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Moralidade e Moralismo

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Luiz Alfredo Raposo
Economista

Na guerra à corrupção, o modelo moralista e o “cínico-realista” supõem um front punitivo, a cargo do aparelho judiciário-policial, e outro preventivo. E aqui, um oceano os separa. Os moralistas partem do nojo ao corrupto e querem prevenir via limpeza ética: converter a maioria e lançar os réprobos na geena. Creem em particular que a honestidade não se candidata e lançam o anátema sobre a classe política vivente. Para guiar a nau do Estado, só novos nautas, santos homens que nunca tenham navegado.

E haja pergunta cheia de graça! Como levar os bons à disputa de mandatos? Por condução coercitiva? Como formar o sacro colégio que os escolherá? Em que faces ver a bondade previamente à experiência? Não dizia Santo Antão que todos são puros, antes da tentação? Assim, o puro de hoje bem pode ser o corrupto de amanhã. Fora isso, como garantir que os bons serão eleitos? Não seria preciso, antes, a conversão geral dos eleitores? Mas, para tão vasta messe, cadê os operários? E as questões rodopiam, como um cão atrás da própria cauda.

Nesta crise, o moralismo só deu uma cria danada: o sentimento de podridão geral na área pública, o sonho de recomeçar do zero, o furor de castigar. Ninguém reclama prevenção. Não fosse o novo governo pôr trancas nas estatais críticas, a ação preventiva teria sido nula.. E o aparelho repressor afundaria em trabalhos sem fim. Andando sempre para trás, à busca de malfeito antigos. E o neocorrupto talvez se animasse: “posso ir adiante, sem medo de ser feliz”…

E eu lembro um banqueiro que só tinha fé na natureza. E negava a probidade-virtude. Joia natural, dizia, rara aversão aquisitiva, hostil à tentação. Não assim a probidade adquirida, a comum, meio epidérmica. E essa retórica tinha algo de cristã. O dono, falso ímpio, só repetia Santo Antão, para revelar que à solução do moralista preferia a do engenheiro, de evitar ocasião. Ou seja, blindar-se com controles contra o homo vulgaris, seu fatal empregado. E eu logo vi, aí, mais que o cínico, o sensato. A solução dava fim ao afã de punir.  Nela, aliás, estava a famosa ideia da Cibernética: fazer mecanismos infalíveis com peças falíveis. Ideia medular do mundo de hoje.

Aplicá-la ao setor público, como arma preventiva, é o mais urgente depois da ação anticrise.  Mas cadê condição, ante a força da onda moralista? Ela detém a economia. Paralisa, como agora, governo e Congresso. Sobrecarrega a Justiça. E é a mãe de desvarios autoritários, como a intentona em curso contra o governo Temer. Mais que imoral, essa onda virou coisa feita. Possessão que consome a alma do país. Há que exorcizá-la em artigos, posts, discursos… Só livre da obsessão, pode ele levantar e reaver seu futuro.

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