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Meteorologia alerta para El Niño e ameaça de seca

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Pela primeira vez desde a temporada 1997-1998, o fenômeno climático conhecido como “El Niño” deve se manifestar com intensidade capaz de alterar o clima em escala global, provocando secas no sertão nordestino e enchentes no sul brasileiro. Essa possibilidade foi levantada pelo meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Expedito Rebello. As imagens de satélites e sondas marítimas mostram que El Niño está em formação no Pacífico Sul desde agosto. “A temperatura da água, a cem metros da superfície, está de três a quatro graus centígrados acima do normal”, disse Rebello. Em entrevista à Agência Folha, ele lembra que a tendência é que as águas aquecidas no fundo subam até a superfície.

“Em 1997 e 1998, as águas superficiais do oceano Pacífico ficaram cerca de quatro graus Celsius acima da média, causando um dos El Niños mais devastadores do século 20. Nessa temporada, houve seca na Amazônia e tempestades na Costa Oeste dos Estados Unidos. De 1999 ao ano passado, a temperatura das águas não subiu mais que 1,5 graus”, lembrou o meteorologista.

Em 1998, sob influência de El Niño, o Rio Grande do Norte teve um volume médio de chuvas de apenas 292,6 milímetros, o quarto pior desde 1962, segundo estatísticas da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn). A média histórica, neste período, foi de 682,6 milímetros. O pior índice da série foi em 1993, quando a seca quase dizima a bacia leiteira. Naquele ano, o volume pluviométrico foi de 230 milímetros no semi-árido potiguar.

De acordo com Expedito Rebello, o Norte do Nordeste brasileiro, que inclui a Paraíba, o Rio Grande do Norte e o Ceará, deve sofrer mais com a seca e o Sul do país terá mais chuvas do que a média. “Em agosto, vimos que choveu mais no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e que as frentes frias ficaram estacionadas na região. Essas são características do El Niño”, destacou o meteorologista.

O coordenador do grupo operacional de previsões climáticas do Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), um departamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Hélio Camargo, acha que é cedo para dizer se o fenômeno climático terá mais força em 2007, quando ocorre a quadra chuvosa no Nordeste. “É precoce dizer que El Niño será mais severo. Temos que esperar”, disse Camargo.

O meteorologista Uélinton Pinheiro, da Emparn, concorda com Hélio Camargo. Ele confirmou ontem o processo de aquecimento das águas do pacífico, mas enfatizou que isso não significa dizer que possa necessariamente se transformar em El Niño. “Ainda é muito cedo para se falar em seca no semi-árido. É preciso acompanhar a evolução da temperatura da superfície do Pacífico nos próximos meses.”

Uélinton informou ainda que a Emparn está concluindo o estudo sobre a estação chuvosa no Rio Grande do Norte em 2006. “De maneira geral, podemos dizer que o inverno ficou, em média, 30% acima do normal na mesorregião que inclui o Oeste, o Alto Oeste e a região Central; e abaixo do normal no Agreste e Faixa Litorânea, destacando que no Agreste houve um déficit de chuvas de 35%”.

Municípios renovam emergência

Com um déficit de chuvas que chega a 35% no Agreste, pelo menos onzemunicípios do Rio Grande do Norte já renovaram os decretos de situação de emergência e agora esperam ajuda do governo do Estado e do Ministério da Integração Nacional para assegurar o abastecimento especialmente nas comunidades rurais, onde não chegam os ramais da adutoras.

O primeiro formalizar o decreto foi São Paulo do Potengi, onde choveu apenas 368,9 milímetros segundo dados em fase de consolidação da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte.

No decreto, o prefeito Leonardo Cassimiro de Araújo lembra que a administração não tem condições de arcar sozinha com os custos das medidas emergenciais para minimizar a situação nas comunidades rurais.  A possibilidade de 2007 ser um ano de seca preocupa os prefeitos dos 33 municípios do Agreste. Os principais reservatórios da região tomou pouca água na estação chuvosa deste ano. No Rio Grande do Norte, dos 46 açudes e barragens monitorados pela Secretaria Estadual de Recursos Hídricos dez deles estão com metade da capacidade de armazenamento. Na barragem de Poço Branco, com capacidade para 57 milhões de metros cúbicos, o volume é de apenas 8%. O Açude Inharé (em Santa Cruz), está com 58%, o Trairi (também em Santa Cruz) com 48% e o Jáapi 2, em São José de Campestre com apenas 33%.

O que é El Niño?

El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no oceano Pacífico Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padrões de vento em nível mundial, e afetando assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias. A palavra El Niño é derivada do espanhol, e refere-se a presença de águas quentes que todos os anos aparecem na costa norte de Peru na época de Natal. Os pescadores do Peru e Equador chamaram a esta presença de águas mais quentes de Corriente de El Niño em referência ao Niño Jesus ou Menino Jesus.

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