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Microorganismo matou caranguejos

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No final de janeiro de 2000, a morte de caranguejos numa área de 10 quilômetros de manguezais, partindo de Cunhaú, a 75 quilômetros de Natal, intrigava biólogos e ambientalistas. Era um mistério. Caranguejos de todas as idades apareciam mortos ou, quando ainda vivos, não ofereciam resistência nem procuravam se esconder nas tocas, como é da natureza desses crustáceos.

Na época, levantaram-se várias hipóteses. Produto químico jogado no Cunhaú por fazendas de carcinicultura localizadas no estuário do rio; possibilidade de o mangue ter sido contaminado por algum fertilizante ou por usinas de processamento de cana-de-açúcar da região.

Quinze dias depois de o problema ter vindo a público, os órgãos ambientais ainda não tinham uma respostas a dar. E os caranguejos continuavam morrendo. Pescadores da região suspeitavam de contaminação por produtos químicos e relatavam ser comum encontrar manchas verdes e de forte odor em alguns pontos do rio. “É carburete”, dizia o pescador João Francisco do Nascimento, citado numa das reportagens feitas pela TN. “Carburete”, adiantava ele, era um produto químico usado por fazendas de camarão.

O mistério só foi desfeito quatro meses depois. Em 12 de junho daquele ano a Universidade de São Paulo divulgava um laudo apontando “problemas hepáticos” como a causa da morte dos caranguejos. O problema era provocado por um microorganismo, presente no mangue, que atacava as glândulas dos crustáceos, impedindo-os de se alimentar. A morte se dava por inanição. Doença semelhante já havia sido detectada no litoral de Pernambuco e da Bahia.

Em agosto de 2004, houve uma mortandade de peixes no rio do Carmo, em Mossoró. A explicação técnica foi que os peixes morreram num processo natural da mistura da água doce com água salgada. Os pescadores da acusaram as empresas salineiras de jogarem águas mães das salinas no leito rio do Carmo, causando a mortandade. A contraprova dos exames foi feito pelos técnicos do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). O resultado não foi conclusivo.

Caern acredita que origem não é orgânica

A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) garantiu que a causa da morte de peixes no rio Potengi não tem origem orgânica e descarta a possibilidade de que os esgotos, oriundo de bairros da cidade, tenham sido responsáveis pelo dano ambiental. “O que deve ter provocado não foi matéria orgânica. Deve ter sido lançado algum rejeito químico”, assegurou o gerente da regional sul da Caern, Isaias Costa Filho.

Em relação ao lançamento de 35 mil metros cúbicos diários de esgotos “in natura” – vindos de 21 bairros da zona Leste e parte da zona Sul da cidade – no manancial, a companhia destacou o início das obras de construção da estação de tratamento de esgoto, a ser instalada no canal do Baldo. A obra está avaliada em R$ 61,2 milhões e está em andamento há pouco mais de três meses. A construção se encontra na fase de implantação das estacas de concreto. Ao todo, são 1.888 estacas, cada uma mede 24 metros, totalizando 45 quilômetros de estacas. Apesar da importância, a obra só deve ser concluída daqui a dois anos.

O principal desafio da estação será reduzir em 90% o consumo de oxigênio no rio por bactérias heterotróficas, aquelas que transformam material orgânico em mineral. Esses seres acabam consumindo mais o oxigênio presente na água quando há presença de esgotos. Cada peixe necessita de, no mínimo, cinco miligramas de oxigênio para cada litro de água. Diariamente, o Potengi recebe, segundo estudos da companhia, 18,2 mil quilos de oxigênio, vindos das marés e da atmosfera.

A meta é que a entrada em operação da estação consiga reduzir a demanda química por oxigênio no rio Potengi para 250 miligramas para cada litro de água. A vazão da estação é tratar 544 litros de esgotos por segundo. De acordo com o gerente, o método de tratamento será o reator anaeróbico de fluxo ascendente, que seria mais viável em função do pequeno espaço disponível nas imediações do Canal do Baldo.

Questionado sobre o lançamento de esgotos em outros locais, Isaias Costa Filho disse que a Caern mantém cinco lagoas de estabilização à margem direita do rio, além das estações em Jardim Lola, Igapó e Distrito Industrial.

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