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Moda autoral na praia de Iracema

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Augusto Bezerril
Colunista de moda

Desde quando ocupava Centro Cultural Dragão do Mar, o Dragão Fashion – assim como era chamado – já impunha a bandeira de semana de moda de autoral. Depois de passar pelo Centro de Convenções de Fortaleza, Terminal Marítimo e até erguer uma megaestrutura, como vista agora em 2019, na icônica Praia de Iracema, o evento criado por Cláudio Silveira ganhou projeção nacional e inserção internacional; revelou talentos e, hoje, convertido em DFB Festival é considerado o maior evento de moda autoral da América Latina. Quando o último modelo deixar a passarela na noite de sábado, a praia de Iracema terá recebido 36 desfiles, palestras, shows, espetáculos de dança, ambiente para negócios sustentáveis e, primordialmente, toda uma economia criativa alicerçada na ideia do autor. Mas afinal: o que é moda autoral?

Mar, Sertão e design potiguar de SD por Sheila Morais no desfile Água de Coco


Mar, Sertão e design potiguar de SD por Sheila Morais no desfile Água de Coco

Tarcísio de Almeida – professor de curso de moda da Faculdade de Belas e Universidade Federal de Minas Gerais – acredita que a moda autoral pode ser percebida quando o criador pode desenvolver um conceito capaz de estruturar uma palavra, muito repetida no textos de moda, chamada coleção. “Para ser autoral o processo criativo tem que ter características essenciais tais como ele mergulha num tema: seja nacional, ou internacional ou uma questão atual. É um leque muito amplo. Mas o que vai explicar o que é moda autoral é a maneira como o criador consegue explicar o conceito escolhido através do desenvolvimento. O que chancele seu nome como criador de moda e uma estética”,  explica. Na história da moda, Chanel, Dior e Yves Saint-Laurent são exemplos de como uma única pessoa conseguiu se fazer traduzir a partir de um conceito único. Desde modo, argumenta Almeida, a senha para entender o tema é perceber de qual modo o que é apresentado traduz, de fato, a expressão do criador-autor. É importante estabelecer, contudo, a diferença entre branding e o que se chama moda de autor. “Branding é marketing para consolidação da marca”, diz. Em linhas gerais, as marcas autorais tendem seduzir o consumidor a partir do elementos intransferíveis do processo criativo proposto pelo criador. Embora siga regras rígidas de consolidação de marca, as grifes e estilistas estabelecem pilares estéticos e de estilo a partir do comportamento do mercado e, por conseguinte, do consumidor. Os desfiles do DFB Festival, apresentados sobre as areias do Aterro da Praia de Iracema, têm no desejo primordial do estilista como catalisador dos ventos de criação.

Ser Ceará: Técnica do trabalho de Espedito Seleiro e rendas são destaques do desfile do coletivo Cariri Visceral


Ser Ceará: Técnica do trabalho de Espedito Seleiro e rendas são destaques do desfile do coletivo Cariri Visceral

A sobreposição de peças em couro, com motivos próprios do Mestre Espedito Seleiro, sobre peças de rendas e as incríveis botas com os arabescos próprios do artesão cearense – reconhecido como nome mundial do design – apresentados pelo coletivo Cariri Visceral, sintetizam uma estética que – para quem conhece a semana de moda cearense – vem sendo solidificada há anos. Uma das mais badaladas grifes de moda praia, a Água de Coco resolveu unir mar e sertão em desfile, realizado no primeiro dia do evento. Os tons terrosos das paisagens áridas foram mostrados entre estampas de botânicas em tons verdejantes. O show teve na abertura o cantor Xand, vocalista da aviões, cantando Luiz Gonzaga. Um dado curioso, quando se fala trata do trabalho de autor, jornalistas e consultores de moda identificaram no desejo dos brincos o trabalho da designer potiguar Sheila Morais – criadora da SD por Sheila Morais. A identificação se deve às participações da grife em semanas de moda como Minas Trend e SPFW. “O desenho as peças e acompanho todo processo criativo”, diz Sheila, ao enfatizar o trabalho dos artesões que trabalham no ateliê em Currais Novos, região do Seridó.

Wagner Kalienno desfila coleção focada no esporte anos 80


Wagner Kalienno desfila coleção focada no esporte anos 80

A professora do curso de moda da Universidade Veiga e consultora de moda, Elle Alves coordena o projeto Your Denim Lab – cujo trabalho consta entre um dos desfiles mais vibrantes do DFB Festival – e comemora o modo como os alunos da universidade conseguiram unir conceito de sustentabilidade e estilo a partir da upcycling sobre o jeans. “Eu fico muito feliz como cada aluno se mostra instigado em criar e compartilhar técnicas a partir de um conceito de coletividade”, destaca. Seguindo a ideia de autor, o estilista Melk-Z-Da – depois de um anos sem desfilar- mostrou coleção no Minas Trend mas escolheu o Dragão Fashion para retornar às passarelas. O pernambucano é considerado mestre no beneficiamento de tecidos e experimentações. Voltando ao território criativo potiguar,  Luís Morais – fotógrafo cuja carreira profissional começou nas páginas da Tribuna do Norte – integra a mostra 20 Olhares, em cartaz no DFB Festival. A imagem escolhida para representar o trabalho do potiguar radicado em Fortaleza destaca as composições experimentadas pela grife Handlace – cuja marca registrada é o desenvolvimento de texturas. O estilista potiguar Wagner Kalieno desfilou, na quinta-feira, apresentado coleção focada no esporte e anos 80. Os temas fazem e formas fazem parte da gramática do estilista. As grifes Rendá, Victor Cunha e Almerinda Maria – legítimos cearenses – constam entre os destaques do evento ao tramar, de modo autoral, a partir do crochê, rendas, bordados e macramé. Cláudio Silveira, diretor do DFB Festival –  foi preciso em dizer que, ao aportar na praia de Iracema – o DFB Festival entrelaça raízes e olhos para o mar.

O jornalista viajou a convite do DFB Festival

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