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Mulheres Insurgentes do Rio Grande do Norte

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Ramon Ribeiro
Repórter

Na luta eterna pela igualdade social entre homens e mulheres, vários foram os episódios de bravura feminina. No Rio Grande do Norte, onde o machismo é enraizado em tradições rurais e urbanas, histórias de mulheres que resolveram insurgir-se contra a ordem estabelecida são muitas e estão nas mais diversas áreas. Por exemplo, na política, quando em 1928 as potiguares surpreenderam o país ao participarem das eleições daquele ano, seja como eleitoras ou como candidatas, derrubando um impedimento secular. Resgatar a memória dessas mulheres, assim como a de outras figuras pioneiras, como Lucy Garcia Maia, primeira aviadora do Estado, é importante para compreender avanços atuais e incentivar a luta contra a desigualdade de gêneros, que ainda é enorme.

Alzira Soriano foi a primeira prefeita eleita da América do Sul

Alzira Soriano foi a primeira prefeita eleita da América do Sul

#SAIBAMAIS#No movimento sufragista nacional, as potiguares tem um lugar de destaque. Em 1928, quatro anos antes do presidente Getúlio Vargas assinar um decreto que autoriza o voto feminino, um grupo de 15 mulheres no Estado pode votar nas eleições municipais. Dentre elas, Celina Guimarães, a primeira brasileira a conseguir seu registro de eleitora, em 1927, em Mossoró.

Segundo informações do TRE-RN, exerceram o voto ao lado de Celina, Beatriz Leite e Eliza da Rocha Gurgel, em Mossoró. Antônia Fontoura, Carolina Wanderley, Júlia Barbosa e Lourdes Lamartine, votaram em Natal. Em Apodi, as primeiras eleitoras foram Hilda Lopes de Oliveira e Maria Salomé Diógenes. Em Pau dos Ferros, Clotilde Ramalho, Francisca Dantas, Carolina Fernandes Negreiros e Joana Cacilda Bessa. No Seridó, Júlia Medeiros votou em Caicó, e Martha Medeiros em Acari.

Algumas dessas mulheres foram além e se candidataram, sendo bem sucedidas nas urnas. Para o cargo de intendente municipal, equivalente a vereador, foram eleitas Júlia Barbosa em Natal e Joana Cacilda de Bessa em Pau dos Ferros. O caso mais emblemático foi o de Alzira Soriano. Embora não haja registros de que tenha exercido o voto, ela saiu candidata a prefeitura de Lajes e se elegeu, tornando a primeira prefeita eleita da América do Sul.

No apoio ao movimento sufragista local, é determinante o papel da feminista paulistana Bertha Lutz. Liderança nacional luta por direitos das mulheres, ela tinha trânsito entre alguns políticos da época, dentre eles, o então senador potiguar Juvenal Lamartine. Segundo a historiadora Marlene Mariz, Bertha soube convencer Lamartine da necessidade do voto feminino, o que levou o político a atuar localmente nesse sentido, articulando com o governador José Augusto de Medeiros. O resultado foi a inclusão do artigo 77 na lei que regulamento o Serviço Eleitoral no Estado: “No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, SEM DISTINÇÃO DE SEXO, todos os cidadãos que reunirem condições segundo a lei”.

“Bertha foi muito influente na luta pelo voto das mulheres. Tinha os argumentos certos e proximidade com o ambiente político. Sua atuação era forte no sul, onde a luta pelo voto feminino estava sendo trabavada desde o início dos anos 20. Mas no sul ela não contou com o engajamento de políticos como no RN”, comenta Marlene. Infelizmente, apesar da participação, as mulheres tiveram seus votos anulados por determinação da Comissão de Poderes do Senado. E dentre as mulheres eleitas, Alzira renunciou ao mandato com o Golpe de Estado de Getúlio Vargas. As mulheres só voltaram a votar e a se candidatar em 1932.

Nísia Floresta: Pioneira no Brasil sobre as questões das mulheres

Nísia Floresta: Pioneira no Brasil sobre as questões das mulheres

Nísia Floresta
Estudiosa da presença feminina nas letras potiguares, a escritora e poeta Diva Cunha reforça o pioneirismo das mulheres potiguares em várias áreas. Mas frisa que não dá para falar do tema sem lembrar da figura importante de Nísia Floresta (1810-1885). “Ela é o começo de tudo. É a mulher mais importante do feminismo brasileiro”, afirma Diva sobre a intelectual que primeiro levantou a questão da defesa dos direitos das mulheres na imprensa e em livros, a exemplo da obra “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” (1832), a primeira publicação no país a abordar o tema. Nísia foi uma das mulheres brasileiras homenageadas pelo Instituto Cultural Brazilian Endowment  for The Arts, com sede em Manhattan, em Nova Iorque, no dia 28 de fevereiro. Além dela, ganharam destaque Madalena Caramuru e Carolina Maria de Jesus. Sobre Nísia e outras mulheres de peso das letras potiguares, Diva Cunha vai ministrar palestra nesta quinta, às 18h, no IHGRN.

Colaborou: Cinthia Lopes, editora

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