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Mitos, lendas e fofocas

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Valério Mesquita – Escritor
01) Macaíba sempre foi rica em tipos populares, figuras humildes que marcaram o cotidiano simples da cidade. Em crônicas passadas, e, em livros, registrei a profundidade vital de muitos caracteres, através de tiradas espirituosas mas espontâneas saídas da humana contradição de ser. Epifânio, surge hoje, lembrado por um amigo comum. Alto, narigudo, Epifânio ganhava a vida fazendo fretes de mercadorias no seu carro de madeira. Era homem bom e crédulo, apesar de sua mulher “costurar pra fora” em alta rotatividade. Toda a cidade o sabia menos Epifânio. Dia sim, dia não, a mulher aparecia em casa com um liquidificador, um ferro elétrico, um rádio de pilhas e, ao ser indagada pelo marido sempre se saia com um desculpa inapelável: “Tirei no bingo, meu filho!”. Certa vez, no bairro Alta da Raiz, onde moravam, faltou água. Do banheiro a mulher grita para o marido: “Epifânio, traga água para o meu banho!”. O obediente maridão, já no prelúdio da desconfiança, trouxe-lhe a água num caneco de óleo de cozinha. “Mas, filho”, reclama a esposa perua: “Assim não dá!”. Foi aí que Epifânio resolveu chamar a pedra noventa: “Pelo menos dá pra lavar a cartela!”. 
02) Comício em Brejinho. terra do folclórico ex-prefeito Avelino Matias, vulgo “Meu Pai” e figura conhecida em todo o Agreste do Rio Grande do Norte. Avelino discursava inflamado no palanque: “Nós “vai” melhorar a educação do município. “Agente” vamos melhorar a saúde do povo de Brejinho. “Agente” vamos trabalhar pelos mais pobres e “nós vai” ajeitar as estradas”. Nisso, a sua filha, prefeita do município, ao ouvi-lo, resolveu corrigir: “Pai, empregue o plural”. Aí Avelino soltou-se todo: ““Nós vai” arranjar emprego por plural, o pai do plural, a mãe do plural, pra “famia” toda!”. A emenda foi pior, com toda certeza. 
03) José Absalão, ex-prefeito de Pendências era do tipo bonachão e boêmio. Figura divertida e espirituosa, protagonizou inúmeros causos que já tive a oportunidade de relatar. Certa vez, em Pendências, ouvia no meio do povo a pregação dogmática e radical do Frei Damião. “Todo aquele que for amancebado vai direto para o fogo eterno”, pregava o santo frade. “Aquele que tiver uma, duas, três mulheres, esse é que vai ser mesmo condenado aos quintos dos infernos…”. Nisso, Zé Absalão do meio da multidão ergue a voz para um protesto solene e político: “Frei Damião, você tá doido! Não diga isso!”. 
04) Açuense de quatro costados foi o velho Luis de Rosa, já falecido. Octogenário e preocupado com o seu desempenho sexual, foi chamado a farmácia para ser informado sobre um novo medicamento. “Seu Luis, esse remédio é poderoso”, disse-lhe o farmacêutico. “Levanta até defunto”, exagerou o droguista. “Meu filho”, explica Luis, com calma e sabedoria: “Levantar eu levanto com a mão sem problema. Eu quero é um que faça o bicho ficar duro, tá entendendo?”.
05) O amigo Alberto de Souza Bezerril lembrou-me essa história vivida pelo ex-prefeito de Patu, o folclórico João Pereira, lá pelos idos de 1970. Passou momentos difíceis para tomar uma decisão administrativa. No calçamento de uma rua da cidade metade dos habitantes optaram pelo paralelepípedo enquanto outros queriam asfalto. Esse fato passou a desafiar a “engenharia” do velho alcaide. E a notícia ganhou a capital. Indagado por um jornalista sobre o problema, saiu-se com essa, digna do seu repertório: “É, eu fiquei com uma dúvida danada. Porque não sabia se “asfartava” ou se “paralepipeidava”.
06) No primeiro mandato de Garibaldi Filho foi dada a largada dos projetos de aproveitamento dos recursos hídricos do Estado cujo coroamento se deu posteriormente, com as adutoras que se tornaram uma marca registrada do seu governo. Em Patu, participando de uma inauguração oficial, Gari foi cobrado de público pelo início do serviço de abastecimento d’água da cidade, esperado com muita ansiedade. Sem se afobar, como é do seu hábito, o governador discursando, pegou carona na cobrança popular e colocou nas palavras uma indisfarçável irritação: “Vou botar água em Patu nem que a água venha da casa…”, ai parou. Sentindo que não podia ir além, ele repetiu a frase: “Já autorizei Rômulo Macedo a elaborar o projeto e vou botar água em Patu nem que a água venha da casa do…”. Ai o orador foi sutil e perspicaz: “Eu não queria dizer essa palavra…”, risos. Gari havia guardado a postura e conseguido o resultado.
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