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Marina Silva

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Valério Mesquita – Escritor 

Marina, morena, Marina, você me venceu. Não tem sobrenome búlgaro, nem italiano, nem burguês. É povo, é simples, é Silva, a maior família do Brasil. É autêntica, verdadeira, não mente nem tergiversa. Toca a gente. Não tem o glamour nem la prépotence dos candidatos endinheirados. Tem a cara de Maria, de Joana, de Joaquina, de Manoel, de João e de Pedro. Seu jeito de ser e dizer reflete a roupa rasgada do pobre, a fome do Brasil, de geração a geração, que a bolsa do erário não resolve, só alivia.

Marina, morena, menina, humilde professorinha lá do norte do país, quero afirmar que já ouvi a todos e comparei bastante para chegar onde cheguei. Se Lula torneiro mecânico subiu a rampa do Planalto por que não você pode ser presidente? É tão povo quanto ele, longo braço do seu governo na defesa da selva amazônica, dos pampas, do pantanal, dos sertões, das veredas, do verde brasileiro do Oiapoque ao Chuí e sua ex-ministra do Meio Ambiente?

Lá nos Estados Unidos o eleitor quebrou tabus, rasgou preconceitos de raça e de cor. Elegeu o preto. Barack Obama, o cara! Só agora, três séculos depois, interpretou o sonho de Abraham Lincoln quando libertou a América da escravidão racial e política dos republicanos e fariseus. Das duas mulheres que concorrem pela primeira vez, historicamente, a presidência da nação, deve ser eleita aquela que exprima com mais limpidez o sentimento de brasilidade, das raízes populares, sem arrogância.

Uma das razoes persuasórias do meu voto é o descompromisso com a larga porta. Os seus humildes traços de vida amanhecem em nós, tão puros, como de surpresa. A sua aparente submissão – como se sentisse exausta de ser – antecede os clarões do seu raciocínio, reflexão, madureza, em tudo que opina. Fala de improviso, tal e qual Lula, mas com conteúdo, inteireza, palavra vestida da humana claridade necessária, sem banalidades. Marina tem rara luz singular. Tem cores que vem de dentro de si mesma. Não é reflexo de outro ser político. Cresceu entre as raízes, com a tez queimada no cristal dos raios do sol do Acre. A magreza que não aflige parece consumir a desesperança dos oprimidos desse animal de mil cabeças chamado Brasil.

Não sou político. Fui. Sou cidadão, eleitor, manifestando o livre pensar e sentir, respeitando e aceitando quem divergir. Democracia é assim mesmo. Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima nasceu em Rio Branco, lá no Acre. Integrou uma família de seringueiros. Nas palafitas, onde morava, cultuava mistérios e usava a memória para as longas viagens repetidas sem sonhar o destino que ia ver. Viveu noites de solidão num estado federativo nos confins da imaginação. Era tão longe que ninguém no Brasil lembrava. Contraiu hepatite confundida com malária. Passou pelo Mobral, emprego doméstico, foi professora e concluiu o doutorado em História pela Universidade Federal do Acre. Vereadora, deputada estadual, senadora e ministra. Quando descobriu-se doente, contaminada por metais pesados quando vivia no seringal, conseguiu atravessar o horto do novo padecimento. A flor amazônica expiou assim o sacrifício da sua dor pois era o caminho que haveria de percorrer.

Não critique a voz frágil que proveio da fortaleza do seu caráter. Olhem a mulher. Inteligente, experiente e isenta que tanto tem impressionado o país e o mundo, aos cinquenta e dois anos. Enquanto tantos disputam por Lula no palanque, até Serra, Marina, morena, Marina – por uma questão de princípio – permanece livre e isenta.

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