Rubens Lemos FIlho
Meu espírito de velho é porque fui apresentado à vida na idade de menino. Hoje, sou apenas sete anos mais novo que o meu pai, morto há 21 aos 57 com aspecto de 75, de tanto sofrimento . Das porradas que tomou. Tortura 44 dias, delações, vamos deixar de mimimi. Ele detestava.
Nisso, puxei a ele. Tenho horror a cochichos e a conversas particulares demais. Reajo sem a ironia dele. Não escondo nada que me seja indecente. Odeio briga. Não fujo dela. Sou do jeito que o inimigo quiser. Inimigo não dá para suportar, desafeto, ignora-se.
Meu pai era lírico, chorão inveterado, poeta e generoso. Dividia o que tinha no bolso – quase sempre, quase nada -com quem fazia parte do time da Corda Bamba, onde ele vestia a 10 do maestro do ABC, Danilo Menezes.
Dificuldades eram recebidas com o sorriso nicotinado de Rubens Lemos. Seu otimismo vinha da imaginação sempre voltada ao recomeço, à reconstrução e ao apagar do negativismo. Da ilusão consciente, das derrotas que sabia inevitáveis.
No futebol, cantava o Expresso da Vitória do Vasco como se o tivesse visto toda quarta-feira e domingo. Papai era de Santana do Matos, do Sítio Pixoré, nasceu em 1941, anos preliminares do mais famoso Vasco, o campeão sul-americano de 1948, de Barbosa; Augusto (Rafagnelli) e Wilson; Ely, Danilo e Jorge; Friaça, Maneca (Ismael), Dimas (Djalma), Lelé e Chico.
Ora, tinha sete anos quando o Vasco tomou para si o continente. Aí de quem ousasse lembrar esse cronológico detalhe. Ele perdia a compostura por cinco minutos, gargalhava e tomava uma dose de cachaça, uma cerveja gelada ou o uísque, arrasadores do seu fígado em 1999.
Lembro de papai todos os dias e quando não me recordo, alguém vem e fala nele. Aventureiro convicto, saiu candidato a governador pelo PT do tempo pobre. Em 1982, contou 3.207 votos.
É comum encontrar alguma figura querendo agradar: “Votei em seu pai!” Ao último, disse palavra por palavra: “Vou ao TRE pedir recontagem. Depois de morto, papai termina mais votado que José Agripino, o governador eleito”.
Nesta passagem dos 50, procuro mais meu pai no pensamento, buscando ajuda para viver uma fase tão triste como a de agora. Certeza de que ele partiria de Coronavírus porque não cumpriria nenhuma recomendação de segurança que em mim é paranoia.
Espero um sinal dele. Para me dizer o óbvio: aos 50, começa o caminho da volta. Assim ele se enganava, pulando de lugar em lugar, sofrendo com fariseus que o expunham à mídia nacional e devastavam sua parca reserva financeira duramente conquistada. Pelo trabalho, sem desonra de crime sob farsa ideológica. Após sua morte, sobejaram pensão pela qual ele destinava solene desprezo. Seu dividendo era a dignidade.
Minha volta à Tribuna do Norte, por onde ele reacendeu a luz da vida, foi o que melhor me aconteceu. Nos últimos 10 anos. Acho que disse por aqui e repito porque gratidão é infinita.
São tarifas sentimentais dos 50 anos. Queria continuar vivo dizendo a todo mundo que tenho 50. Até na aritmética é mais adequado. No inconsciente, o medo dos 57, do empate com meu velho. Que estaria cofiando a bigodeira, praguejando as porcarias dos seus times: Vasco e ABC.
O mundo dele era o moinho de Cartola. O meu é enfrentar, aos 50 e cheio de comorbidades, a mutação para pior do ser humano que era o encanto de Rubens Lemos. O pai.
Criciúma correto
O técnico Sílvio Criciúma está certíssimo. Chegou otimista e contrariando a coluna, que o esperava na retranca geral. Quer ganhar tudo, é óbvio. Frasqueira vai cobrar.
João Paulo
Não faria a menor falta ao ABC em 2021. Camisa 10 de enfermaria.
Fraiman Portal
Vermelho de Paixão é o melhor canal de informações do América. Sérgio Fraiman consegue dosar paixão e visão crítica. É do escrete do bem.
Ricardo Bezerra
Conheço há 40 anos e tal. Dirigente que sabe sem precisar alterar a voz.
Há 50 anos
Dia 24 de janeiro de 1971, começava a Taça Cidade do Natal. No Juvenal Lamartine com 4.016 pagantes. América esmagava o Ferroviário por 4×0, gols de Burunga, Tóia, Zezé e Edmilson.
Times A
mérica de Franz; Nino, Cláudio, Anchieta e Duda; Gobat e Valdek(Edmilson); Zezé(Bazinho), Zé Ireno, Tóia e Burunga. Ferroviário de Juca; Souza(Heraldo), Pedão, Jácio e Célio; Walter e Jorge(Hélio); Galdino, Edmundo, Ismael e Esquerdinha.
ABC goleia
Na rodada dupla, o ABC bateu o Força e Luz por 4×2, Zé Maria, Edvaldo Araújo, Gonzaga e Gilson Lira. Técnico: José Prudêncio, a lenda. ABC: Erivan; Preta, Edson, Josemar e Anchieta; Correia e Gonzaga; Zé Maria (Ribamar Cavalcante), Alberi, Edvaldo Araújo e Maia(Gilson Lira).
Força e Luz
Dedé(Ranilson Cristino), Zoca, Dandão, Jasiel e Jaime; Arandir e Nilton; Agenor, Vadinho, Rui e Dita.
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