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Meus 303 anos de Quintas

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Alex Medeiros
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Ontem foi o aniversário do bairro da minha segunda infância e da primeira juventude. São três séculos e três anos de fundação das Quintas, onde vivi de forma presencial (aproveitando o termo da moda) entre 1969 e 1975, e ainda vivo – congelado numa dobra de tempo – entre os dias atuais e aqueles primeiros dias de 1717 quando Antônio da Gama Luna e sua Maria Borges se assentaram no pedaço de terra entre Natal e Macaíba que o império lhes deu.

Há um filme de 2017, “Time Trap” (traduzido aqui como A Caverna), dos diretores americanos Ben Foster e Mark Dennis, cuja trama envolve um arqueólogo e seus alunos buscando um grupo de hippies desaparecidos. Após acharem a colorida Kombi dos sumidos, a turma mergulha numa caverna misteriosa onde o tempo no seu interior desacelera. Ou seja, alguns minutos lá dentro podem significar que o tempo lá fora avança meses ou até mesmo anos.

Saindo do campo quântico do filme para o aspecto afetivo da realidade, eu sinto que as Quintas exercem sobre mim esse efeito do tempo desacelerado, com os anos passando, 40, 50, mas eu permaneço nos 5 em que vivi no bairro.

Na memória viva, me revejo na curva dos dez para os onze anos, nos dias em que o homem pisou na Lua, dando meus primeiros passos na ruazinha de ladeira íngreme que me levavam na descoberta das muitas ruas do lugar.

Com os novos amigos fazia expedições para descobrir as novidades da nova moradia. A avenida Mário Negócio, uma via láctea alargando os passeios; o beco do Armazém Cacique, um buraco negro de acesso ao planeta Mário Lira.

Na encruzilhada da travessa e da rua de mesmo nome, minha estação espacial orbitando tudo: a mercearia de Seu Waldomiro. Foi minha versão compacta de um shopping, ali eu me reunia com amigos e me inteirava do mundo pela TV.

Os filmes, seriados e novelas que acompanhei em animadas aglomerações, a vizinhança reunida num mesmo propósito, foram definidores da minha paixão por cinema, e que logo seria dimensionada nas sessões do Cine São José.

Não demorou para que eu ficasse sabendo da existência do cinema. E nada supera o impacto da primeira visão do pequeno prédio de três portas, na lateral do Mercado Público, no dia em que fui à feira do bairro com meu pai.

Naquelas fileiras de barracas ocupando as ruas Pedro Novoa e São Geraldo, parecendo um cinturão de asteroides, eu avancei em retas e também labirintando as mesas e pessoas, e fiz um pouso seguro e feliz em sua calçada.

O São José foi o meu Cine Paradiso, o espaço mágico das matinês de Tarzan e dos heróis gregos, das sessões noturnas de faroeste e ficção científica (ainda carrego a emoção de Planeta dos Macacos, o primeiro com Charlton Heston).

Havia umas noites em que eram exibidos dois filmes e um seriado, sendo os meus preferidos Superman (com Kirk Allyn), Flash Gordon e El Santo, o herói mexicano imortalizado por Rodolfo Guzmán. Prazer das 18h até meia-noite.

Parte do meu acervo de HQ da Ebal e de álbuns de figurinhas eu conquistei na frente do “purguinha”. Era bela aquela tradição de meninos e adultos negociando horas antes da pequena bilheteria abrir para a venda de ingressos.

E éramos todos afetados na experiência pavloviana (do russo Ivan Pavlov) aplicada pelo dono do cinema, saudoso Erivam Avelino, que instalou bocas de fone nos postes do entorno do cinema para divulgar os sucessos em cartaz.

Nosso condicionamento era testado assim: por horas a “Amplificadora São José” tocava músicas da banda The Pops, com intervalos de reclames. Mas quando tocava o dobrado militar “Batista de Melo”, todos corriam para a fila.

Nessas lembranças dos meus dias felizes no Cine São José presto minha homenagem ao aniversário do bairro e renovo meu orgulho de ter vivido lá. Aliás, sigo vivendo ali, no menino que ainda está aqui, no amor atemporal.

Prejuízos
Bares e restaurantes encabeçam o ranking da quebradeira na pandemia. Somente em São Paulo já são quase 24 mil estabelecimentos fechados em definitivo. A coisa não foi mais trágica porque o governo federal socorreu.

Jesuíno Brilhante
Diz Honório de Medeiros na biografia do cangaceiro: “Foi um típico homem de sua época, criado em ambiente extremamente rude, violento, com valores próprios de um povo que colonizou a ferro, fogo e sangue o Sertão nordestino”.

É a América
Quando venceu Hilary Clinton, calando a mídia e os institutos de pesquisa ali e alhures, Donald Trump não imaginava que a reeleição poderia ser mais fácil. A desordem dos Antifas está lhe catapultando. É o efeito Richard Nixon de 1968.

Destaque
Nota máxima de Woden: “Do mestre Gaspar, que vai reabrindo aos poucos o Cova da Onça, depois de ouvir no radinho da prateleira as últimas notícias de Brasília: – Tem jornalista bundão, sim, como também político mandante”.

Retorno
O professor Taumaturgo Rocha, que sempre teve alunos e leitores atentos às suas observações, decidiu quebrar o silêncio imposto por estudos e também pela pandemia. Vai retomar a feitura dos artigos e crônicas como antigamente.

Som e cores
O dono do bar Me Leve, Wilton Bezerra, dividiu o tempo de quarentena entre o serviço de delivery e um retorno aos pincéis, um velho hobby. Produziu 12 telas com temática musical e vai exibir no próprio bar na expo “Cores em 12 cordas”.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.

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