Felipe Salustino
Repórter
O número de óbitos por covid-19 no Rio Grande do Norte caiu 65,35% em julho passado, se comparado ao mês anterior, conforme dados da ferramenta Coronavírus RN, do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, (LAIS/UFRN). Os casos confirmados da doença no Estado reduziram ainda mais: 67,74% no mesmo período. Os números de julho ainda estão sob revisão, mas, se confirmados, o RN registrará os índices mais baixos da pandemia em 2021 até o momento.
A ferramenta do LAIS indica que o Estado registrou 211 óbitos por covid-19 no mês passado, ante 609 mortes em junho deste ano. Em 2021, janeiro tinha apresentado o menor número até então: 313. Já os dados sobre os casos confirmados de covid-19 são os seguintes: 9.958 em julho contra 30.868 em junho. Janeiro também era o mês com menos registros de casos em 2021 até então: 20.285.
A média móvel sobre confirmações da doença e mortes provocadas pelo agravamento da infecção também colocam julho com os melhores números do ano até agora: em sete dias, a média móvel de casos confirmados ficou em 72.57, índice contabilizado em 31 de julho. Nesse caso, o número é semelhante a patamares de abril de 2020. Desde então, a média móvel de confirmações para a doença no RN se mantinha acima de 100. Em março deste ano, quando houve o repique da pandemia, o índice ficou em valores superiores a 2.000.
Para os óbitos, a média móvel foi de 4,43 em 31 de julho. Nesse caso, os números se assemelham a novembro de 2020, quando o Estado apresentava situação mais confortável em relação à pandemia. O diretor executivo do LAIS/UFRN, Ricardo Valentim, explica que a média móvel é importante para a compreensão de um cenário mais amplo da pandemia.
“Os dados diários sempre oscilam: tem dias em que aumentam e tem dias em que diminuem. A média móvel ajuda a observar o comportamento da semana, porque os dados diários têm uma imprecisão maior. Olhar o gráfico e ver que, em uma semana ou em quinze dias, ele está reduzindo, significa que realmente a pandemia está declinando”, explicou.
Outro dado que indica melhoras no cenário da pandemia no Rio Grande do Norte, é o Indicador Composto, avaliação periódica feita pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) e a UFRN para acompanhar a evolução da doença. O Indicador utiliza pontuações (score) de 1 a 5 para traçar um panorama do comportamento da doença nos municípios potiguares. Quanto mais perto de 1, mais confortável é a situação; quanto mais próximo de 5, mais preocupante é o cenário.
Os dados são revisados semanalmente. Entre 27 de julho e 2 de agosto, 101 municípios apresentaram pontuação 2; 37 tiveram pontuação 1; 25 receberam pontuação 3; e 4 obtiveram pontuação 4. Nenhum município recebeu score 5. Juntas, as cidades com melhor situação (score 1 e 2) representam 82,63% dos municípios potiguares.
Ainda de acordo com o estudo, na última semana, 13 cidades apresentaram piora na evolução da doença em relação aos sete dias anteriores; 107 se mantiveram estáveis e 47 demonstraram melhora. Os quatro municípios em situação mais crítica (com pontuação 4) são Vila Flor, Messias Targino, Patu e Pilões. No acumulado, a pontuação para o RN é 2.
Tendência
O diretor executivo do LAIS/UFRN, Ricardo Valentim, avalia que a tendência é a de que os números, os quais de um modo geral apresentam sucessivas quedas desde junho deste ano, sigam em declínio, graças ao avanço do processo de imunização no Estado.
“Viemos de uma redução constante em todas as estatísticas da pandemia, que se acelerou ainda mais nos últimos dias. Esse cenário vai se manter e o que tem sido determinante para isso é a imunização da população. Mais de 50% dos potiguares da quinta fase prevista no PNI já estão vacinados, que são aqueles com 18 anos ou mais”, esclarece.
“Já imunizamos muita gente acima dos 40 anos e, como a vacinação permanece, teremos uma redução ainda maior dos pedidos por internação, que é o parâmetro mais importante a se observar hoje”, sublinha. De acordo com a Sesap, a média de solicitação/dia por leitos na rede Estadual de Saúde em julho foi de 38. Em maio, era de 150, uma redução de um quarto.
