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Mito e realidade

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Alcyr Veras – professor e Economista

Historicamente, há um sentimento generalizado, muito difundido no seio da população brasileira, de que os Estados Unidos dependem das nossas exportações e que, por isso, os produtos brasileiros tornam-se imprescindíveis ao desenvolvimento da economia norte-americana.  Trata-se, obviamente, de uma crença fantasiosa alimentada pela imaginação popular.

Dizem que uma idéia ou doutrina desenvolve-se sob a forma imaginativa em que a fantasia sugere e simboliza a verdade que deve ser transmitida.  É mais ou menos dessa maneira que o brasileiro mediano forma sua opinião sobre os Estados Unidos em relação ao Brasil.

Mas, a realidade é outra.  Os números e as constatações, a seguir, não nos deixam mentir.  Produtos brasileiros tais como suco de laranja, açúcar, aço e frango são os que mais sofrem os efeitos da política restritiva devido às exigentíssimas barreiras sanitárias, além de exorbitantes sobretaxas, bem como a imposição de limites de cotas.  Contudo, nossa pauta de exportações é bem mais ampla.  Os Estados Unidos compram também outros produtos brasileiros, tanto agrícolas como industrializados, alguns, inclusive, de valor bastante elevado, como é o caso dos aviões fabricados pela EMBRAER.

Na macroconjuntura dessa análise há, no entanto, um aspecto que chama particularmente atenção.  Do ponto de vista de valores absolutos, os Estados são hoje o principal parceiro do Brasil no comércio exterior, pois vendemos para lá, no ano passado, 24 bilhões de dólares em mercadorias.  Mas, se, ao mesmo tempo, observarmos pelo lado relativo, vamos constatar que em 2006 os americanos importaram do mundo inteiro quase 2 trilhões de dólares, sendo que a participação das exportações brasileiras nesse bolo foi de apenas 1.5%.  O segundo país que mais compra produtos brasileiros é a Argentina, cujas importações chegam a quase 12 bilhões de dólares.  Logo em seguida, vem a China com um pouco mais de 8 bilhões.  Mesmo considerando-se toda a América Latina ainda assim o volume de exportações para o mercado norte-americano é muito baixo.  Isso explica porque os Estados Unidos têm os olhos preferencialmente voltados para o Oriente Médio e para a Europa, por serem eles, a um só tempo, os dois maiores centros produtores e consumidores do planeta.  O petróleo do Golfo Pérsico abastece a gigantesca e complexa  demanda da imperialista economia yankee.  Na Arábia Saudita, e nos países árabes adjacentes, está localizada uma grande e monopolizadora concentração de empresas americanas.  Os países europeus são os maiores compradores de bens de capital dos Estados Unidos, enquanto que a Índia e a China são grandes importadores de bens de consumo.

George Bush e seus secretários de Estado viajam com tanta freqüência para a Europa e Oriente Médio, que uma esporádica vinda ao Brasil é sempre encarada como um fato histórico e inusitado.

Não obstante, especialistas em comércio exterior acham que é preferível o Brasil continuar tentando ganhar maior espaço nos mercados desenvolvidos, do que priorizar ações para conquistar novos mercados em países emergentes.

A súbita suspensão das exportações brasileiras para a terra  de Tio Sam, poderia provocar, momentaneamente, alguns embaraços no desempenho da economia norte-americana, mas, certamente, não lhe causaria recessão.  Já o contrário…

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