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Mário Barreto: “O turismo so RN está na UTI”

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SITUAÇÃO - Mário Barreto lamenta ação tardia do governo estadual

O sinal de alerta máximo está ligado no turismo do Rio Grande do Norte. Com a autoridade de quem tem uma ampla experiência no turismo, integra o Pólo da Via Costeira e dirige o hotel Vila do Mar, o empresário Mário Barreto destaca que o futuro do turismo potiguar é decrescente. Para essa triste previsão duas justificativas: o crescimento do sexo turismo e a falta de divulgação do destino Natal. Mário Barreto lamenta que só agora o Governo do Estado comece a se preocupar com o sexo turismo. “Qualquer pessoa normal sabe do sexo turismo em Natal. Mas só agora o Governo cria uma comissão para em 90 dias apresentar um plano”, comenta. Para ele, o momento de discussão, seminário, comissão já foi superado. Com o turismo na UTI, como Mário Barreto define, é preciso ações urgentes, medidas repressoras. Paralelamente, o empresário chama atenção para necessidade urgente de uma campanha publicitária do destino Natal. Ele lamenta a situação atual do turismo, que poderia ser uma “grande refinaria”, geradora de muito mais emprego, contribuindo com a autonomia econômica do Estado. Para Mário Barreto, o crescimento do turismo está sendo limitado pela falta de ações ou ainda os investimentos errados do Governo.

A entrevista que segue, é um verdadeiro desabafo de um empresário que enxerga o excelente produto (que é o turismo em Natal), mas lamenta o tratamento dedicado pelo Governo ao setor.

TRIBUNA – As ações de combate ao sexo turismo que partem agora do Governo chegam tarde demais?

Mário Barreto –  A  questão do sexo turismo é um problema de quatro anos. Me admiro muito o Governo criar uma comissão para daqui a 90 dias apresentar um plano de trabalho. Isso mostra cada vez mais que o Governo não tem uma política de combater o sexo turismo. Quer dizer, a atividade economicamente mais importante do Estado o Governo está cuidando dessa forma. Isso demonstra a importância do turismo para o Governo. Depois que saiu uma matéria na Rede Globo, o prefeito Carlos Eduardo negou a realidade, disse que desconhecia. Agora o Governo cria uma comissão para em 90 dias apresentar uma solução. Isso ele (o Governo) já deveria ter na ponta da língua. Natal tem esse problema, não precisa ser um az nem nada, qualquer pessoa normal sabe do problema.

O senhor teme pelo crescimento do turismo potiguar com esse aumento do sexo turismo?

MB – Ele (o turismo) já está comprometido. Isso que está acontecendo é o turismo do mal. Em Ponta Negra há o comprometimento. Você levar uma saraivada em uma semana em jornal a nível nacional, só isso aí já é um estrago muito grande. Este comprometimento já está acontecendo. Era preciso reações imediatas e eficazes do Governo, para combater, ou pelo menos reduzir o sexo turismo. Ninguém quer acabar com a prostituição porque essa é uma profissão milenar. Também não queremos criar uma ilha de puritanismo. O que não se pode é  deixar acontecer o que está ocorrendo. Em três dias mandamos de volta um sueco que foi mexer com uma menina. Tem que fazer isso mesmo. Se pegou um inglês que estava com uma menina de 11 anos de idade bebendo. Tem que pegar o inglês e deixar ele uma noite na prisão. Isso são ações efetivas.

E as idéias das autoridades de criar uma lei seca, instalar câmeras nas praias. São alternativas para solução do problema?

MB – Isso mostra que o Governo está perdido. Não tem uma política. Caberia ao Governo mostrar as normas e agir. Há três meses o Governo fez um seminário para discutir o assunto (sexo turismo). Tem é que criar ações. Estamos na UTI e precisamos de choque, não podemos deixar o turismo morrer.

Não seria exagero definir como UTI a atual situação do turismo?

MB – Nosso turismo com essa situação está na UTI. Isso é um caso grave. A resposta não é hoje, nem daqui a um mês. Daqui a seis meses teremos o impacto de tudo que está ocorrendo hoje. Tivemos uma propaganda negativa a nível nacional muito forte.

Qual a eficácia das ações governamentais já empreendidas?

MB – O Governo está jogando para platéia. Não adianta fazer um trabalho, tem que agir. Chamar. Em qualquer país de primeiro mundo, qualquer democracia, tem barreiras nas fronteiras. O guarda de fronteira dos Estados Unidos ou da Europa é menos categorizado, proporcionalmente em termos de salário, do que um agente da Polícia Federal no Brasil. Esse agente teria capacidade de identificar o turista que vem como sendo o turista do mal e barrar. Se barrasse dois, três turistas por vôo, reduziria e deixaria de ter essa onda. Na hora que deixa de ter o cliente, deixa de ter o mercado. O Governo teria que criar para essas moças, que hoje vêm do interior, alternativas como área de vendas.

Além da Polícia Federal, quais outras ações que poderiam ser criadas para combater o sexo turismo?

