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Muito mais que rabiscos

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Isaac Ribeiro
Repórter

Ao entregar um lápis e um papel para uma criança pequena brincar, com certeza muita gente já se deparou com um resultado de riscos, rabiscos e formas estranhas, elaboradas livremente na tentativa — ou não! — de contar uma história ou representar aspectos de sua vida e de quem a cerca. Mas há quem não consiga enxergar nada além de rabiscos.

Quem enxerga (?) os desenhos infantis dessa forma simplória e limitada pode estar perdendo a oportunidade de ler a visão de mundo do filho ou pistas de seu entendimento sobre as coisas; alegrias, tristezas, anseios, sonhos, descontentamentos e um panorama inusitado de signos e símbolos.

#SAIBAMAIS#De acordo com a pedagoga Gilvânia Maurício Dias de Pontes, professora do Núcleo de Educação da Infância (NEI), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,  os desenhos falam do que as crianças sabem fazer, o que elas conseguem expressar, numa forma de representação de mundo. “A gente percebe a criança querendo desenhar o seu próprio corpo, a constituição do esquema corporal; desenhar o animalzinho que viu no parque, a cena que ele viveu em casa”.

Tradicional vs contemporânea
Os desenhos infantis e seus pequenos autores são analisados de formas distintas pelas principais correntes da Educação. Segundo Gilvânia Pontes, a escola contemporânea percebe a criança imersa na cultura, utilizando seus símbolos para fortalecer a criatividade dos pequenos. “A gente tem que ver o ensino do desenho também historicamente. Então, você tem, na escola tradicional, a cópia. A criança tinha que reproduzir um modelo feito pelo adulto, feito pelo artista. Então tinha que chegar naquela ideia estética da perfeição, da harmonia. Na escola nova já se valoriza  a expressão.”

Mas, por outro lado, a pedagoga pondera, não oferecer a imagem, a leitura de mundo, os elementos de cultura, era limitar a criança. “É possível trazer a imagem; é possível questionar a criança sobre sua leitura de imagens no mundo. E essas imagens são do cotidiano, do ambiente”, comentaela.

Um outro momento interessante é quando a criança começa a diferenciar o que é desenho e o que é escrita, experiemnetando, inclusive, suas aproximações. A professora do NEI comenta as semelhanças entre as duas expressões, e como uma parece ser o prolongamento da outra. Inicialmente, escrever é como desenhar. A criança vai inventando pseudo-letras  antes de utilizar as letras convencionais.

“Letra é uma convenção. É um símbolo mais elaborado. E o desenho é um símbolo muito próximo da realidade. A letra tem todo um sistema não icônico. Um código que a criança precisa se aperceber dele. E a primeira forma de aperceber é desenhar. Eles começam a desenhar e inventar outras marcas para dizer que é a escrita. As bolinhas, os tracinhos”, indica Gilvânia Pontes, que trabalha com crianças de 4 e 5 anos, bem na fase em que estão na busca da representação da realidade, construindo formas dessa representação.

“Eles estão começando a fazer isso. Os bem pequenininhos, os bebês de um ano ainda não fazem. O negócio deles é o desenho de ação. Eles riscam, a gente dá suporte diferente, coloca na parede, coloca no chão, dá o papel a três, a quatro”, relata a professora.

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