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Moro presta depoimento por mais de seis horas

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São Paulo, 02 (AE) – O ex-ministro Sérgio Moro prestou depoimento neste sábado (2) na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba no inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal para apurar tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na corporação. A oitiva já durava mais de seis horas e não havia sido encerrada até a conclusão desta matéria.
A investigação foi instaurada pelo decano do STF, ministro Celso de Mello, após as acusações do ex-juiz da Lava Jato em seu anuncio de demissão, na semana passada.
O depoimento foi colhido em meio a um clima de tensão. Moro chegou à PF na capital paranaense por volta de 13h. Antes, pela manhã, Bolsonaro chamou seu ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública de “Judas” – o presidente divulgou vídeo nas redes sociais em que uma pessoa não identificada diz ter ouvido vozes de outras pessoas que falariam com Adélio Bispo de Oliveira, autor do atentado a faca contra o então candidato presidencial em 2018 (inquérito da PF concluiu que o esfaqueador agiu sozinho).
Ainda pela manhã, ao deixar o Palácio do Alvorada, o presidente evitou a imprensa, mas disse a apoiadores que não será alvo de nenhum “golpe” em seu governo. “Ninguém vai fazer nada ao arrepio da Constituição. Ninguém vai querer dar o golpe para cima de mim, não”, afirmou.
Durante o depoimento de Moro, grupos de manifestantes pró-governo e a favor do ex-ministro se concentraram na entrada do prédio da PF. Dezenas de bolsonaristas chamaram o ex-ministro de “rato” e “Judas” – a mesma comparação utilizada por Bolsonaro nas redes sociais. Um outro grupo levou faixas de apoio ao ex-ministro e à Operação Lava Jato.
Moro acusou Bolsonaro de decidir trocar o comando da PF para obter informações e relatórios sigilosos de investigações. O Planalto se preocupa com o andamento de inquéritos que apuram esquemas de divulgação de “fake news” e financiamento de atos antidemocráticos realizados em abril, em Brasília.
A troca de comando na PF foi barrada por liminar do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que viu indícios de desvio de poder na nomeação de Alexandre Ramagem, diretor da Abin, para a chefia da corporação. Ramagem é próximo de Bolsonaro e amigo dos filhos do presidente. A indicação foi anulada pelo Planalto e o presidente ainda estuda recursos contra a decisão judicial.
Um grupo de manifestantes pró-Bolsonaro fez um protesto ontem em frente ao prédio onde Moraes possui residência, em São Paulo. Com uso de um megafone, cerca de 20 manifestantes, com carros parados na calçada cobertos com a bandeira do Brasil, xingavam Moraes e pediam para que ele descesse até a rua. O ministro foi chamado de “comunista que não gosta de polícia” e que estava “com medo do Ramagem”.
Moro foi ouvido neste sábado pela delegada Christiane Corrêa Machado, chefe do Setor de Inquéritos Especiais do Supremo Tribunal Federal. O ex-ministro prometeu apresentar provas “em momento oportuno” no inquérito que tramita no Supremo. Conforme apurou o jornal O Estado de São Paulo, o material juntado pelo ex-juiz da Lava Jato incluiu áudios e inúmeras trocas de mensagens pessoais e de governo trocadas com o presidente pelo WhatsApp. Moro prestou depoimento acompanhado de advogado e não falou com a imprensa ao chegar na sede da PF em Curitiba.
O inquérito aberto a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, mira tanto o presidente quanto Moro. O ex-ministro é investigado por suposta denunciação caluniosa e crime contra a honra. A PGR foi representada pelos procuradores João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita – este último integrou o grupo de trabalho da Lava Jato dentro da Procuradoria-Geral desde a gestão Raquel Dodge.
Ao autorizar na segunda-feira passada a abertura do inquérito, em uma decisão de 17 páginas, Celso de Mello observou que o presidente da República “também é súdito das leis”, apesar de ocupar uma “posição hegemônica” na estrutura política brasileira.
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