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Mato Grande enfrenta nova seca

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SECA - Região do Mato Grande vive estiagem pelo segundo ano consecutivo

O mês de agosto historicamente marca o fim do período de chuvas no Litoral e Agreste do Rio Grande do Norte. Porém, para quem mora na região do Mato Grande, essa fase que se inicia promete ser algo bem pior que o primeiro mês sem chuvas. Setembro deve representar o agravamento de uma estiagem que já dura mais de dois anos. Em 2007, na fase em que se esperava muita água caindo dos céus, ela veio fraca, e mal distribuída. Agora o pessimismo toma conta dos agricultores.

“Tenho dez cabeças de gado e 30 de caprinos e ainda não perdi nenhuma, mas tá chegando cada vez mais perto disso acontecer”, teme o agricultor Edilson Gomes da Silva, 32 anos, do município de Parazinho, a 120 km de Natal. Na cidade, a Emparn registra apenas 341 milímetros de chuvas acumuladas no ano, o que representa, por exemplo, cinco vezes menos do que em Canguaretama e quatro vezes menos que na capital.

Assim como Parazinho, outros 53 municípios potiguares já declararam situação de emergência. O resultado é agravado na região pelo fato de o Mato Grande ter vivido um mau inverno também em 2006. “Nos últimos anos a plantação só deu prejuízo para nós, foram dois invernos ruins”, confirma Edilson Gomes. Atualmente, a casa dele é abastecida por carros-pipa, mas a água só é suficiente para consumo humano. Para matar a sede dos animais, ele tem de ir diariamente à zona urbana, onde coleta água em um poço para as necessidades domésticas.

Já Luiz Gonzaga Neto, de 45 anos, não suportou a sucessão de estiagens. “Já criei gado, bodes e cabras, mas vendi tudo. Não agüentava mais ver os bichos passando fome”, relembra. Hoje, contudo, ele ainda sofre devido à situação da lavoura e dos vizinhos que contam com criação em sua propriedade. “Nem capim adianta plantar, porque se plantar morre. No caminho que vai, certamente vão começar a aparecer os bichos mortos até o final do ano”, lamenta.

Segundo ele, a esperança que resta aos agricultores é colocar o rebanho dentro do que restou dos roçados, que afinal não produziram completamente nada. “Vamos escapando como podemos, mas não sei até quando?”, se pergunta Luiz Gonzaga. Os animais próximos à sua propriedade estão sobrevivendo às custas de palha de milho, mas já se apresentam bastante magros, enquanto a vegetação perde os últimos resquícios de folhas, restando uma massa cinzenta de galhos secos. 

Para o agricultor, situação como essa somente foi vivida há mais de duas décadas, em uma seca que ficou famosa em todo o Nordeste. “Em 2005 já foi fraco. Ano passado e este não choveu. Só uma vez lembro de algo parecido, no ano de 1983”, recorda.

Colheita perdeu-se por falta de chuva

Mesmo em municípios onde a estiagem não foi tão intensa, o temor com os próximos meses é grande. “Agora vai ser seca para valer”, acredita o secretário de Agricultura de Bento Fernandes, Zunildo Lins de Albuquerque. Na cidade, a colheita de feijão e milho foi “próxima de zero” e  muitos agricultores nem mesmo conseguiram devolver ainda ao banco de sementes a quantidade tomada emprestada.

“Estamos entrando em contato com muitos que ainda precisam pagar as sementes, mas também precisamos resolver a questão da inadimplência de alguns com o Pronaf, que está dificultando o acesso dos outros a novos empréstimos, o Banco do Nordeste fechou as linhas de crédito para nós”, revela o secretário. Em Bento Fernandes, muitos agricultores chegaram a plantar três vezes. Após um início de inverno promissor, ainda em fevereiro, as chuvas cessaram e prejudicaram totalmente o primeiro e segundo plantio. Do terceiro, iniciado por volta de maio, só 30% a 40% foi colhido.

A cidade é abastecida pelas adutoras de Riachuelo e Pureza, mas já conta com três carros-pipas para ajudar nesse abastecimento, sendo dois do Governo Federal. Os reservatórios estão completamente vazios, como o açude Barreta, onde já há mais espaço ocupado por terra seca do que por água.

Barragem de Poço Branco está seca

Maior reservatório do Mato Grande, a barragem de Poço Branco é uma imagem clara do mau inverno vivido na região. Com apenas 8% de seu volume, o quarto maior reservatório do Rio Grande do Norte ainda não recuperou a água perdida há dois anos, quando da abertura de suas comportas. “Tem pescador brigando com outro, rede por cima de rede, gente roubando os covos (armadilhas de pesca), tudo porque falta espaço, já que a barragem está quase vazia”, revela o presidente da Colônia de Pescadores, Laércio Rosendo.

Ao todo, 220 famílias do município dependem diretamente da atividade, mas estão prejudicadas pela falta de chuvas e de planejamento dos órgãos federais. “Quando o Dnocs foi abrir as comportas, falava em deixar 65% do volume, mas eles sabiam e nós avisamos que não conseguiriam fechar até ela secar. Se não tivessem feito uma secadeira (barreira ao redor das comportas) teria ficado só a lama, mas restou 5%”, aponta. Para complicar, o Seguro Defeso de 2006 não foi pago e os pescadores entraram na Justiça.

Apesar disso, a confiança em melhores dias não acaba. “Espero que pro ano (2008) a gente possa pescar de novo uns 100 kg de camarão por semana como antes, porque hoje não se passa de 50”, diz Tamires Pinheiro da Silva, de 48 anos. Ele confirma o clima de disputa dentro da categoria, devido à falta de espaço para a pesca. “Tínhamos uns 400 metros de rede que tá toda ‘torada’”, aponta. 

Em Poço Branco o acumulado de chuvas já atingiu 560 mm, mas o secretário de Ação Social, Williams Gomes, afirma que isso não é suficiente. “Para encher, ela depende de chuvas na região de Lajes, onde o rio Ceará-Mirim nasce, mas também não choveu por lá”, explica. Enquanto o reservatório não volta a “tomar água”, a população da cidade, 13 mil habitantes, vem sobrevivendo graças à ajuda de programas sociais como o Bolsa Família.

Bate papo

Genival de Melo Martins – Prefeito de Parazinho

Qual a atual situação do município em termos de chuvas?

Este ano não houve inverno. Estamos em Estado de Emergência, sendo renovado desde abril. Contamos com dois carros-pipa do Exército e um da prefeitura para abastecer a zona rural, mas a situação tende a se agravar, pois não temos barragem nenhuma no município, já que nosso solo é calcário e, quando chove, a água vai embora.

E como está a produção agrícola?

Zero. Onde ainda tem irrigação, com água de poços, dá para colher algo, mas temos região onde não tem água mesmo e nessas áreas a agricultura fica ao Deus-dará.

O que é preciso se fazer para melhorar a situação?

Principalmente o Governo Federal olhar com mais atenção para regiões mais pobres, como a nossa. Realmente não é fácil administrar um município só com o Fundo de Participação e custear, como custeamos, todos os poços de assentamentos. O Governo Federal coloca o homem no assentamento e esquece dele. Sem chuvas piora. Gastamos este ano quase 50 mil reais em corte de terra e perdemos tudo.  

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