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Matt Dillon fala de Lars Von Trier e de ‘A Casa que Jack Construiu’

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AE – Para quem acompanha há muito tempo o trabalho de Lars von Trier – mas só encontra o diretor presencialmente em festivais como Cannes, às vezes com dois, três anos de distância -, foi chocante revê-lo, em maio, na Croisette. Von Trier foi readmitido no evento na França depois de ser banido por um tempo por declarações consideradas ‘nazistas’. Voltou devastado, fisicamente. A depressão violenta o obriga a tomar medicamentos cujos efeitos nocivos precisam ser combatidos com outros medicamentos. Os gestos estão lentos, a fala, claudicante. “Mas não se iluda, ele está com a cabeça a mil. Com todo esse handicap que poderia ser paralisante, no set ele se entusiasma, vira outra coisa, muito mais ativo.”
Matt Dillon vive assassino em série do filme de Lars Von Trier
Matt Dillon vive assassino em série no novo filme de Lars Von Trier, A Casa que o Jack Construiu, em temporada no Cinépolis
Matt Dillon já havia interpretado um assassino frio – no remake de Amor, Prelúdio de Morte, de Gerd Oswald, que James Dearden dirigiu em 1981 -, mas um serial killer como o de A Casa Que Jack Construiu é inédito, e não apenas de sua carreira. Dillon não banca o mascarado quando explica – “Eu mesmo fiquei em dúvida quando ele me propôs o papel. Perguntei por que me queria? Ele disse que precisava de um ator bonito e que fosse confiável para os espectadores. Embarquei na viagem. Quando lhe perguntei como iria interpretar Jack, ele repetia, como se fosse um mantra – confie em mim. Foi o que fiz.” Ao ator, o cineasta dinamarquês, um dos autores mais polêmicos do mundo, pediu confiança. Ao repórter, na entrevista que concedeu, também em Cannes, Lars von Trier também explicou o porquê do seu serial killer.
“Era um tema que vinha me assombrando há muito tempo. Tenho essa relação de amor e ódio com a ‘América’, e não é de agora. E é claro que ela se acentuou. Os EUA viraram o território perfeito para abrigar o mal que toma conta deste mundo cada vez mais ‘souless’, sem alma. O advento do Homus Trumpus fez deste mundo, e da América, uma coisa muito pior.” Desde a sua première em Cannes, fora de concurso, A Casa Que Jack Construiu – e é uma casa macabra, como você vai ver, olha o spoiler, no final – tem provocado polêmica e dividido a crítica. Outra coisa não se espera de Von Trier. Tem gente que acha A Casa de Jack seu pior filme, outros, o melhor em anos. Em maio, Dillon foi sincero – “Ainda não tenho distanciamento para avaliar o filme nem o personagem. Só posso dizer que Lars é o oposto do sujeito arrogante e autoritário que muitos de seus filmes talvez sugiram. É um dos diretores mais doces com quem trabalhei.”
E olhem que Dillon, de 54 anos, tem interpretado em filmes e séries desde muito jovem, em 1979. Só com Francis Ford Coppola foram dois filmes – Vidas sem Rumo e O Selvagem da Motocicleta. Outros dois com Gus Van Sant – Drugstore Cowboy e Um Sonho sem Limites. Fez rir com os irmãos Farrelly (Quem Vai Ficar com Mary?) e com Frank Oz (Será Que Ele É?). Na TV, participou de Modern Family e Wayward Pines, além de ter dado voz a Louie em The Simpsons. Dillon não se furta a fazer comparações. “Lars é doce, mas não foi um set fácil, com tantas cenas brutais. Diverti-me muito mais com os Farrelly. Coppola eu conheci muito jovem, quando não tinha experiência nenhuma. Só estar num set dele… Meu Deus! Faria não importa o quê.” De volta à Casa de Jack, Dillon disse que entendia as reações divididas em Cannes. “Lars sempre provoca reações apaixonadas, e no caso desse filme mais ainda. Seria muito estranho, se fosse unanimemente apreciado.”
Von Trier disse à reportagem que entendia mais de psicopatas do que de serial killers. Brincou – “Nunca matei ninguém, o que significa que todo esse filme é uma imensa fantasia. Se matasse, talvez fosse algum jornalista.” E Dillon, sobre o fato de a violência gráfica do filme ser dirigida principalmente contra mulheres – “Quer provocação maior, em plena fase de empoderamento feminino? Jack mata homens, ele conta, só não vemos com tantos detalhes.” Na trama que segue, por rupturas, o protagonista ao longo de 12 anos, Jack lembra seus crimes (mais) emblemáticos. Ele os descreve para Verge, o enigmático personagem de Bruno Ganz. Após cinco partes, ainda vem um epílogo – o inferno. “Lars gostava de contar que, mais que outros filmes de serial killer, sua fonte de inspiração foi a literatura de Patricia Highsmith. Aquela sabia matar.” Bem entendido que, nos livros e filmes neles baseados.
Von Trier não foge à psicologização da violência de Jack – o episódio da infância -, mas Dillon observa. “Acho que tem ali um humor perverso, uma certa ridicularização. É isso, mas não só isso.” Dillon não fugiu nem mesmo à questão mais embaraçosa de todas. Considerando-se que Jack está presente em cena o tempo todo, e na maioria delas matando com requintes de crueldade, o filme não faz dele um assassino carismático como o Hannibal Lecter de O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme. “Estamos falando de uma “Oscar winning performance”. E não é só a questão da interpretação. O mundo mudou muito nesses quase 30 anos (O Silêncio é de 1991). Tem havido uma banalização cada vez maior da violência, na arte como na vida. Lars não queria glamourizar. Falam mal dele, mas, como homem e artista, é responsável. Provoca, e agride, mas para tudo há um limite.” Um último tema, a direção. Há tempos Dillon trabalha com um amigo músico num documentário sobre música cubana. O filme vai narrar a jornada deles através da música da ilha. “É muito íntimo e excitante, e por isso tem exigido tanto. Não creio que vá querer dirigir outra coisa.”
As informações são da agência Estado.
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