PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
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No dia 13 de dezembro, festa de Santa Luzia, celebraremos também o centenário do nascimento de Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros. Apóstolo dos simples, humildes e pecadores, alma repleta de ternura, amigo de todos, pastor solícito e zeloso, sobre ele podemos dizer que nunca se serviu do povo, mas sempre serviu o Povo de Deus. Sua postura lembra a do Papa Francisco, quando se dirigiu a dignitários eclesiásticos (em setembro passado): “O mundo está cansado de encantadores mentirosos. As pessoas farejam e se afastam, quando reconhecem os narcisistas, os manipuladores, os defensores das causas próprias, os arautos de cruzadas vãs… É preciso tornar a misericórdia divina acessível, tangível e encontrável”. Monsenhor Expedito sempre mostrou um Deus próximo, o Cristo da misericórdia, ferido de amor, cheio de complacência por um mundo carente, sedento de verdade, justiça e paz.
De saúde delicada, consumiu-se, doando-se aos irmãos. Sua mesa era frugal, sua casa despojada e acolhedora, seu sorriso largo e generoso, manifestando intimidade com Deus. Era bem franzino, ao ser ordenado sacerdote. Quando estava na diocese de Caicó, diante das normas litúrgicas (vigentes à época) para o jejum eucarístico e considerando sua fragilidade, Dom Delgado conseguiu da Santa Sé permissão para que Padre Expedito tomasse água, antes das missas tardias. Jamais reclamou desse sacrifício e sempre o sublimava. E assim respondeu a seu superior: “Senhor bispo, meu jejum é temporário, enquanto a fome do nosso povo é crônica e permanente”. Dele podemos dizer, como o apóstolo Paulo: “Fiz-me tudo para todos para ganhar alguns” (1Cor 9, 22). Não foi pesado aos cristãos, alimentava-se do que lhe ofereciam, vestia o que lhe davam. Viveu verdadeiramente o voto de pobreza.
Foi consultado três vezes para o episcopado. A primeira para suceder Dom José de Medeiros Delgado (por indicação deste), na diocese de Caicó. Comenta-se que, de modo sutil, convenceu o Núncio apostólico, dizendo que na Igreja não é recomendável haver nepotismo e argumentou: “Não vê, Vossa Excelência Reverendíssima, que temos o mesmo sobrenome [Medeiros]”? A segunda indicação teria sido para a função de bispo auxiliar de Natal. Com humildade e sabedoria, chamou a atenção da Nunciatura para a pessoa do carismático cônego Eugênio Sales, futuro cardeal da Igreja, com o qual lançara os alicerces do Movimento de Natal. Por último, fora apresentado para ocupar a Sé episcopal de Mossoró, vacante com a transferência de Dom Eliseu Simões Mendes. Era considerado o substituto ideal para aquele bispado. Declinou da indicação, alegando problemas de saúde.
Monsenhor Expedito primava também por seus conhecimentos teológicos e sua visão pastoral aberta, social e humanista, bem antes do Concílio Vaticano II. A sua luta contra as secas e por água o imortalizou. Dedicou-se por inteiro à implantação do sindicalismo rural, à alfabetização de adultos, à educação para a cidadania, à formação dos jovens, à promoção da cultura e aos cuidados com a saúde biológica e espiritual do seu povo. Sua lisura era tanta, a tal ponto de ser elogiado pelos que não comungavam de suas ideias sociais. Conselheiro, pacificador e profeta na amplitude do termo, falou em nome de Deus e “ouviu o clamor do seu povo” (Ex 2, 24), como os patriarcas bíblicos. Embora haja dissertações e teses acadêmicas a respeito de sua pessoa e ação pastoral, parecem inesgotáveis a profundidade do seu pensamento, a dinâmica de seu apostolado e a dimensão de sua alegria e espiritualidade. Era um homem pleno do Espírito Santo. Irradiava otimismo, coragem e esperança, mesmo diante da dor e do sofrimento, pois continha em sua alma o bem maior: a presença divina e sua graça! Monsenhor Expedito foi, sem dúvida, um dos eleitos de Deus e a luz da sua alma não se apagará do céu de São Paulo do Potengi e do Rio Grande do Norte. As ovelhas do pastor continuarão reverenciando, pelos tempos afora, a memória daquele que iluminava os caminhos do Povo de Deus!
