MAIS SISTEMÁTICO, talvez excessivamente organizado com as pequenas coisas. Talvez seja a idade que cresce rapidamente, talvez só um mero transtorno. A busca da organização externa é, em mim, muito sintomática de uma necessidade de reorganização interna. No Grande Sertão, Riobaldo chega a falar para o seu interlocutor silencioso, que só pontua nos raramentes: “O senhor me organiza.” De repente, a longa fala e a longa travessia de Riobaldo, em meio às veredas e caminhos espinhosos e cheios de perigos e alumbramentos, seja uma experiência psicanalítica. Ou, somente a vida, somente a vida, somente a vida.
A SOLIDÃO é um bom suporte para (re)organizar uma existência. A gente pinta melhor numa tela em branco.
O QUE MAIS ME COMOVEU no novo Almodóvar foi a forma como ele tratou da infância de um menino sonhador, sensível e talentoso. Independentemente daquilo em que um menino se transforma na idade adulta, são sempre assemelhados – pelo menos se aproximam em alguns pontos – os medos, as primeiras e ingênuas paixões, os riscos, o amor pela mãe, o olhar intenso e inquieto para o horizonte, as dores reais ou imaginárias (muitas vezes, lancinantes), o orgulho em não se deixar vencer. Na fase de adulto, o menino fica meio que perdido, dentro de um labirinto que criou para se tornar homem. Chega a ser desesperadora essa busca por um reencontro entre o homem e o menino que convivem no mesmo íntimo, mas separados e distantes. Quem os reúne novamente? Será que é sempre a mãe? Será que é sempre uma (outra) mulher? Qual e onde o fio de Ariadne?
FOLHEIO o exemplar n° 1 de “Natal do Século XX”, com a alegria imensa de tê-lo recebido das mãos de Fred Sizenando Rossiter Pinheiro, que o escreveu juntamente com o irmão Carlos Sizenando Rossiter Pinheiro. O livraço, que repetirá e ampliará o sucesso do anterior, “Dos Bondes ao Hippie Drive In”, de 2009, traz uma alegria nostálgica (isso é contraditório?!), também a tristeza de termos perdido tantas oportunidades históricas, tantas possibilidades de beleza e harmonia nesta terra ensolarada que é a Capital potiguar.