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Meu Papai Noel

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Alex Medeiros 
Eu lembro muito bem que nas noites natalinas do começo dos anos 1960 a temperatura da pequena Natal, ali nos arredores da Igreja do Galo, permitia que minha mãe colocasse na gente, eu e duas irmãs menores, uns pijaminhas com estampas coloridas. Fervorosamente católica – se bem que sua fé em Jesus não incluía a assiduidade nas missas – ela nos colocava ao pé da cama, mãos postas, para rezar uma oração curta do “santo anjo do senhor”. Pra reforçar a chance da visita do Papai Noel, dizia ela.
Segui naquele rito até meus 9, 10 anos, caprichando na louvação ao “meu zeloso guardador”, que eu acreditava “guardar” meu presente que o bom velhinho deixaria embaixo da cama, evitando que durante a madrugada algum ladrão usurpasse. Houve anos que as perspectivas de visita do Papai Noel eram mínimas. Mamãe nos fazia entender isso a partir do período de confecção das cartinhas endereçadas ao Polo Norte e que papai levava para os correios, pertinho da loja de tecidos onde trabalhava.
Não era fácil compreender a possibilidade de ficar sem os presentinhos do Natal; afinal de contas no saco vermelho do velho cabiam os pedidos de todas as crianças do mundo, assim, pelo menos, diziam os adultos nas historietas contadas no período e até hoje.
Mas a minha mãe conseguia incutir em nós um senso de compreensão e nos fazia ficar satisfeitos com as alternativas que Papai Noel encontrava, colocando às vezes um corte de tecido no lugar da bola de futebol, um calçãozinho ao invés da espada de Ben-Hur.
Numa certa manhã do Natal, acordamos todos felizes com diversos bonequinhos debaixo das nossas redes. Eram esquimós, com suas roupinhas de frio e também um trenozinho. Não era bem o que eu pedira na carta, mas brinquei muito com eles.
Alguns anos depois, descobri sozinho, que aqueles presentes eram produtos promocionais da marca de geladeiras Brastemp, criados em 1963. Também percebi que o verdadeiro distribuidor dos presentes improvisara forçado pela insuficiência do seu 13º salário.
Eram assim os natais lá em casa, com alguns anos de desejos realizados e outros de pedidos atendidos, mas com presentes trocados no extravio provocado pelo vôo das renas e pela situação financeira do homem que postava meus bilhetes nos correios.
Meu Natal mais bonito e feliz foi, sem dúvida, o do ano em que minha cartinha foi contemplada em toda a sua plenitude. Aquele carrinho de bombeiros que eu vira nas Lojas 4 e 400 apareceu, encantadoramente, debaixo da minha rede, num saquinho plástico.
As brancas e articuláveis escadas magirus se destacavam no vermelho do caminhãozinho. Pulei da rede como se fosse um pequenino homem do fogo descendo pelos postes que ligam os dormitórios às garagens dos quartéis de bombeiros.
Aquela e outras alegrias natalinas foram as bases inquebrantáveis que para sempre sustentaram meu amor e admiração por meus pais. A fantasia infantil do Papai Noel ganha mais graça e importância quando é desnudada pela verdade. Quando identificamos a origem dos presentes.
Não há milagres religiosos ou eventos místicos na alegria do Natal para os que conseguem realizar sonhos. Há somente um pai e uma mãe, com as mesmas características de outros milhões de pais e mães, tentando fazer felizes seus rebentos. Eles perpetuam a magia do Natal.
O milagre está no esforço sobre-humano de um pai que consegue iluminar a manhã de uma criança ao acordar no Dia de Natal. Todas as vezes que me reuni para abrir os presentes dos meus filhos, lembrei daquele caminhãozinho de bombeiros, dos esquimós da Brastemp.
Meus filhos jamais ficaram sem presentes, nunca tiveram seus pedidos extraviados ou trocados, suas cartinhas sempre chegaram à Lapônia. O caçula aprendeu a substituir brinquedos: se chegava um, outro já usado deveria ser doado. É a reciclagem do verdadeiro milagre do Natal.
Desde a primeira vez que assisti “Cidadão Kane” (que já vi trocentas vezes), eu entendi que na vida uma das coisas mais importantes está no enigma de “Rosebud”, o trenó dos tempos em que o poderoso homem de negócios era uma criança pobre na casa dos seus pais.
A essência da felicidade em cada um de nós não está no que vamos conquistar e receber amanhã, mas naquilo que tivemos num instante mágico de ontem. “Rosebud” não era apenas o brinquedo, mas tudo que ele representou no passado. O meu “Rosebud” foi um caminhãozinho de bombeiros. 
E o de vocês? 
Feliz Natal!
Música
Um fato desses dias natalinos: enquanto as canções com temas da festa cristã sumiram dos shoppings e dos grandes supermercados, os mercadinhos de bairros estimulam o espírito do Natal tocando os clássicos inesquecíveis.
Extremismo
A secretaria de educação do estado de São Paulo demitiu sumariamente um professor da cidade de Santo André que se fantasiou de militante da Ku Klux Klan. Aqui no RN, não deu em nada a fantasia de Hitler de um procurador.
Aleivosia
“Não importa se no passado fomos adversários, se trocamos algumas botinadas, se no calor da hora dissemos o que não deveríamos ter dito”. As aspas são de Lula sobre as graves acusações trocadas com Geraldo Alckmin.
Inferno
A borracha que Lula e Alckmin passam no passado de agressões não serve para apagar pregressas críticas de Jair Bolsonaro ao pessoal do Centrão. Toda oposição sempre se especializa em Jean Paul Sartre: “o inferno são os outros”. 
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