MB – Temos que entrar de imediato com uma campanha publicitária forte. O Governo hoje não pode alegar que não tem dinheiro para publicidade. Isso é a única coisa que não pode ser alegada. Acho que tinha que fazer campanha, estamos há quatro anos sem estar na mídia, nem nacional e nem internacional. Há quatro anos não há uma campanha para vender o destino. O Governo tem que fazer uma campanha enfocando o turismo família. Natal para criança. O turismo sexual vem muito boca a boca, como não tem a mídia, ele está dominando. Antigamente era o italiano, depois veio o sueco. Daqui a pouco o mercado do turismo sexual vai dominar. Natal não está na mídia, então ele (o turismo sexual) é ganho. O bolsão do turismo sexual está se alastrando e a clientela crescendo.

Ponta Negra seria a estampa do turismo sexual? A praia está segregada para essa atividade?

MB –  As famílias de Natal já não vão a Ponta Negra. O Governo investiu na praia, mas hoje a família já não vai lá. Com o destino turístico do sexo turismo essa praia poderá morrer para o turismo normal.

É saudável o turismo da classe C, D e E de europeus que chegam a Natal?

MB –  Os países europeus são socialistas, tem três classes, ricos que são poucos, pobres que são poucos e há uma classe média, uma classe consumidora, que é muito grande. O turismo está massificado. O turismo é feito de povo, tem que massificar e quem massifica é a classe média do mundo inteiro. O problema não está aí. O problema está porque o país, os governos, deixaram essa desorganização por não ter uma política para isso. O país carrega um estigma de impunidade. Uma prova disso são essas blitz que fazem em Natal, as pessoas chamam blitz do chinelo.

A situação do sexo turismo em Natal se diferencia das outras capitais do Nordeste?

MB – Acho que estamos num grande bolo. Mas algumas cidades escaparam. Maceió não entrou, umas conseguiram escapar. Recife já foi (sexo turismo) no passado. Esse (o de Recife) é um exemplo típico, lá o turismo morreu. Na época chegaram os alemães, deixaram que a coisa se transformasse. Temos que acabar é com a coisa do jeito que está. Do remédio ao veneno é uma questão de dosagem. Exageramos na dosagem.

E a idéia de criar “ilhas de sexo turismo” em Natal é viável?

MB – Nada disso. A maior coisa que se pode fazer no momento é um combate repressivo. E aí tem que ser principalmente em Ponta Negra. Palestras, fórum, seminário nada disso resolve. Todo mundo já sabe. O prefeito, o governador vai ao Ministério da Justiça. Eles (o Governo) alegam que não podem barrar, mas não expulsaram o sueco? Em qualquer país do mundo isso pode, é um direito de fronteira não permitir que uma pessoa venha praticar atos que não são condizentes com a lei do país.

Há pouco o senhor reclamou da falta de campanha publicitária, há uma desproporção nos investimentos em divulgação feitos pela iniciativa privada e pelos órgãos públicos?

MB – Há uma desproporção muito grande. O turismo do Estado, segundo a Embratur, deixou R$ 1 bilhão em 2005. Desse daí, a hotelaria ficou com 14,9%. O comércio está levando 34% desse setor. O turismo gasta com comércio, com alimentação, com lazer. O setor de hospedagem é o que menos fatura. Mas se você for analisar os gastos para captação e divulgação do turista a hotelaria é muito mais eficiente. Do gasto feito para divulgar o destino Natal 85% é realizado pela hotelaria. O Rio Grande do Norte tem vantagem por ter empresários que se dispõem a gastar. A função deveria que ser do Governo, mas aqui isso cabe muito mais ao empresário.

Mas e os investimentos feitos em propaganda pelo Governo do Estado. Ano passado foram R$ 10 milhões, segundo a Secretaria de Turismo?

MB –  O Governo não tem uma política, não tem um planejamento. As vezes joga dinheiro fora e apresenta números que nós não aceitamos. Agora está o nosso vice-governador que foi a feira de turismo em Gotemburg. Esse gasto o Governo alega como sendo para o turismo, mas será que é com o turismo do Estado ou com o turismo do vice-governador? Os números não batem. Todas as pessoas de outros segmentos faturam muito mais do que nós, que aparecemos porque gastamos muito mais.

Qual o mérito de captar os charters: é do órgão público ou do destino Natal?

MB – Primeiro que o produto é muito bom. Um produto tão abandonado, tão fora da mídia e que ainda continua sendo bem vendido é porque é bom produto. Segundo, volto a dizer, existe um trabalho de base que foi feito há muito tempo. E nesse trabalho, reconhecido nacionalmente, o empresariado local teve uma força muito grande. Tudo que acontece hoje, primeiro é por termos um bom produto e se deve também por um trabalho de força que o empresário fez. Há negociação de vôo que é feita exclusivamente pelo empresariado. Há muitos vôos que a gente conquista e o Governo não sabe nem do que se trata. O Governo investiu 100 mil dólares no vôo de Nova Iorque para Natal e nunca ocorreu. E deixou de investir em vôo que já existe e que, com uma pequena ajuda, pequena divulgação, poderia criar novos vôos.

