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Muros da vergonha se proliferam

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Genebra – No dia 9 de novembro de 1989, o célebre violoncelista Mstislav Rostropovitch se apresentou aos pés do que era o Muro de Berlim e que dividiu a cidade alemã por décadas em parte leste e oeste. O evento marcava o fim de uma era de confrontos entre o Ocidente e o ex-bloco socialista, simbolizado pelo muro. Enquanto viam cidadãos dos dois lados da cidade celebrando a destruição de um dos marcos do século 20, anunciando o fim da Guerra Fria, vários governos não hesitavam em anunciar que nunca mais o mundo precisaria de um “muro da vergonha”.

Menos de 20 anos depois, porém, uma nova geração de muros começa a se proliferar em vários continentes. Desta vez, não apenas com cimento e metal, mas com sensores e planejados com alta tecnologia. O fenômeno preocupa organizações de direitos humanos e já obriga a ONU a iniciar contatos com os governos responsáveis pelos novos muros.

Na historia da humanidade, muros não são uma novidade. Na Idade Média, príncipes protegiam não apenas seus castelos, mas as cidades que controlavam com muros para se defender de ataques do exterior. Na China, a muralha com mais de 2 mil quilômetros foi erguida como forma de proteger o império de ataques do norte. Hoje, tanto na China como na Europa esses muros fazem parte de patrimônio desses países.

Mas ao contrário dos muros que tentavam impedir ataques de exércitos de potências exteriores no passado, as novas obras têm outra finalidade: impedir os fluxos cada vez maiores de imigrantes e supostamente proteger sociedades de estrangeiros considerados como perigosos ou terroristas.

Um dos muros que ganhou mais notoriedade nos últimos anos foi o que Israel colocou em sua fronteira com a Cisjordânia. Diante da intifada palestina, os israelenses estabeleceram em 2002 um plano para construir um muro de 365 quilômetros. Segundo o governo local, a cerca seria uma “medida de defesa” para evitar a passagem de terroristas e armas.

Mas para a Anistia Internacional, o muro viola os direitos humanos. Isso porque afetaria a vida de 270 mil palestinos, inutilizando parte do território da Cisjordânia e ainda impedindo o trânsito da população para o trabalho.

EUA tentam conter fluxo de imigrantes

Com 1.100 quilômetros, o muro na fronteira dos Estados Unidos com o Méximo, ou “cerca”, como é chamada pelo governo americano, terá duas camadas e será permeada com sensores e sistemas de alarme. A barreira visa impedir a imigração ilegal aos Estados Unidos, fenômeno que tem aumentado a cada mês. No total, 34 milhões de imigrantes vivem nas cidades americanas.

Para Jean Phillip Chauzy, porta-voz da Organização Mundial de Migrações (OIM), muros não vão conseguir parar a imigração. “Enquanto a raiz do problema não for tratada, que é a diferença entre situações de extrema pobreza, e países ricos, os imigrantes sempre conseguirão superar as barreiras colocadas por governos. Os muros serão contornados se de um lado da fronteira houver demanda por trabalhadores enquanto do outro lado da barreira existir gente sem trabalho”, afirmou Chauzy, da entidade ligada à ONU.

Antonio Guterrez, ex-primeiro-ministro de Portugal e hoje alto comissário da ONU para Refugiados, confessou à AE que está em contato com Washington para falar sobre a construção do muro. “Trata-se de algo muito sério”, afirmou.

Em sua avaliação, um dos problemas é que o muro impedirá que refugiados tenham acesso às autoridades para pedir asilo, o que seria uma situação diferente de imigrantes ilegais. “Cada país tem o direito de defender suas fronteiras como acha mais apropriado, mas o princípio de asilo precisa ser respeitado por todas as democracias”, afirmou.

Segundo a organização, existem cerca de 200 milhões de imigrantes no mundo, a maioria deles gerada por situações de pobreza em algumas regiões do planeta. Mas os alertas da ONU sobre a ineficiência dos muros não têm impedido sua construção em vários países.

Em Melilla, no enclave espanhol no Marrocos, o governo da Espanha decidiu no final do ano passado duplicar a altura do muro. O objetivo era o de tornar mais difícil que africanos consigam entrar na cidade e, então, permanecer em território espanhol. “Medidas como essa só vão tornar mais arriscado a tentativa de superar barreiras e, eventualmente, teremos um maior número de mortos entre os imigrantes”, afirmou Chauzy, da OIM.

 

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