Ícaro Carvalho
Repórter
Ousadia, autodidatismo e determinação. Essas são três palavras que podem definir o natalense Roberto Alves, de 49 anos, que juntou esses três fatores para criar um empreendimento que chama a atenção de quem passa pela rua de sua casa, em Nova Parnamirim, na zona Sul de Natal. É que Roberto, conhecido popularmente como “Beto Fibra”, construiu um carro na garagem de casa.
O carro criado por Beto antes era uma carcaça adquirida por ele há cerca de dois anos e meio
E não é um carro simples. Usando a imaginação e a experiência dos trabalhos com resina de fibra, Beto fabricou um híbrido de um Miura, esportivo que ganhou fama no Brasil entre as décadas de 70 e 90, com um Lamborghini Aventador, marca italiana – também esportiva – de alto luxo que encanta os amantes e apaixonados pelas quatro rodas.
O carro esportivo criado por Beto antes era uma carcaça adquirida por ele há cerca de dois anos e meio.
Mecânico de motos e adepto da resina de fibra de vidro desde o começo da vida adulta, quando iniciou os trabalhos aos 19 anos, Beto pensou em ousar e fazer diferente. De trabalhos feitos para amigos e clientes, o natalense se viu com a ideia de fazer um trabalho para si, colocando em prática os seus 30 anos de experiência com o material e os trabalhos com carros. Mas antes de tudo, o projeto começou de forma inusitada.
“Eu tive um carro, um Hoffsteter, que abria as portas para cima, daqueles de asa de gaivota. E um amigo encontrou comigo e perguntou: você fez esse carro? Não tinha sido, mas fiquei com aquilo na cabeça: será que eu tenho condições de fazer um carro? Se eu tiver uma oportunidade vou fazer um carro para mim”, revelou à TRIBUNA DO NORTE.
Parte interna do carro feito por Beto vai ter revestimento no estilo do antigo Miura
Tanto que assim que adquiriu a carcaça do jazido Miura ele logo começou os trabalhos na garagem de casa e em muitas ocasiões precisava trabalhar à noite. O barulho e a poeira levantadas em casa, aliadas à obsessão pela conclusão do veículo, chegaram a trazer pequenos problemas com a esposa, que ao ver o andamento dos trabalhos, foi olhando com outros olhos o empreendimento do esposo.
“A minha esposa, desde o começo, quando trouxe esse carro e coloquei aqui, que era igual a uma banheira, ela não gostou. Mas depois que viu o carro pronto, já não fala mais nada. Passei um “muído” grande por conta desse carro”, lembra Beto, ressaltando a compreensão da companheira.
Após dois anos e meio de trabalho diário, o carro está praticamente pronto. O interessante é que nesse tempo todo, Beto Fibra trabalhou sozinho e, em raras ocasiões, contou com a ajuda de amigos para dar andamento ao processo. “Era só eu e o pó. Nem todo mundo aguenta o pó da fibra, muitos começavam e paravam. Tinha muito detalhe que tinha de ser eu mesmo”, conta. Beto gastou em torno de R$ 30 mil em todo o projeto, valor que poderia ter sido maior, caso tivesse empregado mão de obra externa.
Em dois anos e meio, Beto Fibra transformou uma lata velha num híbrido Miura-Lamborghini
Mesmo tendo a ocupação de mecânico durante boa parte do dia, Beto Fibra tem um novo desafio: deixar o carro 100% pronto para o aniversário de 15 anos da filha, Analice Nóbrega, em junho. “Minha filha está completando ano agora, em junho, e surgiu a ideia dela de querer chegar no carro. Então eu vou terminar esse carro, para que nos 15 anos dela, ela chegue nesse carro, na festa. Me apressei para terminar o carro”, diz.
“Foi melhor porque em aniversário de 15 anos menina geralmente chega em limusine né? Mas eu não. Sou privilegiada e vou chegar no carro que o meu pai fez”, diz a filha Analice, aos risos e com orgulho do pai.
Depois de muito esforço e suor e de encarar várias horas com poeira no rosto, Beto não vê a hora de tirar o carro da garagem e dar uma volta nas pistas da cidade do Sol, que certamente vai arrancar suspiros e chamar a atenção de muita gente.