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Medicina e literatura (3)

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Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN

Este é o terceiro texto seguido que escrevo sob esse mesmo título. Pensei em escrever mais dois textos dentro do mesmo tema, mas desisti, pois essa opção poderia cansar alguns leitores. A trilogia visa apenas fixar os vínculos mais visíveis entre a medicina e a literatura. Na crônica anterior, ao final, citei cinco obras de ficção, de escritores não médicos que usam a prática médica, ou melhor, a luta contra as doenças e a busca pela saúde, como cenário dos seus enredos e das suas reflexões. Das cinco obras, escolhi duas para comentar, de passagem: a primeira, A montanha mágica, lançada em 1924, do escritor Thomas Mann (1875-1955), e a segunda, de nome Nêmesis, edição de 2010, do escritor contemporâneo Philip Roth.

No século XIX e na metade do século passado, a tuberculose pulmonar ceifava muitas vidas, quando ainda não havia antibióticos. A doença era tratada em sanatórios, de preferência localizados em regiões altas, de climas tidos como saudáveis. Em geral, a duração da internação era longa e incerta, pois o tratamento se apoiava em oferecer ao doente apenas o ar rarefeito e puro, boa alimentação e repouso forçado. O livro A montanha mágica detém-se sobre a tuberculose pulmonar, e a figura central do romance é Hans Castorp, jovem engenheiro alemão. A obra aborda a vida dentro do Sanatório Berghof, situado nos Alpes Suíços, ao lado da pequena cidade Davos-Platz, em época que antecede a primeira guerra mundial. Hans Castorp fora ao Berghof para visitar o primo Joachin Ziemsser, com intuito de permanecer somente três semanas, mas, devido a surpresas na sua saúde, por lá ficou durante sete anos.

O grande escritor Thomas Mann, Nobel de Literatura de 1929, tem forte ligação com o Brasil, porquanto sua mãe, Júlia da Silva Bruhns (1851-1923), nasceu em Paraty, no litoral do Rio de Janeiro. Aos cinco anos, Júlia ficou órfã de mãe, quando foi levada pelo pai para o norte da Alemanha. Aos 18 anos, casou com o senador vitalício na cidade de Lübeck, Thomas Johann H. Mann, pai de Thomas Mann. A família Mann, que descende de uma brasileira, tem vários integrantes que se destacam no mundo das letras e das artes, a exemplo do famoso escritor Heinrich Mann, irmão de Thomas. Com mais de 800 páginas, A montanha mágica deve ser lida sem pressa, para que seja possível sentir o quanto o autor mergulha no mistério da condição humana, sob o ponto de vista do realismo, e, ao mesmo tempo, pelo realce das fraquezas, ambivalências e dubiedades que dominam as vidas naquele grupo multicultural, no âmbito do Sanatório Berghof.

A outra obra que escolhi para servir de exemplo na relação entre medicina e literatura reporta-se à poliomielite, e o livro, que trata do horror que ela causou, chama-se Nêmesis, do escritor norte-americano Philip Roth. Lançado em 2010/11, Nêmesis é uma obra curta e magistral, que gira em torno de uma epidemia de pólio que ocorreu na cidade Newark, US, no ano de 1944.  No meio do flagelo, sobressaem-se uma escola local e um jovem professor de educação física, Bucky Cantor, que, por ter sido também vítima da doença, sente-se culpado ao ver a pólio se alastrar entre seus alunos. No caso, um processo cósmico – a epidemia de pólio – levou à tragédia pessoal de Bucky Cantor.

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