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Michael Jackson versus George Michael

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Thiago Gonzaga
Escritor

Em 1988, George Michael, jovem astro pop inglês de 24 anos, era o maior vendedor de discos do mundo. O seu Lp de estreia “Faith” vendeu mais de dez milhões de cópias apenas nos Estados Unidos, e vinte e cinco milhões de cópias ao redor do planeta. Passando 14 semanas em primeiro lugar nas paradas de vendas, na América, ao ser lançado, das dez canções nele contidas, seis entraram nas paradas. Era o auge de um artista que fazia sucesso sobretudo entre os adolescentes que compravam seus discos e lotavam estádios para assistir a suas apresentações. Foi toda uma geração influenciada sobretudo pela MTV, canal de TV totalmente voltado para clips musicais.

 O sucesso de George Michael, além de seu talento e voz, se dava também pela aparência física; usava jaqueta, com barba por fazer e brinco na orelha. Tinha uma certa bagagem, pois anteriormente participou de uma dupla musical chamada Wham! que estourou nos Estados Unidos e Europa, com sucessos como “Wake Me Up Before You Go Go”, e a balada romântica “Carelles Whispers”, que foi hit número um nas paradas de sucesso do mundo todo. “Faith” tinha em sua fórmula um jovem cantor e compositor no auge da criatividade, uma linda voz, repleto de referências soul, gospel e pop. No disco, além de haver tocado vários instrumentos, ele compôs e produziu praticamente todas as faixas.

O estrondoso sucesso de “Faith” ofuscou o lançamento do álbum “Bad” daquele que se denominava “Rei do Pop”: Michael Jackson, artista americano, estrela maior da música, na época, e que causava euforia onde passava com sua melodia e dança.  O disco “Bad”, evidentemente, fez gigantesco sucesso comercial, contudo foi massacrado pela crítica, por ser considerado uma fórmula que Jackson havia experimentado em Lps anteriores. A expectativa para o novo Lp do astro era enorme, pois quatro anos antes Jackson havia lançado “Thriller”, que se tornou o disco mais vendido do mundo, em todos os tempos, fazendo com que ele ganhasse todos os prêmios musicais possíveis, em 1983.

Mas, o final dos anos 80 estava reservado mesmo para o jovem cantor inglês. No início de 1989, os dois artistas se “enfrentariam” pela primeira vez, no “American Music Awards” maior prêmio musical da indústria americana.  Na categoria “Artista masculino favorito de pop/rock”, George Michael enfrentou e venceu Michael Jackson. Na categoria “Artista masculino favorito de Soul/R&B”; novamente George Michael concorreu e venceu Michael Jackson. Por fim, na categoria, “Álbum Soul/Rhythm and blues”, voltado para a música negra dos Estados Unidos, George Michael ganhou, sendo o primeiro artista branco a receber o prêmio.

Para finalizar o ano de forma triunfante, o disco “Faith” ganhou o Grammy (Oscar da música americana) na categoria “Álbum do Ano”, além de vários outros prêmios internacionais, batendo “Bad”, que perdeu todos os prêmios a que concorreu. Todavia Jackson continuou com seu reinado, com enorme apelo midiático e comercial.

George Michael, tinha grande admiração por Michael Jackson, algo que ele já havia declarado em entrevistas. Curiosamente eles eram da mesma gravadora a Sony Music. Ainda em 1988, quando eram as maiores estrelas da música pop da sua época e supostos rivais, a gravadora Sony teve a ideia de fazer um dueto com os Michaels, o que poderia ter se tornado num imenso fenômeno de vendas para a época.

 Foi organizada uma reunião com os artistas e seus assessores, em Neverland, um complexo residencial, espécie de Disneylândia particular, criado por Jackson para morar e se divertir. Ao chegarem no local conversaram bastante sobre a possibilidade de uma parceria musical. George notava, curiosamente, que Jackson, até dentro de casa, usava bastante maquiagem e luvas, nunca apertava a mão de ninguém, bastante tímido, com olhar sempre para baixo, e todas as perguntas que eram feitas a ele, passavam antes pelo seu assessor.

Em meio a essa reunião informal, enquanto os gerentes tentavam descobrir a logística de quem escreveria a música, Michael Jackson sussurrou, no ouvido do seu gerente: ” Quanto você acha que poderíamos vender com essa parceria?”. O que de imediato foi posto em palavras para George Michael: “Só concordarei gravar com você se vender pelo menos tantos milhões de discos”.  George, de imediato perdeu o interesse no dueto, que infelizmente não aconteceu.  Ele já estava decepcionado com a indústria musical, e já pensava em abandonar o showbusiness. Em entrevista, anos depois, revelou que “nenhuma quantidade recorde de vendas valia esse tipo de comportamento de Jackson”.

O álbum “Faith” traria para George Michael o lado amargo da fama. Depois do sucesso da estreia, decepcionado com a enorme exposição da sua vida e cansado dos holofotes, o cantor entrou num processo judicial para sair da gravadora Sony. Como os contratos, os artistas se tornavam escravos da empresa, ele corajosamente enfrentou a Sony no Tribunal. Evidentemente, perdeu a causa e preferiu pagar milhões à empresa para ser liberado, quantia equivalente hoje a um passe de um grande jogador de futebol. Era o fim da era de ouro, daquele que poderia ter sido o “Novo Rei do Pop” Decididamente, George não queria mais saber de showbusines e nunca mais seria o mesmo; sobretudo após a perda daquele que seria seu grande amor, um brasileiro, o estilista Anselmo Fellepa, que namorou quase dois anos com George e morreu vítima de Aids, em 1993, desencadeando um profundo desgosto no viver do cantor inglês, que passaria praticamente o resto dos seus dias melancólico, abusando de álcool e drogas.

Interessante que no final dos anos 80 quando George Michael declarou que não se venderia mais à indústria musical, recebeu uma carta pública, do maior gênio da música americana, talvez do mundo, Frank Sinatra. A carta pedia para George repensar a atitude de abandonar o ramo, pois como era muito novo iria se arrepender, já que todos os artistas desejavam a fama. Embora a carta fosse de um gênio que tinha vivido todas aquelas fases, o jovem artista não seguiu seu conselho e se afastou realmente dos holofotes.

Contudo, ao longo da sua carreira, George Michael chegou a gravar com grandes nomes como Stevie Wonder, Paul McCartney, Elton John, Aretha Franklin, Ray Charles, Tony Bennett, Whitney Houston, Queen, Lucianno Pavarotti, e também, em português, “Desafinado”, com a brasileira Astrud Gilberto:

Michael Jackson nascido em 1958, faleceu em 2009, aos 50 anos de idade; George Michael, nascido em 1963, faleceu em 2016, aos 53.

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