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Na enxurrada da seca

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ARTE - Artista percorre cidades sertanejas para compor a obra

Da diversidade que abriga a alma de um artista, a escolha do paraibano Fábio de Brito em retratar um tema tão delicado como a transposição do Rio São Francisco foi além das tintas. Utilizando a matéria viva das cidades, recolhendo pelo caminho pedras, espinhas de peixe, caramujos e areia, o artista nascido em Puxinanã, no agreste potiguar, criou a obra “Transposições de uma partilha”. A peça sendo tecida pouco a pouco, diariamente, como a ansiedade de quem aguarda a água chegar com a tão “sonhada” obra. “As areias que estão neste trabalho representam todo o povo nordestino. Quando comecei a criar, muitos questionamentos vieram na minha mente, então decidi ir ao local e sentir a energia das pessoas que estão lá vivenciando a expectativa”.

Como o assunto traz a tona discussões políticas intensas e o receio do futuro que aguarda a região do rio São Francisco, o sentido humano da obra ficou escondido atrás dos panos dos interesses. “Existem muitas críticas contra e a favor, por isso foquei apenas no beneficio humano que a obra iria ocasionar, em vez de criticar, como fazem as pessoas que são contra. Busquei o tempo inteiro a essência da transposição. E baseado nisso eu comecei a criar e me inspirar”, explica Flávio de Britto, cuja exposição, apesar do caráter itinerante, ainda não saiu de João Pessoa.

A Viagem

 De mochila nas costas, Fábio seguiu aos eixos norte e leste da transposição, cruzando o São Francisco. “Escolhi os lugares por onde brota a semente da obra, esses eixos que integram com seus rios afluentes e se espalham por todas a bacias fluviais dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Na medida em que a água avança, nota-se a formação de uma planta que cresce se ramifica e rompe as amarras da seca”, diz. O material recolhido em cada cidade deu veracidade ao trabalho. O recolhimento  maior, porém, foi de material humano, em gestos, pensamentos e lágrimas: “conheci a realidade do povo de perto e junto com ela o embrião do projeto. Viajei para Monteiro (PB), Floresta (PE), onde existe a captação do eixo da Transposição, lugar considerado marco zero da obra. Depois fui para Cabrobó (PE) – onde sai o eixo norte – Pena Forte (CE) e logo após para São José de Piranhas, no núcleo eixo”. Para o artista, o olhar de ansiedade das pessoas que esperam por essa água, é um olhar que se confunde entre a esperança e a desesperança. Em seus relatos, registrados em cadernos e lembranças, existem esperas que já duram mais de vinte anos. “Em todo o lugar que eu chegava eu conversava com um morador. Os diálogos, apesar de singulares, se encontravam num mesmo eixo. Eles falavam das dificuldades de viver, da sobrevivência diária e difícil.Muitos não acreditam na chegada da água”.

Quando à polêmica estabelecida, Fábio Britto disse que as pessoas estão querendo muito que a Transposição se concretize. “Por onde o eixo vai passar, todos querem. Infelizmente está havendo muita resistência, existe uma mistificação da obra, mas se houver um controle ambiental e epidemiológico tudo pode correr bem”, disse Fábio. 

O Artista

Fábio de Britto, 32, cujo trabalho  ficou conhecido  por imagens sacras, começou a pintar aos seis anos. Abandonou a arte para seguir uma carreira de empresário. Só voltou a se dedicar à arte já adulto, em 2000, quando ganhou o 1º Lugar do Prêmio Nacional DireCTV “A Liberdade está em suas mãos”. Posteriormente, ainda ganhou prêmios Revista Caras e Fiat Doblô e o Prêmio Internacional AGAPa, “Cem anos de aviação”, em 2006.

A obra de arte e a obra concreta

“O paradigma da seca, superado na obra, é apenas um pretexto para expressar sorrisos escondidos, colheitas sonhadas, sedes saciadas e barreiras socioeconômicas vencidas, remetendo-nos às transposições de vidas”. Com essas palavras Fábio Britto buscou romper o limite e lançar aos olhos e sentidos o seu grito de protesto a favor da transposição do Rio São Francisco. Para ele, o tema tem o poder de quebrar os paradigmas: “na arte temos a força de ir além”, diz. “Culturalmente e politicamente nós artistas não somos muito reconhecidos, mas eu costumo dizer, onde existir a arte haverá o seu prisioneiro, ou seja, toda arte tem seu prisioneiro que foi o seu criador. Dei meu grito de protesto e meu limite foi esse”. Financiada pelo próprio artista, movido pela paixão do tema, a obra tem a finalidade artística de furar as barreiras da força política, que para ele está distante da sociedade. “Essa é uma obra feita com muita emoção, é um reflexo visto pelos olhos das pessoas que conheci nos eixos da obra. Carreguei Caramujo, espinha de peixe, areia e os rios são vidros líquidos, feitos com madeira cavada. Na verdade ela é uma escultura cheia de sentido e dor”, explica. Em seu olhar de artista, as correntes penduradas representam a quebra da escravidão com a transposição. “Além dos materiais recolhidos, trabalhei também com a pintura plástica. Utilizando tinta e material bruto”, explica.

Serviço:

Contatos para exposição

(83) 99099955 – 33801323.

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