Então o senhor diria que Governo não é bom investidor no turismo?

MB – Não é. O que o produto é, pela qualidade e pelo futuro descrescente que vejo, poderíamos estar com o turismo altamente ascendente. Poderíamos ter 80 vôos semanais charters para Natal. Poderíamos ter negócios mais rentáveis não só para hotelaria, mas para todo setor que envolve o turismo. O turismo poderia ser uma refinaria, gerando emprego e renda, como já é, mas poderia ser muito mais eficiente. Poderia dar uma autonomia ao Estado do Rio Grande do Norte.

Por que o senhor aponta como decrescente o futuro do nosso turismo?

MB – É pelo sexo turismo e pela divulgação errada que vem sendo feita pelo Governo. A pior coisa é ver que você já tinha o mercado e hoje não tem mais. Hoje o mercado português é menor do que já foi, o sueco é menor. O mercado inglês vai cancelar o vôo em abril e não tem perspectiva de retorno. Éramos para já ter o segundo vôo do mercado inglês e já com perspectiva do terceiro. O produto é excelente e ainda pode ser recuperado, mas se o Governo não definir uma política com ações concretas, teremos daqui a dois ou três anos o mercado perdido.

Estamos há mais de um mês sem secretário. Que tipo de conseqüência isso traz para o turismo?

MB – Até se disse que na escolha do Big Brother poderia ser feita a escolha do secretário. Eu torço pela Mariana, ela é bonitinha, para mim a candidata é Mariana do Big Brother.

Mas qual o perfil do secretário de turismo?

MB – Hoje o turismo é uma indústria, que movimenta milhões. Não adianta só ter um perfil do secretário, o Governo precisa ter um perfil de investir nessa atividade. Não se pode ter o melhor secretário do mundo, se o Governo não quiser aquilo. Temos que acabar com a era de dar o peixe ao povo. O turismo é a atividade mais forte para gerar emprego, para o povo sobreviver. Não podemos viver de feirinha. A Secretaria mais importante é a que dá esmolinha. A mais importante é a que gera emprego e renda. E essa secretaria não tem que ser instrumento para negociar com aliados. Criam secretaria para o povo viajar, ir para Europa. É mais barato para o Governo pagar uma excursão e mandar esse povo passear do que deixar uma secretaria só para isso.

O senhor quer dizer que a Secretaria de Turismo do Estado está sendo feita para excursões?

MB – A Secretaria de Turismo não tem nem secretário. Na realidade, está sendo usada para o vice-governador que foi para Europa. Ele foi fazer o que lá? Vai trazer quantos vôos?

Que representatividade tem os vôos charters no turismo potiguar?

MB – O charter é parte do segmento. Temos cinco vôos semanais que liga a Europa ao Nordeste, temos que tornar esses vôos mais turísticos. Estamos fazendo pesquisa para saber a procedência dessas pessoas e o que vai fazer. Isso o Governo ainda não sabe dizer. Uma empresa como a BRA, que já tem a licença e quer colocar o vôo regular para Europa, mas essas empresas cobram investimento de divulgação de Natal. O vôo charter é sazonal. Mas o vôo regular é um que temos que buscar cada vez mais. Esperamos agora que o vice-governador traga da sua viagem novos vôos.

O turismo potiguar estaria limitado ao cenário de praias?

MB – Todo destino turístico, seja ele qual for, a Disney, por exemplo, coloca um parque diferente. A França todo ano descobre algo novo. Nós temos de criar. Graças a Deus somos muito ricos, temos um interior que começa a ser procurado. Mas para que isso aconteça tem que ter infra-estrutura. E as nossas normas tem que ser de acordo com nossa realidade. A cidade de maior fluxo turístico do mundo é Paris. Se soltar a secretária da Semurb e a coordenadora da COVISA lá (em Paris) fecham todos os hotéis e restaurantes de Paris. Eles (hotéis e restaurantes de Paris) não resistiram a uma blitz que a Prefeitura de Natal fizesse lá. Mas se você for a qualquer monumento de Paris e precisar de um banheiro, você terá. Mas se for ao Forte dos Reis Magos não tem. Será que a Prefeitura que não dá o básico necessário pode exigir a níveis como estão exigindo? Hoje em dia é uma gama de hotéis e restaurantes embargados, inviabilizando negócios, que tem condições de funcionar, mas a gente não pode funcionar por causa de uma fiscalização. Nenhum hotel da França resistiria a uma fiscalização da Semurb. 

Esses órgãos citados pelo senhor (Covisa e Semurb) estariam na contra mão do turismo?

MB – Temos que ter normas condizentes com o que a gente tem. Não adianta você morar num apartamento pequeno e querer uma televisão de plasma. As exigências hoje em Natal estão muito além do que a cidade oferta. E isso limita muito o nosso turismo.

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