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Militares abrem fogo e matam 38 que protestavam contra regime de Mianmar

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Os militares de Mianmar intensificaram ontem a repressão aos protestos contra o regime. Pelo menos 38 manifestantes pró-democracia foram mortos, segundo a ONU, pelas forças de segurança, que utilizaram munição letal para conter as marchas contra o golpe de Estado de 1.º de fevereiro.
Segundo a agência Associated Press, que utiliza dados de um analista em Yangun, 18 pessoas morreram só na cidade, a maior do país. Em Monywa foram 8 mortos. Em Mandalay, segunda maior cidade de Mianmar, 3 manifestantes foram assassinados, entre eles a estudante Ma Kyal Sin, de 19 anos. Ela levou um tiro na cabeça quando se protegia das forças de segurança, que perseguiam professores e alunos.
Kyal vestia uma camiseta com a frase “Everything will be OK” (Tudo vai ficar bem), mas já desconfiava que o pior estava por vir. A garota, fã de taekwondo, carregava detalhes de seu grupo sanguíneo, um número de contato e um pedido para doar seus órgãos, caso ela fosse morta.
De acordo com testemunhas, Kyal estava na linha de frente do protesto. Pouco antes de morrer, ela rompeu com pontapés uma tubulação de água para que os manifestantes pudessem aliviar os efeitos do gás lacrimogêneo e lançou de volta vários cilindros contra as tropas.
Em vídeos postados na internet, pouco antes de os militares abrirem fogo, é possível vê-la gritando: “Não vamos fugir” e “Sangue não pode ser derramado”. Quando os soldados começaram a atirar, Kyal se jogou ao chão e foi fotografada se protegendo dos disparos. “Ela me disse: ‘Sente-se!’ Eles vão te acertar. Você não está num palco'”, contou Myat Thu, de 23 anos, que conheceu Kyal nas aulas de taekwondo.”Ela tentou proteger os outros.”
Imediatamente, os vídeos e as fotos de Kyal no protesto viralizaram, transformando a garota em símbolo da resistência ao regime militar. A violência de ontem mais que dobrou o número de mortos nas manifestações contra o golpe militar – até então, cerca de 30 pessoas haviam morrido em confrontos com as forças de segurança, de acordo com Christine Schraner Burgener, enviada da ONU a Mianmar.
Pelo menos 1.294 pessoas foram presas desde o início das manifestações, e acordo com a ONG Associação de Assistência para Prisioneiros Políticos. A lista inclui 34 jornalistas. Ontem, seis profissionais, entre eles o fotógrafo da Associated Press, Thein Zaw, foram acusados de violar a lei de ordem pública, recentemente modificada pela junta.
O novo texto incorporou qualquer pessoa que “cause medo na população, divulgue informação falsa ou incite a desobediência civil”. Os seis jornalistas, que podem ser condenados a 3 anos de prisão, estão na penitenciária de Insein, em Yangun, onde muitos presos políticos cumpriram longas sentenças emitidas pelas ditaduras anteriores.
A crise política começou quando o Exército derrubou o governo civil, no dia 1.º de fevereiro. Alegando fraude, os militares não aceitaram o resultado das eleições de novembro, vencidas pelo partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional pela Democracia (LND). Ela foi presa e acusada de publicar informações que poderiam “causar medo ou alarme” e perturbar a “ordem pública”. Suu Kyi está detida em um local secreto.
Os militares formam uma casta na sociedade de Mianmar. São extremamente ricos e controlam uma vasta rede de empresas estatais ligadas a setores estratégicos, como mineração de jade e rubi, tabaco, cerveja, manufatura, turismo, bancos e transporte. À frente do Exército está o general Min Aung Hlaing, que nunca escondeu sua ambição de ser presidente do país.
Hlaing deve entrar para a reserva ao completar 65 anos, em junho, e especialistas dizem que, para que ele pudesse manter seu poder, era preciso que o partido ligado aos militares, a União, Solidariedade e Desenvolvimento (USD), tivesse um bom desempenho nas eleições de novembro. No entanto, Suu Kyi obteve 83% dos votos, o que afastou o general da presidência e o condenou à aposentadoria.
A escalada da violência intensificou os esforços diplomáticos para resolver a crise política de Mianmar, mas parece haver poucas opções viáveis. Ainda não está claro se o elevado número de mortes registrado ontem pode mudar a dinâmica. O Conselho de Segurança da ONU deve realizar uma reunião fechada sobre a situação, disseram diplomatas sob condição de anonimato, acrescentando que o encontro foi solicitado pelo Reino Unido.
A solução do impasse por meio da ONU, no entanto, parece inviável. No início de fevereiro, os 15 membros do Conselho de Segurança expressaram inquietação com a situação de Mianmar em uma declaração, mas sem condenar o golpe de Estado, já que China e Rússia tradicionalmente apoiam o Exército birmanês e não aceitaram a menção no texto. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Estadão Conteúdo


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