Ferreira, Dosinho é o único que permanece em plena atividade. Começou sua carreira artística na década 1940, no Rio de Janeiro, onde trabalhou na Rádio Nacional e na Gravadora Copacabana. Já teve músicas gravadas por Claudionor Germano, Tri Guarany, Alceu Valença, Antônio Nóbrega e Silvério Pessoa.

“Noto que há um novo ciclo de interesse pela marchinha. Estão realizando concursos no Rio, e este ano terá até um bloco na Bahia puxado exclusivamente por marchinhas”, anima-se. “Antigamente ouvíamos de longe as pessoas no salão cantando os sambas de Carnaval, hoje, com os sambas-enredo, perdemos essa tradição: as letras são compridas demais”, observa. O compositor ainda não decidiu se irá para Recife, pois recebeu muitos convites de amigos e o “pessoal do condomínio onde moro faz questão de minha presença”, finaliza.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas