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Morar na praia, comer e andar de táxi pesam mais em Natal

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Andrielle Mendes – repórter de Economia

Viver em Natal custa
caro. Foi o que o estudante de mestrado Fabrício Costa Silva, 24 anos,
descobriu depois de mudar-se para a capital potiguar há pouco mais de um
ano. Natural de Caetité, a 750 km de Salvador, Fabrício desembarcou em
Natal em março de 2010. Percebeu, logo na primeira compra, que
desembolsaria um pouco mais para levar os mesmos itens para casa. Natal
tem a cesta básica, a locação de apartamento e a bandeirada de táxi mais
caras do Nordeste. Enquanto a locação de um apartamento com três
quartos (um suíte), na orla de Natal sai por, aproximadamente, R$1,5
mil. Em Salvador, fica em torno de R$800. No máximo, R$1 mil.

A explicação é simples. Pelo menos, na ótica do corretor  Pedro Viegas,
especialista em locação de imóveis, da ReMax imobiliária – que está
presente  em todos os estados do Nordeste – que faz os cálculos: “em
Salvador, a oferta de apartamentos é bem maior”. De acordo com Viegas, a
lei da oferta e da procura, uma das mais conhecidas leis do
capitalismo, está por trás do alto custo de vida em Natal. A
justificativa dele é amparada pelo pensamento de economistas como o
professor Willami Pereira, do Departamento de Economia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O argumento também se estende a outros segmentos, além do  imobiliário.
“Temos poucas indústrias e a oferta de bens primários é pequena para uma
população que cresce de forma significativa. Essa pequena oferta frente
a grande demanda – fruto tanto do crescimento da população como da
renda – provoca fortes elevações nos preços internos. Há também um
problema vinculado a cartelização de algumas atividades produtivas que
encarecem os produtos. Soma-se a essa pressão entre oferta e demanda a
ineficiência de determinados órgãos públicos em fiscalizar, regular e
dificultar os aumentos generalizados”, analisa Willami.

A lei da oferta e da procura explica o que ocorre com a locação de
apartamentos, principalmente os localizados nas orlas das capitais, que
são os mais procurados. Mas e o táxi? Por que Natal tem a bandeirada
mais cara do Nordeste? A tarifa de táxi, segundo Alexis Manguinho,
presidente do Sindicato dos Taxistas de Natal, acabou de ser reajustada
em 7%. Isso, segundo ele, fez a bandeirada de Natal – o valor fixo
registrado no taxímetro quando começa a corrida – se sobressair na
região e até no País. “Quando as outras tarifas forem reajustadas, as
outras capitais nordestinas vão encostar em Natal”, prevê. Manguinho
também tem outras justificativas. “Nosso trabalho é diferente; nossa
cidade é pequena; nossas corridas são menores; o passageiro passa pouco
tempo no nosso carro; nossa frota é de alta de qualidade; nossos
motoristas passam por capacitação constante. Tudo isso influencia o
preço”.

A cesta básica de Natal, segundo último levantamento realizado pelo
Dieese-RN, também é a mais cara da Região. Levar os mesmos 12 itens para
casa custa R$5,03 a mais em Natal do que em Fortaleza, capital com a
segunda cesta básica mais cara no Nordeste. Segundo Melquisedec Moreira,
supervisor do Dieese/RN, vários fatores interferem no preço final da
cesta básica.

“A maioria dos natalenses prefere comprar em grandes redes, que praticam
preços mais elevados. Isso eleva um pouco o preço”, afirma Melqui.
Impostos e importação de alguns produtos também pesam na conta. “O
estado não produz praticamente nada ou muito pouco do que está na cesta
básica. A produção não é suficiente para baixar os preços”, complementa
Marcus Guedes, economista. O preço da cesta básica, como ele lembra,
repercute no valor cobrado pelos restaurantes e barzinhos da capital,
mais alto em cidades turísticas.

Por que temos a bandeirada mais cara do Nordeste?

O nosso trabalho é diferente. Nossa cidade
é pequena; nossas corridas são menores; o passageiro passa pouco tempo
no nosso carro; nossa frota é de alta de qualidade; nossos motoristas
são capacitados e passam por capacitação constante. Tudo isso influencia o preço”.

Alexis Manguinho – presidente do Sindicato dos Taxistas de Natal

Por que temos a cesta básica mais cara do Nordeste?

