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Moradores resistem e continuam no Alecrim

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Aura Mazda
repórter

As histórias mapeadas nas esquinas, praças, construções e principalmente na memória dos  moradores que dão o tom ao Alecrim. O bairro, que nasceu em volta de um cemitério de mesmo nome, na zona Leste de Natal, guarda na memória de seus moradores, ricas histórias de seus 114 anos de vida.  Um lugar de muitos relatos , pioneiro no cinema falado em Natal, do teatrinho do povo (Teatro Sandoval Wanderley), do Teatro Jesiel Figueiredo, do Cinema São Luís e outros lugares da sétima arte.
Iracema Miguel da Silva, 86 anos vive a 64 anos da Avenida Presidente Quaresma, no Alecrim
As marcas do tempo cravadas no corpo frágil e encurvado da comerciante Iracema Miguel da Silva, 86 anos, ao passo que escancaram a velhice, escondem histórias da vida da moradora com o bairro do Alecrim, onde mora há 64 anos. Residente em uma das poucas casas da  Avenida Presidente Quaresma, onde acontece a tradicional Feira do Alecrim, aos sábados, Iracema lembra do cenário completamente  de quando foi morar no local.

#SAIBAMAIS#Iracema conta que na época em que foi morar na Avenida Presidente Quaresma, no início da década de 50, no local existiam apenas casas de taipa e um sítio de goiabeiras, a rua era de terra, calçada posteriormente por pelo prefeito Djalma Maranhão. Atualmente,  a rua é povoada de lojas que vendem desde artigos para festa como frutas e verduras. “Isso aqui mudou muito, não sei nem dizer o quanto, antes só existiam residências”, lembra a moradora. A comerciante  orgulha-se ao contar que criou as cinco filhas no bairro, de onde “só quero sair para o cemitério, que também fica aqui”.

O antigo bairro descrito por Luís da Câmara Cascudo em sua “História da Cidade do Natal”, como um local descampado, terra de roçados de mandioca e de milho, zona de caçada para os morros, hoje é formado por proporções maiores.  “Umas quatro casinhas de taipa, cobertas de palha, sem reboco, denominadas de capuabas, estavam dispersas num âmbito de légua quadrada”, descreveu Cascudo.

O perfil do bairro começou a ser delineado a partir da administração do Prefeito Omar O’Grady, que, em 1929, convidou o arquiteto italiano Giacomo Palumbo, para traçar o Plano de Sistematização para expansão urbana da cidade. Conta-se que Palumbo, sob a influência da cultura americana, desenhou um traçado com avenidas e ruas largas, as quais registravam com números. Da Avenida 1 até a Avenida 12, houve a associação da numeração com o nome de personagens históricos, intercalados com nomes de tribos.

Entre espremidas barracas de camelô e lojas de artigos diversos, a “Vila Luz” resiste à especulação imobiliária por décadas. O local, que  fica na avenida Coronel Estevam, próxima ao camelódromo, abriga 26 residências. Uma das casas, é moradia da aposentada Maria Lucia dos Santos, 63 anos, que há meio século escolheu o bairro do Alecrim para viver com o marido e criar 9 filhos.

Sentada na calçada de casa, enquanto costura o short da neta mais nova, Maria Lucia pincela cenários e acontecimentos do “antigo Alecrim”. A aposentada recorda que onde hoje funciona a loja Ponto dos Botões, funcionava a “Pipoquinha”, tradicional loja de bocas. Por pelo menos três meses, o circo do palhaço “Facilita” fazia alegria das crianças do bairro. “Tempo em que se podia deixar as crianças brincando na rua sem nenhuma preocupação”, disse.

Um dos acontecimentos que marcaram Maria Lucia foi o comício  realizado em abril de 1984, com a presença de lideranças nacionais como Ulysses  Guimarães, Tancredo Neves e Aluizio Alves,  que levou uma  multidão à Praça Gentil Ferreira. O público foi estimado pela polícia militar em 60 mil pessoas. “Nunca vi tanta gente reunida nesse bairro, foi uma festa só”, recorda Maria.

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