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Música perde o talento de Dosinho

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Yuno Silva
repórter

Momento de saudade e muitas lembranças durante o velório de Claudomiro Batista de Oliveira. Aos 87 anos, Dosinho, o mais famoso compositor não-pernambucano de frevos e marchinhas, foi sepultado na tarde desta quinta-feira no Cemitério Morada da Paz, em Emaús, onde seu corpo também foi velado. A despedida do artista, nascido em Campo Grande (RN), reuniu amigos, familiares e admiradores. A viúva Lauridete Benício de Oliveira, com quem Dosinho foi casado por 45 anos, manteve-se firme durante todo o velório. “Ele viveu intensamente. Viveu bem, como quis, e nunca deixou de fazer planos. Nunca se acomodou, não parava de escrever. Quero que lembrem dele sempre com muita alegria”, tranquilizou.
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Dosinho passou 21 dias internado na UTI do hospital Promater, devido problemas renais e respiratórios. Estava em coma desde o dia 27 de fevereiro e faleceu às 4h40 de ontem. O cantor e compositor deixou esposa e dois filhos, Claudomiro Júnior e Isis Benício. “Ele nunca tinha tido um problema sério de saúde até outubro do ano passado, quando apresentou quadro de insuficiência renal.

“Dosinho era um grande compositor, dos melhores, e uma grande pessoa. Nós que ficamos temos que segurar a batuta, senão ‘doido também apanha’”, disse o músico Carlos Zens, parafraseando uma das principais marchinhas de Dosinho. Durante o velório, Zens tirou de sua flauta um breve pout-pourri de “Não se faça de doido não” e “Doido também apanha”. O flautista lembrou que Dosinho “atravessou os tempos, viveu um período de boa música ao lado de grandes compositores e intérpretes, e entrou para a história.

“A principal lembrança que temos de Dosinho era de sua alegria. Nos conforta ele ter vivido bem e intensamente”, disse a cantora Valéria Oliveira, que esteve no velório e considera o compositor de clássicos carnavalescos como “Eu não vou, vão me levando”, “Doido também apanha”, “Carnaval com Bin Laden”, Dólar na cueca” e “Não se faça de doido não” uma espécie de padrinho. “Dosinho foi nosso padrinho no projeto (CD) ‘Sem perder o passo’: ele nos levou para lançar o disco no Recife e participou dos shows aqui em natal. As músicas deles sempre fizeram parte do meu repertório”, acrescenta.

Para Valério Mesquita, escritor e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do RN, Dosinho “é um patrimônio música potiguar e regional”. O presidente da Academia Macaibense de Letras, Cícero Macedo, lembrou que Dosinho tinha uma relação forte com Macaíba e casou com uma “filha” de lá. “Foi uma grande figura. É uma perda grande para a música, para a poesia e para a cultura do RN”.

A pesquisadora musical Leide Câmara, amiga da família, concluiu um trabalho de organização de todo o acervo que Dosinho acumulou ao longo de 59 anos de carreira, e garante que há muita coisa inédita para mostrar: “Planejávamos lançar um livro, com sua história e todas as letras de suas 168 composições. O trabalho foi concluído e ele ficou muito surpreso com o tanto de material que conseguimos reunir”, informou Leide, emocionada.

A pesquisadora identificou 168 composições e 250 gravações feitas não só pelo potiguar mas por nomes conhecidos como Antônio Nóbrega, Alceu Valença, Elba Ramalho, Claudionor Germano e Agnaldo Rayol – a clássica “Eu não vou, vão me levando”, por exemplo, teve 12 versões. No RN, Paulo Tito, Galvão Filho, Valéria Oliveira, Isaque Galvão e Expedito Baracho engrossam a lista de artistas que interpretaram as composições de Dosinho, que também é autor dos hinos oficiais do times de futebol ABC e Alecrim, e de um hino não oficial do América.

De acordo com Leide, ele também criou cerca de 200 jingles para campanhas políticas, fez o hino do Rotary Natal e o tema do projeto “De pé no chão também se aprende a ler”, iniciativa do prefeito Djalma Maranhão (1915-1971), de quem Dosinho era amigo. Contemporâneo dos pernambucanos Capiba (1904-1997) e Nelson Ferreira (1902-1976), Dosinho era o derradeiro entre os antigos compositores de frevos e marchinhas em atividade. O potiguar começou sua carreira na década 1940, no Rio de Janeiro, onde trabalhou na Rádio Nacional e na Gravadora Copacabana.

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