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Milagreiro da Frasqueira

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Rubens Lemos Filho

Vou abrir o coração para vocês: em algum dia de minha infância remota, desejei ser goleiro. Era mascote do ABC e as roupas extravagantes de Hélio Show, nosso espetacular camisa 1, me fascinavam. O goleiro, na minha vã mente menina, representava a segurança de todo o time e o domínio da importância junto à torcida.

Pequei e pequei pesado. O ABC dos meus tempos de braços e pernas ossudos e tórax de caveira de aula de anatomia, era um timaço.

Hélio Show era uma das estrelas, chegava a sentar na trave, de sacanagem, quando estávamos goleando. Fez isso até contra o América. Hoje, na hipocrisia politicamente correta, seria talvez banido do esporte.

O América recebia a provocação e esperava até se vingar de Hélio no clássico seguinte, apostando nos lançamentos de Alberi, sim, Alberi vestia vermelho nessa época e nos gols de Marinho Apolônio e Aloísio Guerreiro.

Jussier Santos foi o presidente do América que mais marcou minha fase de garoto: era o mais cruel, o mais vencedor do ABC.

Enchi o saco do meu pai que me trouxe um uniforme sem marca famosa, uma camisa azul clara e um calção Hering azul escuro.

O par de chuteiras Kichute eu já tinha, para os rachas no duro calçamento da Rua Ezequias Pegado, no Tirol, onde estão minhas saudades incuráveis e o par de luvas, meu velho achou pretensão  demais.

Vesti a roupa, desfilei pela rua e a minha patota não perdoou: “Lá vai o goleiro letra I. “Pela magreza de faquir, aquele homem que, nos circos, não se alimentava e domava cobras. O I era eu. A malta, de um nível de sacanagem a ser estudada pela CIA, sugeriu uma pelada comigo no gol.

Queriam alargar as latas de cimento que serviam de traves para o ridículo de me ver, frangueiro por antecipação, passar vexame diante das meninas que circundavam nossas peladas.

Aposentei o uniforme, nunca mandei para a previdência minha idolatria por Hélio Show, até hoje meu amigo. No dia em que veio tomar uísque no apartamento onde moro, me senti um chanceler.

Longe do contato físico, segui na admiração pelos solitários de trave imensa. Vi pobres catadores de vento buscando a bola no fundo das redes em gols de Danilo Menezes, esse, sim, o craque do ABC, de Zezinho Pelé e do barbudo Maranhão, o primeiro psicodélico do futebol potiguar.

Eles enchiam os goleiros de Força e Luz, Ferroviário e Atlético de bolas indefensáveis ou não. Para mim, eles, os goleiros dos times miseráveis, eram heróis. Defender em time grande é fácil, se dispor a cumprir tabela, missão digna.

Tempos depois, o Vasco, meu outro time, comprava o passe do goleiro titular da seleção brasileira em duas Copas do Mundo: Leão, com seu jeito pernóstico, pegava bola demais. Tirou meu favorito, o humilde Mazarópi, emérito pegador de pênaltis.

Imaginava, na compreensível ingenuidade, que Leão seria a barreira intransponível contra o Flamengo de Zico. Ele fez muito, pegou penalidades, defendeu como elástico, capitão de guerra em trincheira hostil.Mas não ganhamos nada com ele.

Mazarópi voltou e perdeu o lugar – errática sina – para o gigante Acácio, que quebrou cinco anos de jejum em 1982, vencendo Zico no confronto direto. Continuava me impressionando com grandes goleiros. Querendo, no fundo da alma, nem tanto ser um deles, apenas admirador silencioso.

Desde a última quarta-feira, quero ser Wellington, do ABC. Sua atuação contra a Chapecoense na vitória por 3×0, vitória por 3×0 que foi 3×0 por causa dele, pode se chamar de homérica. De estupenda. De gloriosa. Wellington  gladiador das batalhas perdidas.

Wellington fez uma defesa assim: o atacante chutou quase no seu rosto e ele lá, guerreiro. No rebote, o outro homem de área bateu sem piedade. Wellington tirou.

Há um lugar para Wellington na galeria de Ribamar, Erivan, Hélio Show, Lulinha, Washington, André Dias, Jorge Pinheiro e Schumacher. Wellington  é um deles. É o Milagreiro da Frasqueira.

Helitão
Desengonçado, por vezes inseguro, o zagueiro Helitão, que parece medir 2 metros e 40 centímetros de altura, fez uma partida definidora. Mesmo com o pênalti cometido, se agigantou. Pareciam 10 Helitões lutando na área do ABC.

Marcos Antônio

Fez um partidaço. De lateral-esquerdo. O técnico Moacir Gomes descobriu a posição de Marcos Antônio, fundamental no terceiro gol em jogada ensaiada, tocando para Allan Pedro servir a Ederson e daí, ao gol.

Substituição

Substituir o ídolo Wallyson(como joga!), deu a motivação para Ederson finalmente estrear pelo ABC em gol histórico, o terceiro.

Marra

É chato o filho de Jairzinho, técnico da Chapecoense. Parece que ele e não o pai, é o Furacão da Copa de 1970.

América

O goleiro Cesar Tanaka, contratado pelo América, é exemplo de superação. Homem de confiança do técnico português Daniel Neri, passou cinco meses sem jogar, voltando em abril, depois de operado de contusão grave no ombro.

Série D

O foco é na Sertão League.
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