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Marketing nas ruas faz subir popularidade do Hezbollah

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Por Jamil Chade 

Damasco – Chaveiros, bonés, camisetas e mesmo canecas. Nas ruas do centro de Damasco ou no interior da Síria, lojas oferecem todos esses produtos com o emblema do grupo libanês Hezbollah. Nos murais e mesmo nos carros, cartazes e adesivos trazem imagens dos lideres do grupo do xeque Hassan Nasrallah e de mãos dadas com o presidente sírio, Bashar al-Assad. Pelo menos dentro da Síria, o grupo considerado como terrorista pelos Estados Unidos ganha o status de resistente contra Israel e o governo local sequer disfarça seu apoio.

Para especialistas, esse apelo popular do Hezbollah pode até mesmo ser uma ameaça futura aos objetivos do governo da Síria em manter sua influência sobre o Líbano. Alguns vão além e alertam que o próprio governo sírio pode, no futuro, ser questionado diante do poder do Hezbollah. “Aqui, o apoio ao Hezbollah é grande. Eles são os únicos que tem coragem de dizer não a Israel e enfrentá-los diretamente, afirmou Ahmed, dono de uma loja de lustres no centro antigo da capital síria. Entre uma lâmpada e outra, Ahmed colocou um pôster com a foto de Nasrallah na parede de sua loja. “Não sou xiita, como os líderes do Hezbollah. Mas admiro Nasrallah,” afirmou. Mostrar apoio ao Hezbollah é feito com absoluta naturalidade por comerciantes, garçons, profissionais liberais ou taxistas na Síria. Muitos colocam nas vitrines de seus restaurantes fotos com Nasrallah.

Em Alepo, no norte da Síria, uma loja de pôsteres vendia fotos ampliadas de Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Nasrallah. Nas ruas, alguns cartazes chegam a trazer fotos do presidente da Síria e do Hezbollah de mãos dadas, confirmando acusações do Ocidente de que Damasco estaria dando apoio grupo. “Muitas pessoas na Síria, Líbano, Jordânia e, claro na Palestina, apóiam o Hezbollah e o Hamas diante da frustração em relação ao fracasso de seus governos em enfrentar Israel,” explica o professor Khaled Hroub, do Centro de Estudos Islâmicos da Universidade de Cambridge. “A humilhação sofrida por governos árabes nos últimos anos diante de Israel é chave para entender esse apoio popular ao Hezbollah,” disse. “O Hezbollah pode ser o Partido de Deus, como diz seu próprio nome. Mas está se tornando cada vez mais um símbolo patriótico,” afirmou Hassan Saad, professor de espanhol, guia turístico e ateu em Alepo.

Outro fator é a estratégia do grupo de dar assistência social a famílias carentes não apenas no Líbano, mas também na Síria. Um dos brasileiros mais populares em toda a Síria, o jogador de futebol Fábio, confirma que o apoio é amplo ao grupo entre torcedores e jogadores. “Aqui as pessoas não vêem o Hezbollah como um grupo terrorista. Eles inclusive tem uma imagem positiva e ajudam com recursos algumas famílias que precisam de dinheiro para tratar problemas de saúde,” comentou o brasileiro, que joga pelo Al Karama e foi fundamental na conquista do título do campeonato sírio em 2007.

Mohamed Khouri, taxista, não hesita um só minuto em comentar a recente morte de um dos líderes do Hezbollah, Imad Mughniyeh, no centro de Damasco, como um “atentado para tentar conter o poder cada vez maior do grupo.” O líder assassinado teria sido responsável por alguns dos maiores atentados nos anos 80 e 90.

Para o Centro de Informações de Inteligência e Terrorismo de Israel – uma entidade não-governamental – não há dúvidas de que o Hezbollah precisa ser mantido como uma organização terrorista e que o governo sírio aprova as táticas de ataque do grupo.
De fato, o presidente sírio Bashar al-Assad rejeita a pressão americana para que pare de dar seu apoio ao Hezbollah e pôsteres começaram a ser colocado em todo o país com a foto do presidente Bashar e de Nasrallah. Mas já há quem alerte que o equilíbrio de forças entre Damasco e o Hezbollah começa a se tornar perigoso.

Segundo o especialista nas relações entre Síria e Estados Unidos da Universidade da Flórida, Robert Rabil, Damasco usou o Hezbollah por anos como instrumento para desestabilizar o Líbano e ainda lutar contra Israel. “A subserviência do Hezbollah à Damasco acabou. Não são mais apenas um parceiro menor”, disse. Para Rabil, a pressão internacional contra a Síria nos últimos meses está fazendo com que as relações entre o Hezbollah e o governo se tornem ainda mais “íntimas”.

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