Alguns fatores interferem no preço final da cesta básica. A majoração
dos preços aqui é mais forte que nos outros Estados. A maioria dos
natalenses prefere comprar em grandes redes, que praticam preços mais
elevados. Isso eleva um pouco o preço. Em João Pessoa, por exemplo, 40%
das compras são feitas em mercados públicos e feirinhas populares. Aqui é
diferente. Impostos e importação de alguns produtos também pesam na
conta. Além disso, há um pouco de especulação.

Melquisedec Moreira – supervisor do Dieese-RN

Peso leva à mudança de hábitos

O custo elevado de itens como alimentação, roupas e táxi, em Natal, levou o estudante de mestrado, Fabrício Costa Silva, 24 anos, a mudar alguns hábitos. Há pouco mais de um ano na capital potiguar, o baiano teve que cortar vários gastos para não extrapolar o orçamento (R$1,5 mil). “Tive que me adaptar quando cheguei a Natal. Achei as roupas bem caras. Senti logo a diferença no preço. A mesma roupa que comprava lá na Bahia, achei aqui até R$20 mais cara. Decidi comprar só o que precisava. O que era mais urgente”. Mas não são só as roupas que custam mais em Natal, segundo constatou Fabrício.

Apesar de pagar mais pelos mesmos serviços em Natal, Fabrício não pretende retornar para a Bahia quando concluir o mestrado“A alimentação também é mais cara. Para comer algo com a mesma qualidade que comia na Bahia, gasto o dobro aqui. Posso até pagar a mesma quantia, mas não fico satisfeito com a qualidade. Na Bahia, faço uma boa refeição com R$7. Aqui gasto, no mínimo, R$ 15 – mais que o dobro”. Em Vitória da Conquista, a 509 km de Salvador, cidade onde morou durante cinco anos, Fabrício costumava almoçar fora nos finais de semana. Ia sempre para uma churrascaria “comer  feijão tropeiro, salada, carne”. Em Natal, limitou o número de saídas. Principalmente, durante a noite. “Não tenho carro”, justifica. Mas essa não é a única razão para, de uma hora para outra, Fabrício ficar mais ‘caseiro’. “Vitória da Conquista é menor que Natal. Aqui, dependendo do lugar, vou gastar muito com táxi. Isto é um problema. Muitas vezes prefiro não sair”, afirma. A tarifa de táxi em Natal, a mais cara do Nordeste, como admite o próprio Sindicado dos Taxistas de Natal, não é o único empecilho para Fabrício sair com os amigos durante a noite. “Sair à noite custa muito caro em Natal. Tem barzinho que cobra R$20 só para você entrar. Lá dentro, você vai consumir, e gastar, muito mais. Lá na minha cidade, a gente sai com pouco dinheiro, come, bebe, e ainda volta para casa de táxi”, relata.

Apesar de pagar mais pelos mesmos serviços em Natal, Fabrício não pretende retornar para a Bahia quando concluir o mestrado. “Aqui a qualidade de vida é muito boa. O custo-benefício compensa. Algumas coisas são bem caras, mas é bom viver aqui nesta cidade”.

Reduzir impostos ajudaria a baratear cidade

Parar barrar a elevação dos preços e tirar Natal da lista de capitais nordestinas mais caras, o economista Willami Pereira recomenda a redução de impostos sobre bens e serviços relacionados ao consumo popular e a ampliação da infraestrutura de transportes para reduzir os custos das empresas que utilizam esses transportes. Ele também propõe o estabelecimento de um IPTU progressivo para evitar especulação nos poucos terrenos existentes em Natal e imediações.    

Estímulos e subsídios ao transporte público para reduzir o uso de carros particulares e consequentemente promover redução no consumo de combustíveis poderiam puxar os valores para baixo também. “Várias medidas podem ser adotadas pelos governantes e pela sociedade para reduzir essa “cultura” de altos preços na cidade”, resume Willami Pereira, do Departamento de Economia da UFRN. “Para atenuar a elevação de preços é fundamental que a população pesquise e consuma regradamente, e o governo, através dos órgãos pertinentes,  fiscalize e  amplie a oferta por parte dos produtores”, acrescenta.

O estímulo a oferta de bens primários e industriais pode frear a elevação dos preços em Natal e reduzir o custo de vida na capital potiguar. Embora faça uma série de recomendações ao Estado e aos natalenses, o economista não vê a posição de Natal de forma pessimista. “É necessário apenas ampliar os investimentos e  estímulos para não ficarmos muito atrasados em relação aos outros estados, em particular aos três grandes (Bahia, Pernambuco e Ceará)”.

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