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Moradores iniciam faxina nas casas após enchentes

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CHUVAS - Moradores que tiveram as casas invadidas pelas águas aproveitam o sol para fazer faxina

A chuva deu uma trégua. Foram registrados apenas 8,2 milímetros nos últimos dois dias,  e a terça-feira foi de faxina para muitas famílias que tiveram suas casas invadidas pelas fortes chuvas que caíram no domingo e na segunda-feira. De Norte a Sul da cidade o cenário era parecido, colchões nas calçadas, roupas no varal e lama, muita lama.

Na Travessa Ocidental de Baixo, no Passo da Pátria, onde uma tubulação de esgoto se rompeu, a população está revoltada com o descaso. Segundo alguns moradores, até a manhã de ontem, os trabalhos de recuperação ainda não tinham começado. Apenas redes de proteção foram colocadas ao redor da cratera que se formou com o rompimento da tubulação.

“Essa é a segunda vez que isso acontece aqui no Passo da Pátria. Na minha casa, graças a Deus, não entrou água porque coloquei esses sacos de areia, mas em outras casas, muita gente perdeu quase tudo”, contou a dona-de-casa Wilma Maria da Silva. Já o aposentado Francisco Alves não teve tanta sorte. Ele ficou com água na altura dos joelhos.

“Desde uma hora da tarde de domingo nós estamos lutando com os estragos chuva. Perdi muitos móveis aqui na minha casa. Meu camiseiro já não serve mais para nada”, disse o aposentado.

A cratera se abriu no local onde a prefeitura estava realizando uma obra de urbanização e drenagem. As tubulações do sistema de esgotos e drenagem, recém instaladas, romperam-se e partes dos canos de PVC foram lançados dentro do rio Potengi, arrastando no caminho áreas do calçamento.

Moradores do local disseram que isso só aconteceu porque foram usados materiais inadequados. “As pessoas vêm aqui e fazem um serviço mal feito e dá nisso aí, agora muita gente perdeu suas coisas e ninguém vai pagar o que a chuva levou”, disse o aposentado Antônio Bezerra da Silva, morador da casa 23, na Travessa Ocidental de Baixo.

O secretário municipal de Obras e Viação, Damião Pita, contesta as acusações. Na segunda-feira, em entrevista a TRIBU NA DO NORTE, ele disse que houve “vandalismo” no Passo da Pátria. As juntas de aço que uniam os tubos de PVC foram roubadas e foi isso que provocou o rompimento da tubalação. Segundo o secretário, é a segunda vez que os anéis de aço são roubados e substituidos pela empresa construtora.

A população do Passo da Pátria também reclamou por causa do  centro comunitário do bairro, instalado próximo à tubulação, também na travessa Ocidental de Baixo, e que desabou em parte.

 Apesar de estar protegido pelas redes de segurança, muitas crianças furaram o bloqueio e foram brincar próximo à área que desabou. “É tanta água que aqui está parecendo o ‘piscinão de Ramos’. Ninguém veio aqui ainda. Estamos esquecidos e isso ainda tem perigo de desabar”, contou uma moradora que preferiu não ser identificada.

 Neópolis aguarda nível das águas baixar em alguns pontos

Apesar das bombas das lagoas de captação de Pirangi e Jiqui estarem funcionando, o volume da água não havia diminuído em alguns pontos do bairro de Neópolis, na zona Sul. Águas ainda causavam transtorno aos motoristas e moradores nos conjuntos Pirangi e Jiqui.

O terreno da casa de Antônia Soares Ramos, de 58 anos se tornou uma extensão da lagoa de captação do conjunto Pirangi, na Av. Ayrton Senna. “Essa situação acontece sempre que chove, meu terreno fica alagado, moro aqui há 30 anos, pago um IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) de R$653,00 e ainda tenho que passar por isso”, lamentou a dona-de-casa.

A residência de Antônia Soares Ramos está localizada ao lado da lagoa de captação, na Av. Ayrton Senna. Metade do quintal estava tomado pela água suja e a plantação da família estava embaixo da água. “Tínhamos feijão, milho e batata plantados próximo à cerca que divide os dois terrenos”, disse a operadora de caixa, Girlene Soarez Alves. “Quando esquecem de ligar a bomba, a água invade minha casa e quando a água invade a Av. Ayton Senna, o volume daqui diminui”, completou.

