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Mercado editorial: fantasma a assombrar

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Maria Fernanda Rodrigues

O mercado editorial começava a respirar (não se recuperar), depois de uma sequência de anos em queda livre, e a se acomodar, apesar da crise (ainda em curso) das redes Saraiva e Cultura, quando o coronavírus surgiu para colocar em xeque sua capacidade de resiliência. Embora alguns editores sejam mais esperançosos, acreditando que as pessoas vão aproveitar o tempo em casa para ler mais ou ouvir livros, a conclusão é unânime: o impacto será devastador. Com as livrarias físicas fechando as portas para brecar a disseminação do coronavírus, a alternativa é apostar na venda online ou na venda do livro digital. Mas a grande maioria das livrarias brasileiras não possui serviço de e-commerce.

Pensando nisso, a Companhia das Letras está se oferecendo para fazer essa logística. “Para contribuir com esse momento extremamente delicado, para as pequenas livrarias, estamos propondo realizar a entrega dos pedidos para quem não possui esse tipo de serviço”, conta o CEO Luiz Schwarcz. Vale apenas para os livros do grupo, claro.

Com relação aos e-books, editoras como a Oficina Raquel estão correndo para ampliar o catálogo e já há quem cogite lançar, pelos menos por ora, os livros apenas na versão digital, caso da Autêntica para os lançamentos de abril e maio, já que a venda nas livrarias físicas, como explica Mauro Palermo, diretor da Globo Livros, é a principal fonte de receita para as editoras. Ou então não lançar nada. É o mercado editorial, e o mundo, em compasso de espera e lutando contra um inesperado, e invisível, inimigo.

Palermo acredita que haverá uma migração para as lojas virtuais. Sônia Jardim, presidente do Grupo Record também. Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Planeta, é um pouco mais realista. “Embora o e-commerce no Brasil tenha uma ótima performance, presume-se que num cenário em que as pessoas estão precisando garantir alimentos e outros itens básicos de sobrevivência não teremos vendas muito significativas também online”, diz.

Presidente da Associação Nacional de Livrarias, que representa as independentes, Bernardo Gurbanov tem certeza de que a pandemia já aprofundou a crise do setor. Um setor que, em suas palavras, “mais do que nunca, precisará aliar a sua habitual criatividade às medidas fiscais, jurídicas, sociais e de ordem econômico-financeiro que o governo federal, os estaduais e os municipais possam continuar implementando para superar este inédito obstáculo e poder recompor o capital de giro, elemento fundamental para a sobrevida da empresas”.

Samuel Seibel, presidente da Livraria da Vila, também está assustado. “Nunca vivemos algo sequer parecido com o que o Brasil e o mundo estão enfrentando neste momento. O fechamento das lojas vai muito além do prejuízo financeiro, a parte mais óbvia dessa inevitável decisão geral”, disse – e ele concorda que essa foi a melhor solução no momento. Enquanto for possível garantir a segurança e o bem-estar dos funcionários, a Vila atenderá pelo telefone e pelo site.  No Rio, a Livraria Da Vinci também está com as portas fechadas, mas atendendo online e por telefone. “Se tiver que fechar totalmente, sem operar sequer a venda online e sem entrega no Rio? Aí não teremos nenhum faturamento e só restará esperar”, diz o proprietário Daniel Louzada. Segundo ele, as perdas já existem e aumentarão.

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