A velha e conhecida bandeira vermelha com o mapa do Brasil todo verde, circunscrito em um círculo branco, voltou a ser empunhada no meio da estrada em Canguaretama, cidade distante 67 km de Natal. Ontem, pela terceira vez neste mês, o Movimento dos Sem Terra no Rio Grande do Norte bloqueou a passagem no quilômetro 159 da BR-101, naquele município, cobrando do Governo Federal infra-estrutura, a vistoria de terras para desapropriação e mais agilidade na execução do Plano Nacional de Reforma Agrária. A pista ficou obstruída por oito horas, das 9h da manhã até às 17h.
Nos dois sentidos da rodovia, ônibus, carretas, caminhões e carros pequenos formaram filas com mais de um quilômetro de extensão. A manifestação do MST deixou os motoristas irritados — mais uma vez. Apesar do transtorno, não houve grande tensão. Homens da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar acompanharam de perto toda a movimentação para garantir que não houvesse conflito entre os sem-terra e os motoristas.
Às 12h20, depois de mais de quatro horas de bloqueio, os manifestantes resolveram liberar a BR por dez minutos. Grande parte dos veículos que estavam presos desde às 9h passou, mas não demorou para que novas filas, ainda maiores, se formassem após a estrada ser fechada novamente.
Para fazer a barreira, os manifestantes usaram pneus, troncos, pedras e galhos de uma árvore que acabara de ser cortada por eles. Os sem-terra gritavam palavras de ordem empunhando facões, foices e paus. Integrante da direção do MST Estadual, Francisco das Chagas Batista informou que no protesto estavam representantes de assentamentos de todo o Rio Grande do Norte.
Ele disse que o movimento fechou a estrada como forma de pressionar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “Estamos querendo as mesmas coisas de antes. Vistorias das áreas denunciadas, que são mais de cem, a negociação das dívidas com os bancos, infra-estrutura e agilidade na implantação do Plano Nacional de Reforma Agrária”, disse.
O sem-terra falou que o movimento está insatisfeito e impaciente com a política de reforma agrária do Governo Federal. Disse ainda que o Incra mente ao divulgar números maiores que os implementados na prática. “Eles falam em assentar 450 mil famílias até 2006, mas até agora só foram assentadas 115 mil famílias”.
A estrada só foi liberada definitivamente às 17h. As famílias desobstruíram a BR-101 com o objetivo de seguir até a sede do Incra no RN, em Natal, para se juntar a uma comissão do MST que acabara de ser recebida pelo superintendente do instituto.
Durante a manhã e grande parte da tarde de ontem, uma comissão esteve reunida com representantes da Secretaria Estadual de Assuntos Fundiários e Apoio à Reforma Agrária (Seara), ocasião em que cobrou ações na área de educação e saúde.