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Memorando

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Vicente Serejo
Escrevo nesta terça-feira sem graça e com esta alma vadia, para confessar que é um pobre engano pensar que o confinamento descansa. Se fosse assim, tão simples, os prisioneiros seriam felizes. E não são. A liberdade faz parte da carne e do espírito. É intrínseca. Não foi em vão que o romeno Emil Cioran, o grande e genial filósofo do ceticismo, avisou ao mundo que os prisioneiros eram mais felizes do que os carcereiros, porque estes, sequer, poderiam sonhar com a liberdade. 
Sou do tempo da bela utopia de Marshall McLuhan, quando profetizou que a comunicação traria as extensões do homem num livro que se tornaria clássico. São, sim, muito mais agora que nos põe o mundo inteiro nas mãos, no contato simultâneo e ao vivo. Só errou quando imaginou que a vida seria possível sem o calor humano do encontro pessoal, do abraço que enlaça, do beijo que enternece. Ou que seriam substituídos pelas transmissões, via satélite, dos signos e palavras.  
O longo confinamento revelou o contrário do que a tecnologia promete oferecer.  Há oito ou nove meses andamos no quadrado de nossas casas, grandes ou pequenas, humildes ou luxuosas, e bastou que os controles contra a expansão do vírus fossem relaxados, o mundo viu as explosões que brotaram com toda força no chamado peito varonil. Dos vilarejos mais pobres às metrópoles, a razão é simples e universalmente a mesma: o homem, antropologicamente, é o mesmo. Sempre. 
Nem precisa ir tão longe, às teorias tão complexas. O exemplo é nosso vizinho. Quando Câmara Cascudo escolheu estudar os hábitos, costumes e tradições do homem comum, sabia que revelaria os quadrantes do homem universal. Lembre-se que em 1969, ao chegar no chão inóspito da lua, duas superstições seguiam com os astronautas, no módulo lunar: escolheram a cratera que chamaram de Mar da Tranquilidade e Armstrong usou primeiro o pé direito para pisar na lua.  
Estavam figurados ali, humanos e universais, o medo e a superstição do desconhecido. O homem ancestral procurou abrigo nas cavernas – seria perigoso adormecer embalado pelo sono do seu cansaço de coletor e caçador, se antes de dormir não cuidasse de se protegesse do perigo de bichos que ele sabia serem devoradores. No homem, nada é mais antigo do ele mesmo, na coragem e no medo do seu forte instinto de sobrevivência que baila entre o estômago, o cérebro e o sexo. 
Estamos cansados da prisão. Exaustos dos passos nos mesmos salões, quer no chão batido dos barracos que se acocoram e se equilibram no alto das favelas ou no chão forrado do ladrilho das mansões. Não importa. O homem é um só. Ao cobrir-se com a pele dos animais que abatia para matar a fome, ou com o manto sagrado e luxuoso de rei ou imperador. Rico ou pobre, na vida ou na morte; na glória ou na miséria; no medo, na coragem, no riso, no pranto, na ira, no amor… 
RISCO – A prática começa a mostrar que a sofreguidão de Cláudia Regina, ao imaginar derrotar a prefeita Rosalba Ciarlini, pode deixá-la fora da campanha se cair numa inelegibilidade jurídica.
EFEITO – Com vários processos que só a Justiça dirá se são justos ou injustos, deixa de contribuir para a luta contra Rosalba e ainda se expõe a uma derrota no tapetão. A política tem seus mistérios.  
TRADE – Para Itamar Azevedo: você tem toda razão e é o que esta coluna tem avisado. O turismo do Rio Grande do Norte, do ponto de vista oficial, está posto à sua própria sorte. E o tempo dirá. 
POSSO! – Já está em pré-venda, na Amazon, o livro de Paulo de Paula – “Eu sou. Eu posso!”, edição ‘Gente’, São Paulo. E com uma apresentação consagradora da publisher Rosely Boschini.  
FÉ – Frei Beto, sempre atencioso, desde quando o apresentei aqui em Natal, remete a nova edição do livro “Sobre a fé e a esperança”, que reúne ele, Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão. Da Agir. 
COVID – O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta já está entre os mais vendidos, da Amazon, com o seu livro: “Um Paciente Chamado Brasil”. Contando a luta contra o Coronavírus. Só em e-book. 
MUSA – Os muito jovens, de almas ainda novas e tenras, nem sentiram a morte de Juliette Gréco, a cantora francesa. A musa do existencialismo, naquela Paris sensual e inquieta dos anos sessenta. 
RETRATO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, vendo o PT do alto do seu posto de anônimo observador da cena política: “Esse PT daqui, que tira dos fracos, é o PT dos injustos”.
PM – Não é criminosa a ideia de desmilitarização da PM. Há modelos assim. A forma de expressão do coronel é, como sempre, deselegante. Mas, ele tem razão: seria um erro. Como é errado militar ser político sem exonerar-se. Como cumpriu o então juiz Sérgio Moro, para ser ministro da Justiça.  
USO – Se for de uma força militar de carreira, qualquer, não só da Polícia, e demonstrar liderança, que exerça na plenitude. Mas, usar o corporativismo sem exonerar-se, depõe contra. A PM é uma necessária força de Estado que exige, como em tudo na ação, porta-vozes serenos e independentes.
APRENDA – Da antropóloga e colunista da Folha de S. Paulo, Mirian Goldenberg, dica que serve aos jovens jornalistas, e se nos velhos não tem mais jeito: “Aprender a arte de fazer boas perguntas é o melhor caminho para se enxergar, compreender e solucionar os problemas das nossas vidas”.
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