O morador da Avenida Ayrton Senna, Aguinaldo Soares Gomes, conseguiu achar 39 placas de veículos que passaram no domingo e na segunda-feira no cruzamento das Avenidas Ayrton Senna e das Alagoas, em Neópolis.

Mesmo com pouco volume de água, ontem uma retro escavadeira, teve problemas no motor ao passar no pior ponto da Avenida Ayrton Senna, ao lado da lagoa de captação do Conjunto Pirangi.

O problema que enfrenta a família de dona Antônia se repete a cada chuva e os moradores estão descrentes em conseguir soluções dos órgãos. No conjunto Jiqui, em Neópolis, a panificadora Kaliane, está fechada desde a tarde de domingo, quando a chuva se intensificou e a água invadiu o estabelecimento. Na manhã de ontem, ainda havia água parada no cruzamento das ruas Delmiro Gouveia e Sebastião Barreto em Neópolis, em frente à panificadora.

O morador Valdir Ignácio, de 52 anos, informou que o proprietário da padaria estava em outro lugar, não sendo possível o contato ontem para saber o valor do prejuízo. “Passamos por muitos problemas com essa chuva. O pior é que agora temos que rezar para que não chova mais, pois sabemos que o problema vai se repetir”, lamentou o morador.

Tráfego foi liberado à tarde na BR 304

O trecho da BR-304 arrasado pelas chuvas do último domingo foi liberado para o trânsito na tarde de ontem. Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal, a pista no quilômetro 275, que havia sido levada pela enxurrada foi recomposta por piçarro, e liberada por volta das 15h de ontem.

Segundo o inspetor Góes, o trânsito pelo local foi retomado de imediato, já que os motoristas deixaram de fazer o desvio pela cidade de Ielmo Marinho. “O trânsito desengarrafou no mesmo momento”, contou o agente PRF. O aterramento em piçarro é uma medida paliativa, até que o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte providencie o reparo definitivo da pista que liga Natal a Mossoró.

Situação é mais crítica na Zona Norte

Na zona Norte de Natal, a situação é bem complicada. A lagoa de capitação do Conjunto Santarém transbordou e deixou uma rua inteira ilhada. Muitos moradores estão desde domingo sem poder sair de casa. E as crianças, alheias aos riscos, brincavam felizes na água suja que tomou conta da rua Tapirairi.

“Não tem problema não a gente ficar aqui. A gente não vai para a escola mesmo e lá em casa também está cheio de água”, disse uma das crianças que brincava no meio da lagoa improvisada. Enquanto isso, a avó, preocupada com a situação, tentava retirar as crianças da água suja.

“Tem água em todo canto, meu quintal virou uma lagoa, quer dizer, tudo aqui virou uma lagoa. Minha casa tem água na altura do meu joelho. Perdi quase tudo e só hoje (terça-feira) tive condições de começar a limpar as coisas porque a água está baixando mais. Mas aqui fora, não tem condições. Meus netos nem para aula estão indo porque não tem como sair de casa sem se molhar”, contou a dona-de-casa. Ela disse ainda que quando chove sempre alaga as ruas, mas que nunca a lagoa havia transbordado.

De acordo com a assistente social do Núcleo de Ação Social do Santarém, Edna Maria de Oliveira, na segunda-feira, a sede do núcleo serviu como base para o Plantão Social da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas). “Várias famílias vieram aqui para a escola, todas foram cadastradas para receberem colchões e cestas básicas. Nenhuma pessoa ficou desabrigada e todos os moradores voltaram para as suas casas”, disse Edna.

A chuva também, provocou estragos em outros pontos da zona Norte. No Loteamento Aliança, as casa não foram invadidas pela água, mas as ruas se transformaram em verdadeiras crateras. Em alguns lugares, como na rua Abimael Florêncio Bernardes, os carros não conseguiam passar, tantos eram os buracos.

Secretário de Obras garante fazer recuperação

O secretario municipal de Obras e viação, Damião Pita, garantiu que os trabalhos de recuperação já começaram a ser feitos. “O dia ontem permitiu que iniciássemos os trabalhos e passamos o dia todo trabalhando no bairro de Felipe Camarão. Os próximos pontos serão as avenidas Afonso Pena e prudente de Morais, próximo ao Machadão”, disse o secretário.

