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Meu recente velho amigo

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Alex Medeiros 
Nem faz tanto tempo. Era uma noite qualquer de algum mês de 2016, apenas cinco anos atrás. Como eu sempre fazia naquele tempo, quando a tarde se deitava por detrás do Atheneu eu ia ver a noite levantar-se no céu de Nova Descoberta, sentado numa mesa do bar Mormaço à espera dos amigos da resenha noturna. Numa segunda mesa, uma jovem advogada também esperava. E então ele chegou para lhe fazer companhia e me deu boa noite.
Não demorou, e como quem se incomoda com a solidão alheia me chamou para a mesa. “Até seu pessoal chegar”, argumentou educadamente enquanto oferecia uma cadeira. Meu pessoal chegou e a partir daquela noite ele e sua amiga se tornaram meus diletos amigos nas noitadas seguintes desde então até os dias de hoje. Conheci o advogado Genarte Medeiros naquela noite em que ele me apresentou a advogada Marília Varela. Ganhei dois bons amigos.
Há um trecho de Alice no País das Maravilhas que diz: “ouvi dizer que quando você está perdido, a melhor coisa a fazer é ficar onde está e esperar que alguém te pegue”. Genarte sabia pegar as pessoas, apesar de viver a esperar.
Nesses poucos cinco anos de amizade, aprendi a interpretar sua estampa, a ler sua alma sempre exposta numa solidão que ele tentava camuflar. E camuflava com sua gentileza com os outros, com bom humor, com uma inteligência fina.
Era o primeiro a abrir as noites no Mormaço, no Thibet, consumindo a aguardente diária à espera dos amigos que ele não fazia cerimônia para demonstrar que amava. Fazia da nossa companhia sua fantasia de felicidade.
Se o leitor chegou até aqui, sabe que escrevo sobre mais um amigo que partiu. Em 35 anos de jornalismo, virei um acumulador de saudades e de ausências. E são estes dois sentimentos que me levam agora a falar do meu amigo Genarte.
Porque ontem ele se foi, numa morte que os amigos mais chegados sabiam anunciada há algum tempo. O álcool que lhe remediava a alma corroeu seu corpo, rins e fígado, até provocar um AVC hemorrágico de terrível letalidade.
E pensar que hoje, 7 de abril, poderíamos estar juntos festejando seu aniversário de 56 anos. Pois mesmo que por mais que ele silenciasse sobre suas angústias, festejar a vida com amigos era seu modo de driblar a tristeza.
Por ter se tornado um bom amigo, Genarte me fez conhecer seus demônios. E quem não tem os seus? Entretanto, seu cabedal de conhecimento, sua sagacidade no Direito, e as noitadas etílicas o ajudavam a melhor combatê-los.
Foi um boêmio clássico, um entendido das boas taças que dava preferência aos pequenos copos de cachaça. Especialista em mimar os amigos, tinha sempre um presente a dar, um conselho a oferecer, uma mesa a compartilhar.
Como profissional, construiu uma carreira digna e exerceu cargos de referência no estado, como consultorias em gabinetes legislativos e gerenciamento na política presidiária. Montou seu próprio escritório pouco depois da formatura.
Compartilhamos risos, polêmicas políticas, memórias literárias, farras etílico-musicais. Bebi na sua casa, ele bebeu na minha varanda do rock, varamos a madrugada em Pirambúzios azucrinando o sossego dos amigos que dormiam.
Só me chamava de “véio”, e talvez por isso me dedicava um respeito que ficava latente quando calava para atender meu grito abusado por contar um fato. Sabia expor seu bem querer recepcionando a gente em seu apartamento.
Na última visita, meu peito apertou ao ver seus pés inchados, a pele macerada, dois sinais claros de que sua vida corria perigo. Disfarçava quando alertávamos sobre os cuidados médicos que ele precisava buscar com a devida urgência.
Repetiu tantas vezes o desejo de que eu lhe escrevesse uma crônica caso morresse primeiro. Ontem, ao saber da sua partida, bebi o dia inteiro em sua memória, e agora escrevo sobre ele com os olhos encharcados de lembranças.
Supremo 
Na bolsa de apostas do bolsonarismo, os nomes no jogo para a vaga de Marco Aurélio no STF, a partir de julho com sua aposentadoria, são os de André Mendonça, Augusto Aras, Humberto Martins, William Douglas e Ludmila Lins.
Leitura 
É pura elucubração imaginar que uma palavra de gentileza do ex-ministro Henrique Alves significa aliança eleitoral com o PT. Mais do que ninguém, o experiente político conhece a digital do autor da sua derrota em 2014: Lula.
Solturas 
Um País está em avançado processo de hipocrisia quando muitos ficam indignados com um juiz que libertou o próprio filho e acham natural um ministro da Suprema Corte libertar um chefe de quadrilha que arrombou a República.
Epicentro 
São Paulo segue com o lockdown da morte. Só ontem foram mais 1.390 óbitos no balanço de 24 horas do próprio governo João Dória. As restrições impostas na capital e nos 644 municípios não pararam o vírus, mas aceleraram miséria.
Portugal 
Desde ontem, a vida em Lisboa voltou a ter a essência que a faz uma das mais agradáveis cidades europeias. Estão reabertos os restaurantes, os bares, as pastelarias e os seus cafés, muitos quase sempre perto de uma livraria.
Proporção 
Dois acidentes, com dimensionamentos distintos de prejuízo, são a adequada medida de comparação entre o mundo e a aldeia: o navio Ever Given bloqueando o Canal de Suez e uma carreta virada nos trilhos do VLT de Natal.
Futebol ao vivo
Na quarta gorda, a bola rola na TV e nos streamings com Bayern x PSG, Porto x Chelsea, Juventus x Napoli, Independiente x Grêmio, Libertad x Nacional, Defensa y Justicia x Palmeiras, Tombense x Vasco, ABC x 4 de Julho. 
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