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Menino que driblava

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Rubens Lemos Filho
Quando havia jogo das categorias de base, dos juvenis, simples assim, juvenis, na segunda metade da década de 1980, saía de minha casa ao Estádio Juvenal Lamartine para ver Gilmar de Oliveira Souza jogar. O moleque era craque, morava no bairro Mirassol, Zona Sul de Natal e parecia uma cópia do magricela Bebeto, surgindo como titular no Flamengo. 
Gilmar driblava, Gilmar encantava. O elástico, aquela finta que Rivelino usava, a bola colada ao pé seguida de um toque enganoso em direção ao marcador, bola voltando obediente ao pé do craque, Gilmar fazia brincando. Aos 15 anos, era, quem sabe, a maior promessa do Alecrim Futebol Clube. 
Jogando com um canhoto de Mirassol, Henrique Freitas, excepcional mas que preferia jogar vôlei, Gilmar virava atração pelas circunvizinhanças do Mirassol, de Potilândia, de Cidade Jardim, de Candelária, bairros que formavam ótimos times e forneciam matéria-prima para Alecrim(sempre à frente em campeonato de garoto), ABC e América. 
Quem via Gilmar jogar, profetizava: aí está o futuro Bebeto Potiguar, o cara que vai honrar o futebol do Rio Grande do Norte pela habilidade de gafieira sobre  os marcadores. Brilhava em intensidade proporcional nos Jogos Escolares, atuando pelo Colégio Marista, ele, o único com jeito e feitiço de craque.
 
Deu um drible no lateral-esquerdo do Salesiano na semifinal de 1984(Salesiano 3×0), que o pobre rapaz deslizou pela pista de atletismo do campo do Marista, enquanto técnicos, professores de educação física reagiam boquiabertos e os torcedores iguais a mim, vibravam, afinal havia alguém fazendo o que de mais bonito víamos nos ídolos locais e nacionais. 
Impressionado com a categoria do sobrinho, o senador Carlos Alberto de Souza – falecido de câncer em 1998 – , conseguiu para Gilmar um estágio no Vasco da Gama. Caseiro, Gilmar foi ficando em sua terra e permitindo agressões à natureza de sua arte. 
Primeiro, recuaram Gilmar para segundo homem de meio-campo, chamado à época de meia-armador. Ficava tolhida a velocidade progressiva do prodígio, obrigado a, além de fazer lançamentos longos, dar combate ao criativo do outro time. Era um atentado ao futebol baseado no balé do drible. 
Tímido, Gilmar se deixou levar pelos olhos caolhos de quem o comandava até se tornar um burocrata por ordens superiores. Quem o viu nos profissionais do Alecrim, do ABC e do América, vestindo a camisa 5, sequer tinha ideia do espetáculo que aquele combativo desperdiçado oferecia com a bola grudada ao seu pé direito. Tristes tempos de seleção brasileira com brucutus do tipo de Elzo, Alemão, Jandir, Ademir do Cruzeiro e China do Grêmio. 
Gilmar era chamado de Pato. Suas pernas tinham aquele formato de relógio de parede às 13:50, pés de “dez pras duas”, que em nada atrapalhavam sua criatividade mágica de sentar aos toques magistrais, os que se atreviam ao combate homem a homem. Gilmar era estrela das peladas de bairro e operário atuando quando valiam pontos ganhos. Um desperdício. 
O maior símbolo do futebol de salão do Rio Grande do Norte, Artur Ferreira de Melo Júnior, o hoje octogenário Arthurzinho, foi seduzido por Gilmar e quis leva-lo ao timaço de quadra onde já brilhavam Sílvio, Agamenon, Franklin e Marquinhos com Sérgio Boinho no gol. Gilmar, encabulado, sumiu para não dizer não. 
Mesmo com a eliminação  do ABC ontem -1×2 para o Retrô(PE) na  Copa São Paulo de Futebol-Sub-20, a Copinha, Gilmar já terá entrado para a história pelo belo trabalho que fez o alvinegro se classificar pela primeira vez à segunda fase em primeiro lugar, ganhando e convencendo pelo bom nível do futebol. Gilmar hoje orienta a criançada, virou técnico.
Sabe ele, retraído e de sorriso miúdo, gente fina, que o material ao seu dispor jamais chegará a um terço do que ele foi, quando saía de casa, par de tênis ou modestas chuteiras debaixo do braço, rumo ao ancestral templo do Juvenal Lamartine ou a campos de terra em comunidades distantes, no papel (ou na missão), de fazer sorrir quem só dispunha do futebol como divertimento. Gilmar tinha tudo para ser mais. Impediram. Ele foi ensinar quem não sabe metade. Gilmar, menino que driblava. 
Assu 
A Folha de São Paulo dedicou meia página ao time do Assu, saco de pancadas na Copinha Sub-20. As dificuldades materiais e as diferenças diante das potências do Sudeste. 
Campeonato 
Pela última rodada, o América respirou e o ABC, deslanchou. 
Matheus Matias 
O atacante Matheus Matias, revelado pelo ABC, é o maior abacaxi do Corinthians, que deseja se livrar dele, mas ninguém quer o mancebo. Matheus botou banca para voltar ao alvinegro.  Fez bem o diretor Gustavo Cartaxo em dar um sacode verbal no seu empresário. 
Blefe ou talento 
Na altura do campeonato da vida, a dúvida é saber se Matheus Matias continua sendo uma esperança de craque ou foi um blefe, daquelas febres fortes que quando somem, esfriam cabeças e análises. Só falta ele sair para o Corinthians se livrar  dos indesejáveis. 
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