Com relação às lagoas de captação, ele garantiu que todas as bombas estavam funcionando normalmente e que o problema do transbordamento foi causado pelo volume de chuvas. Segundo ele, apenas seis lagoas transbordaram. Foram elas: Lagoa de São Conrado (bairro de Nazaré),do Preá (Nova Descoberta), do Sarney (Santarém) uma no Parque das Dunas, outra no Cidade Jardim e outra na avenida Seis.

“Na época quando foram construídas, calculamos para a quantidade média de chuva de 120 milímetros, mas só no fim de semana choveu 242, não dá para suportar. Não temos previsão para aumentar a capacidade das lagoas porque para isso seriam necessárias várias desapropriações. E é uma questão complicada porque quando as casas alagam todo mundo reclama, mas ninguém quer sair de suas casas”, disse o secretário.

“Toda vida que chove é a mesma coisa, a lagoa de captação transborda e as casas aqui da rua enchem de água e ninguém faz nada”. Essa é a reclamação do aposentado Antônio Rivanildo da Silva, que teve sua casa na av. Seis invadida pela água. Segundo ele, tudo isso aconteceu porque uma das bombas da lagoa de captação da avenida Seis, estava desligada. “No domingo de tarde eu liguei para Damião Pita avisando do problema, só a noite é que um homem veio aqui e ligou a outra bomba. Mas também não demorou muito e a outra bomba quebrou. Aí deu no que deu… Casas alagadas”, disse.

Pior do que  Rivanildo, ficaram as irmãs Ana Lúcia e Cecília da Silva. As duas perderam praticamente todos os móveis. “Os móveis que não se desmontaram tivemos que amarrar no teto ou colocar em cima de alguma coisa”, disse Cecília.

O muro lateral da casa desabou e por pouco ninguém ficou ferido. “O muro caiu direto no portão aqui da cozinha, a sorte é que ninguém estava perto. Passamos o domingo ligando para o Corpo de Bombeiros, mas até agora ninguém veio aqui”, reclamou Ana Lúcia.

Não bastasse a quantidade de água que entrou na casa, as marcas d’água ficaram na metade da parede, restos de fossa, insetos e cobras também foram trazidos para dentro da casa. “Achamos escorpião, barata, rato  e até cobra tiramos aqui de dentro, lamentou Cecília.

Emparn prevê mais chuvas para o litoral

De acordo com o setor de meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), a previsão é de mais chuvas para os próximos dias. “Existe sim previsão de chuvas para os próximos dias, principalmente hoje, mas não vai ser como domingo. As chuvas serão mais fracas porque não deu tempo de formar tanta chuva”, disse o meteorologista Gilmar Bristot.

Ainda segundo ele, quando o céu está muito claro, é sinal que no dia seguinte pode chover. “Foi o que aconteceu no final de semana. No sábado estava um tempo bom e no domingo choveu bastante. Não é que a chuva de domingo vai se repetir, mas pode chover”.

A previsão para hoje é de céu nublado com pancadas de chuva pela manhã, no litoral. No interior do Estado o céu fica de nublado a claro. Em Natal, a temperatura varia em mínima de 22,3ºC e máxima de 28ºC.

Açudes na regiãodo Serido ainda estão sangrando

Enquanto as chuvas que caem na capital provocam destruição, os sertanejos do Rio Grande do Norte ainda festejam as benesses trazidas pelas últimas chuvas. “Dos 13 açudes que o DNOCS de Caicó toma conta, nove ainda estão sangrando.  No Seridó, a maioria dos açudes continuam sangrando.

Mesmo tendo estiado um pouco, os nossos reservatórios terão água, pelo menos, nos próximos três anos disse o agrônomo do DNOCS, Eduardo José de Farias. Em Acari, as garças ainda brincam em meio à sangria do Gargalheiras, construído graças a paisagem deslumbrante que chama atenção de quem passa. A lâmina de água  é de oito centímetros.

“Mesmo com toda a chuva que caiu, o Gargalheiras ainda não está dando peixe e nem camarão. Os pescadores estão indo para Cruzeta e Barragem porque aqui não tem nada. Mas isso é o que dá, só querer usar sem cuidar”, disse Maria Daguia de Oliveira Medeiros, que trabalha na colônia de pescadores de Acari. De acordo com o agrônomo do DNOCS, o Itans, açude de Caicó, continua sangrando. Isso graças à chuva que caiu. Até o final de maio, choveu 810 milímetros, uma marca bem superior a média que é de 610 milímetros.

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