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Mortes em trabalho crescem no RN

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Marcelo Lima
Repórter

Morrer no trabalho tem se tornado mais comum no Rio Grande do Norte. Embora os números de acidentes venham diminuindo nos primeiros anos dessa década, a quantidade de mortes vem aumentando. Em 2011, foram 20 trabalhadores mortos. No ano seguinte, 21. Em 2013, 27 pessoas morreram no emprego.  Só de pensão por morte, o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) paga R$ 13,5 milhões às famílias. Se somados com auxílio-doença por acidente de trabalho e aposentadorias por invalidez, o total chega a R$ 26,6 milhões mensais.
Depois dos trabalhadores rurais, os supermercados são locais onde os trabalhadores mais têm doenças/acidentes do trabalho
#SAIBAMAIS#O INSS informou que seus sistemas não descrevem qual seria a atividade laboral do beneficiário nem a doença de trabalho causadora do benefício. Mas com a experiência na área, a Procuradora do Trabalho, Ilena Neiva, informou que os trabalhadores rurais são as maiores vítimas. No início deste ano, um trabalhador foi morto por uma máquina de moagem de cana em Baía Formosa. O funcionário de 54 anos só estava há três meses de carteira assinada na empresa. O local onde ocorreu a morte foi classificado como de “risco grave e iminente” pelo auditor fiscal do trabalho que foi ao local para analisar o ambiente depois do acidente.

Segundo a Análise de Acidente do Trabalho, a máquina tinha um defeito. A esteira não conseguia elevar as hastes de cana-de-açúcar até onde era necessário. Dessa forma, funcionários da usina tinham que recolher os pedaços de cana com ferramentas manuais. Para fazer isso, os trabalhadores tinham que ficar muito próximos das engrenagens da esteira de elevação a qual não tinha proteção alguma. Sob exigência do auditor do trabalho, a empresa implantou uma barreira de aço fixa e colocou um botão de emergência em um lugar de fácil acesso com a finalidade de parar a máquina.

Mesmo assim, foram lavrados três autos de infração contra a empresa. “A vítima do acidente, classificada na sua CTPS como trabalhador rural, não recebeu nenhuma capacitação que permitisse reconhecer os riscos a que estava exposto, bem como as medidas de proteção, durante intervenção em proximidade de áreas de perigo de máquinas”, concluiu o auditor. Antes disso, a mesma empresa já havia firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho para regularizar o ambiente, as relações e as atividades  de trabalho. O não cumprimento das cláusulas resultaria em multa mensal de R$10 mil. O acordo extrajudicial fora firmado em 2012. Com o acidente no início deste ano, a Procuradoria Regional do Trabalho resolveu pedir a execução na justiça.

Readaptação

Depois dos trabalhadores rurais, os supermercados são aqueles onde os trabalhadores mais têm doenças/acidentes do trabalho. Simone Nascimento – nome fictício usado para preservar a trabalhadora – há dois anos adquiriu tendinite e bursite por conta dos pesos alimentos que tem que manusear como operadora de caixa mais de sete horas por dia.

Ela começou na empresa ainda como aprendiz há sete anos. Foi efetivada, mas hoje enfrenta uma relação de trabalho desgastada em função da exploração que a empresa quer lhe impor. Depois que voltou a licença maternidade, sua carga horária diária foi reduzida para 6 horas. Entretanto, a jovem de 25 anos permanece com dores e na mesma função que gerou a tendinite no braço e bursite no ombro.

Ela já fez fisioterapia e pediu para ficar em um caixa que só realiza pagamentos, mas não conseguiu. “Eles dizem ‘se você não quer trabalhar, peça as contas’, ou ‘se você está aqui é para trabalhar’”, reproduziu o discurso de seus chefes imediatos. Simone já levou até um laudo médico recomendando a mudança de função. Mas a empresa negou. “Eles dizem assim ‘se eu for atender o que todo mundo quiser, não dá’”, contou a conversa com sua chefe. Além disso, a justificativa para não acatar a recomendação médica era porque o laudo havia sido por escrito, e não digitado. Ficar no caixa exclusivo de pagamento seria a saída para a jovem, já que o operador não lida com pesos. “Tem gente que nem tem tendinite e eles colocam no caixa de pagamentos. Estão fazendo pressão mesmo para eu pedir minhas contas. Nessa época, nos caixas da frente aumenta muito as compras em grandes quantidades, como fardos de leite”, falou.

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