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Na festa mineira

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Woden Madruga
Andei estes dias por Uberaba. Fui ver e me deliciar com a Expozebu, a maior exposição mundial do gado zebuíno, este ano na sua 85ª versão e com um tempero muito especial, além das comidas e bebidas mineiras:  comemorava-se o centenário da fundação da ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu), nascida ali mesmo. Passei por lá cinco dias, de 30 de abril a 5 de maio.  Grande festa, gente do Brasil inteiro, criadores de mais de trinta países, das três Américas, África e até da Índia, terra natal do zebu, animal sagrado por lá. “Todo zebu se impõe”, disse Guimarães Rosa.  Assim está escrito em Sagarana, seu livro de contos.
O Parque Fernando Costa recebeu durante os 9 dias da exposição mais de 280 mil pessoas. Os negócios teriam ultrapassado a casa dos 190 milhões de reais. Só com os leilões (foram 28) o faturamento passou dos 50 milhões. Estavam no parque, ocupando seus 40 pavilhões, mais de 4 mil animais de todas as raças zebuínas: Guzerá, Nelore, Nelore Mocho, Sindi, Tabapuã, Gir, Gir Leiteiro, Girolando,  Brahman, e mais uma nova raça registrada pela ABCZ: Punganuir.  Nas pistas de julgamento via-se, também, equinos das raças Quarto de Milha, Mangalarga Marchador e Criolo, além de jumento Pega.
No Complexo do Concurso Leiteiro das Raças Zebuínas, onde tem um pavilhão com o nome de Manoel Dantas, nosso querido Manelito, de Taperoá, estavam as matrizes Sindi, Guzerá e Gir. Impressionante o tamanho e a beleza de seus úberes. Outro recanto de destaque do Parque é o Pavilhão Multiuso, onde ficou instalada a Feira de Gastronomia e Alimentos de Minas, com mais de 70 expositores de várias regiões do Estado. Estandes e lojinhas, lugares para comer e beber sentado, bate-papos sobre comidas e outras coisas boas da vida.  Vontade de não sair de lá. E foi lá que conheci e bebi uma cachaça de jabuticaba, destilada em Sabará.  Bisei duas vezes. O mais surpreendente dessa história é que o fabricante nasceu em Caicó, com raízes paraibanas:  Geilson de Brito Dantas, morando há muitos anos em Sabará depois de passagem pela Bahia.
Encontrei outros potiguares vivendo por aquelas veredas de Uberaba.  Contarei depois.  Até porque dei umas passadas fora do Parque Fernando Costa procurando as calçadas do centro histórico (ladeiras e ladeiras) da Cidade, desfrutando instantes inesquecíveis como a visita ao Museu de Arte Sacra (Igreja de Santa Rita), à Igreja de São Domingos, à Catedral Metropolitana do Coração de Jesus, à Casa de Chico Xavier, além de um fino pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro, belo casarão que estava de portas fechadas. Mas deu para ver, no pátio externo, o busto do romancista Mário Palmério ( Vila dos Confins, Chapadão do Bugre), sucessor de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras.
Da intensa programação da Expozebu, tenho um destaque especial: a solenidade de entrega do Mérito ABCZ- 2019, ocorrida na noite do dia 3 no Centro de Eventos Rômulo Kardec de Camargos, que fica dentro do Parque de Exposição.  Espaço elegantemente decorado, cada mesa um arranjo de orquídeas, orquídeas por toda parte, boas comidas e bebidas idem, solenidade sóbria, cerimonial perfeito, música excelente: Bossa Nova (começando com Vinicius e Tom Jobim), Jazz e MPB. O conjunto (oito integrantes) chama-se Jazz Cozinha. Gostei muito. No repertório faltou apenas Luiz Gonzaga. Dona Noilde Ramalho teria dado à festa nota 10 com louvor.
Entre os agraciados (foram 33 pessoas) estavam dois norte-rio-grandenses: o criador Kleber de Carvalho Bezerra e o engenheiro agrônomo com especialização em zootecnia Rodrigo Coutinho Madruga. Emoções, minha gente!
O time potiguar 
A pecuária do Rio Grande do Norte estava representada na Exposição de Uberaba pelos criadores Kleber de Carvalho Bezerra, Júnior Teixeira, Josemar e Mateus França, Orlando Cláudio Procópio, José Gilmar Carvalho Lopes, Jesualdo Marques Fernandes, Humberto Pignataro Neto, Fábio Gosson, Jorge Taufic Filho, Arthur Targino, Caio Fábio Madruga e Eduardo Melo, representando também a Anorc.

Comida mineira 

Teve um dia que resolvi comer fora do Parque. O grupo saiu em busca de cantos. Fomos parar no “Stilo Mineiro”, casa simples, comidas típicas da região. No cardápio apenas 4 pratos: Galinha ao Molho Caipira, Filé à Mineira, Costelinha com Mandioca, Lombo à Mineira.  Na mesa, éramos sete pessoas. Pedi Galinha ao Molho Caipira, acompanhado de arroz, tutu, quiabo. Os companheiros pediram outros, travessas cheias. Sobrou comida.
Na parede do bar, rodeando o balcão, anotei estas frases lá escritas: “Lá fora chove; aqui pinga”, “Cachaça tira o juízo mas dá coragem”, “Não maltrate o bêbado, indique o bar mais próximo”, “Não tenho vícios, só bebo e fumo quando jogo”, “Beijo não mata fome, mas abre o apetite”.

No museu 

Um dos lugares mais visitados do Parque Fernando Costa é o Museu do Zebu, inaugurado em 1984. Não conta somente a história do zebu, os primeiros animais chegando no Brasil ainda no reinado de Dom Pedro I. Não conta somente a história da pecuária brasileira, mas também passeia pela história do país, sua vida política, econômica e social. Quase todos os presidentes da República, começando por Getúlio Vargas, coisa dos anos 30, passaram por lá. Getúlio foi várias vezes a Minas Gerais para eventos pecuários.
Tem uma foto de Getúlio, paletó e gravata, terno escuro, chapéu de feltro, ferrando um touro da raça Indubrasil, numa exposição em Belo Horizonte, 1938.  O primeiro exemplar dessa raça registrado no Brasil. O boi está deitado no chão; hoje vacina-se animal em pé, no brete. Noutra foto o presidente aparece almoçando na Fazenda Experimental de Criação de Uberaba, ao lado do vice-presidente Café Filho, do governador Juscelino Kubitschek e do presidente da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (hoje ABCZ), Adalberto Rodrigues Cunha. Todos de paletó e gravata, mesa farte. Isso foi em maio de 1953.
O prédio do museu ocupa uma área de 580 metros quadros, mais pátios e jardins, um recanto agradabilíssimo de ficar até porque ouve-se bem o falar gostoso do “mineirim”, principalmente na voz feminina, Uai!  Pássaros no arvoredo, cantam.

Livro 

No museu funciona uma pequena livraria. Na quase totalidade livros sobre pecuária.  Percorri suas lombadas. Adquiri três: ABCZ 100 Anos – História e Histórias, de autoria das historiadoras Maria Antonieta Borges Lopes e Eliane Mendonça Marquez de Rezende, ambas agraciadas com a Medalha do Mérito ABCZ-2019.  É um livrão (tamanho 27cm/23), 384 páginas, ricamente ilustrado. Informações preciosas.
O outro livro é Zebu: Visionários e Pioneiros, do engenheiro agrônomo Hugo Prata, e o terceiro, Boi pisou, do jornalista e criador baiano Gugé Ferraz. Edição de 1992. São crônicas.
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