quinta-feira, 28 de março, 2024
33.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

Mundo Livro

- Publicidade -
Alexandre Alves

HILDEBERTO BARBOSA FILHO, “As palavras me escrevem” (2019, Mondrogo, 80 p.)
Um dos mais empenhados críticos literários brasileiros é também poeta. Paraibano já com dezenas de publicações de crítica literária – todo estudante de Letras deveria ter na estante o essencial “A convivência crítica” (1985) –, ele teve sua poesia reunida em “Nem morrer é remédio” (2012), constando mais de dez obras. Em nova investida lírica, o autor do plural “Todos os lugares” (2007) recompõe ideias metapoéticas, como em seu “O exílio dos dias” (1994), numa espécie de macro texto, mas deixando ao leitor a opção de abrir qualquer das páginas da obra de forma autônoma. Na geral, o mote é a pantanosa metalinguagem (o astuto crítico Gilberto Mendonça Telles já nos anos de 1980 tratava do desgaste do temário). Há instantes nos quais o cotidiano ganha impulso poético, mas em outros o espaço da monopágina (apenas 02 textos dos 55 integrantes ultrapassam sua folha inicial) deixa preso o eu lírico na metapoesia. Se no texto inaugural “O poema/ é planície”, o relevo da obra aqui ficou muito uniforme em seu exercício poético. Quando escapa disso, o lirismo aparece de verdade, como no “Poema 05” (Deveria não ter freado/ o meu cavalo diante/ da beleza do abismo), no sensorial “Poema 27” (Quem parte/ não leva saudade./ Leva o que não pode/ levar) e no catártico “Poema 41”: “Há na tua pele/ qualquer coisa de antigamente./ Não é um perfume/ nem laivos de sabedoria./ É algo que lembra Deus/ seu anonimato/ seu deserto/ sua incontornável/ caligrafia”. E assim a poesia reacende em Barbosa Filho o elo entre homem e o invisível por dentro, que “brilha todo dia nos demônios/ de minha agonia” (“Poema 46”).

FERNANDO MOURA, “Jackson do Pandeiro: 100 anos do rei do ritmo” (2019, EPC/A União, 64 p.)
Hoje ícone da música paraibana, o caso de Jackson do Pandeiro – citado como influência de nomes como Chico Science, Tom Zé e Lenine, entre outros – é de uma singularidade nos anos 2000. Sem discos relançados em cd ou vinil, sem plataforma de streaming e sem gravadora que cuide dele, seu nome sobrevive apenas de sua música gravada e de seus fãs. Nesta curta biografia de Fernando Moura (autor de “Jackson do Pandeiro, o rei do ritmo”, de 2001), Jackson se mostra famoso por não pagar “comissão” (leia-se o famoso “jabá”) às rádios brasileiras, pagando caro pelo seu sincero idealismo. A biografia também revela seu grave acidente de carro na década de 1960, o ostracismo causado supostamente pela Jovem Guarda e a retomada de sua obra junto aos tropicalistas (Gal Costa e Gilberto Gil gravaram canções dele). Falecido em Brasília em 1982 após uma apresentação – ele tinha sérios problemas com a diabetes –, sua fama foi desaparecendo a tal ponto que surgiram concursos (um paraibano e outro nacional) exclusivos para tratar de sua obra entre 1987 e 1988, e não apareceu nenhum inscrito (!). Só a partir do começo dos anos 2000 é que ressurge um interesse pela obra de Jackson, sendo notória sua influência em artistas como Chico César, Mestre Ambrósio e Cabruêra, entre outros. Contendo muitas imagens de várias fases da carreira, o livreto é ótima opção para adentrar no mundo musical do Jackson. E bem que os governantes potiguares poderiam ter a mesma ideia do governo paraibano de editar livros a baixo custo tratando de personagens da cultura local, mas o passado parece um luxo diante do espetáculo imediato.
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas