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Mina ameaça descoberta histórica

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MES AYNAK, AFEGANISTÃO (AE) – Era apenas mais um dia de trabalho naquele declive montanhoso, enquanto arqueólogos e outros trabalhadores cavavam para retirar estátuas de Buda e escavavam um grande monastério budista de 2.600 anos. Uma chinesa, levando um guarda-chuva para enfrentar o sol afegão, educadamente perguntou sobre o progresso da empreitada.

Ela não tinha apenas um interesse ocasional. A mulher representa uma companhia chinesa que deseja desenvolver a segunda maior mina não explorada de cobre do mundo, que fica sob as ruínas.

A mina é peça central nos planos da China para investir no Afeganistão, um país que tenta tirar sua economia da ruína, enquanto ainda sofre com uma guerra. A parcela de US$ 3,5 bilhões de Pequim na mina – o maior investimento estrangeiro já feito no Afeganistão – dá ao país espaço para fechar acordos futuros para lucrar com as ainda pouco exploradas riquezas minerais afegãs, incluindo ferro, ouro e cobalto. O governo de Cabul espera coletar um potencial de US$ 1,2 bilhão por ano com os lucros da mina, que deve ainda gerar necessários empregos.

Mas Mes Aynak fica no meio do caminho entre as esperanças do Afeganistão pelo futuro e sua história. Os arqueólogos se apressam para salvar o que for possível do sítio religioso de 700 a.C., ao longo da famosa Rota da Seda, que ligava a Ásia e o Oriente Médio. As ruínas, incluindo o monastério e relicários conhecidos como “stupas”, serão em grande parte destruídas assim que o trabalho nas minas começar.

A situação traz à lembrança os Budas de Bamiyan – estátuas de até 55 metros de altura, dinamitadas em 2001 pelo Taleban, quando o grupo ainda dominava o país. Para o Taleban, aquelas estátuas eram um símbolo de paganismo.

Ninguém quer ser considerado culpado por uma ação similar em Mes Aynak, na província de Logar, no leste afegão. O China Metallurgical Group (MCC), apoiado pelo governo chinês, quer começar a construir as instalações da mina até o fim de 2011. Mas, após um acordo informal com o governo de Cabul, a empresa deu aos arqueólogos prazo de três anos para salvar a escavação. Os arqueólogos trabalham no local desde maio, mas dizem que não haverá tempo suficiente para preservar tudo.

“Esse sítio é tão grande que levaria facilmente 10 anos de trabalho arqueológico”, calculou Laura Tedesco, uma arqueóloga levada pela embaixada dos EUA para trabalhar em sítios no Afeganistão. Três anos podem ser suficientes apenas para documentar a área, segundo ela.

Philippe Marquis, um arqueólogo francês que trabalha assessorando os afegãos, diz que o esforço de salvação é segmentado e “mínimo”, também pela falta de pessoal e recursos.

Cerca de 15 arqueólogos afegãos, três consultores franceses e pouco mais de dez trabalhadores atuam na área de 2 quilômetros quadrados. Calcula-se que um sítio arqueológico com essa riqueza e tamanho exigiriam mais de 20 arqueólogos e 100 trabalhadores. “Esse é provavelmente um dos pontos mais importantes ao longo da Rota da Seda”, nota Marquis. “O que nós temos nesse sítio, já em escavação, deve ser suficiente para preencher o museu nacional (afegão).”

O monastério tem sido escavado, revelando corredores e salas decoradas com afrescos e cheias de estátuas de barro e pedra de Budas, alguns deles de 3 metros. Em uma área que já foi um pátio há torres de até 1,5 metro. Mais de 150 estátuas já foram encontradas, ainda que muitas permaneçam no local. As maiores são pesadas demais para serem removidas, e a equipe não tem os produtos químicos necessários para impedir que as menores se desintegrem .

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