Observar o número de pedidos por internação, segundo Valentim, dará uma ideia de como a doença se comporta em meio ao processo de vacinação. “Com a população imunizada, mesmo que haja aumento dos casos diários, eles não terão importância para a internação. As pessoas poderão, eventualmente, adoecer, mas de uma forma moderada”, afirma
Apesar da redução nos demais parâmetros, a taxa de letalidade de julho é a segunda maior de 2021 (2.12%), atrás somente do mês de abril (2.31%). A razão para isso, afirma Valentim, é que os dados do mês passado ainda estão em revisão.
“Os números das últimas semanas serão consolidados, porque existe sempre um atraso em relação à confirmação de novos casos diários, decorrente da demora do resultado de alguns testes. A taxa de letalidade é calculada com o número de óbitos dividido pelo de casos confirmados. Quando os dados em revisão forem concretizados, os casos terão aumento e a letalidade cai”, detalha.
Baixa procura modifica serviços de saúde
Os efeitos da redução dos números da pandemia no Rio Grande do Norte têm provocado mudanças na rede de assistência a pacientes acometidos pela covid-19. Em Natal, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS Natal), transferiu, na última sexta-feira (30), os atendimentos do Cemure para as Unidades Básicas de Saúde das zona Sul e Oeste. O motivo, segundo explicou a pasta, é a baixa procura pelos serviços relacionados à pandemia no Cemure.
“Transferimos os serviços para essas regiões porque são as áreas de onde a gente mais recebia pacientes no Cemure. Agora, são seis unidades básicas dessas zonas administrativas que ofertam os mesmos serviços, com dispensação de medicamentos e testes SWAB, mediante prescrição médica. Essa transferência aconteceu porque nós estávamos sem demanda no Cemure”, explicou a secretária-adjunta da SMS Natal, Rayanne Araújo.
Os atendimentos realizados nas Unidades Básicas de Saúde da capital e no Ginásio Nélio Dias, na zona Norte, que já vinha ocorrendo, continuam. Segundo Rayanne Araújo, o movimento tem sido tranquilo em todos os pontos da cidade. “A média de procura no Nélio Dias caiu bastante nas últimas semanas, variando de 20 a 50 atendimentos por dia, atualmente. No pico da pandemia, eram cerca de 200 atendimentos diários”, disse. A TRIBUNA DO NORTE esteve no Nélio Dias na terça-feira (3) e encontrou um ginásio praticamente vazio. “Nas UBS, a procura também está baixíssima. Estamos com 10 unidades funcionando em horário estendido, mas tem dias em que não há nenhum atendimento do tipo”, afirmou Rayanne.
A SMS informou também que a procura está mais afunilada, com pacientes jovens e que, em sua grande maioria, ainda não foram vacinados. “São pessoas que saem mais de casa e que, geralmente não estão imunizadas. São pacientes com sintomas leves, até porque a gente reforça que a população deve buscar atendimento já ao primeiro sinal de que possa estar infectada”, explicou.
Na rede estadual de Saúde, os reflexos podem ser notados no número de internações, que se mantém abaixo de 40%, mesmo com a reversão de leitos para outras patologias, conforme esclareceu a Sesap/RN. Atualmente, segundo a pasta estadual, a rede hospitalar do RN possui 706 leitos covid, sendo 352 leitos de UTI e 354 clínicos. A Secretaria afirmou ter revertido, até o momento, 45 leitos de UTI, divididos entre os hospitais Tarcísio Maia, em Mossoró, Coronel Pedro Germano (Hospital da Policia) e João Machado, em Natal, além do Hospital Telecila Freitas Fontes, em Caicó.
A Sesap reverteu, ainda, 50 leitos clínicos, nos hospitais regionais de Apodi, São Paulo do Potengi, Rafael Fernandes, Currais Novos e Caraúbas. Ainda nesta semana, a pasta prevê a reversão de 10 leitos de UTI, em Macaíba, para UTI geral. Outros leitos clínicos serão revertidos em João Câmara, Santo Antônio e Apodi, para a oferta de cirurgias eletivas.
