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Na pandemia: a arte de morar

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KARENINA HENTZ DA CUNHA LIMA
Arquiteta

Nunca antes, em nossa História Contemporânea, fomos tão direcionados a nos voltar aos nossos espaços interiores. As janelas, frente aos isolamentos, se tornaram as novas portas para enxergarmos o exterior e os horizontes de esperanças para a construção de uma nova realidade. Mas desde a década de 80, que a poetisa Cecília Meireles atentava para a importância das janelas que se abriam para diversas e novas paisagens.

Reservadas as licenças poéticas, no que tange a Arquitetura, no redescobrir do morar envolto em um contexto pandêmico, nos deparamos com novas adaptações e estilos de vida direcionados ao isolamento social e ao “Fique em Casa”. Esta casa, – este lar – na qual devemos ficar, não é mais o mesmo espaço que outrora conhecíamos. Ela agora direciona um olhar muito mais atento e intimista, necessitando, cada vez mais, de aconchego, conforto e cuidados específicos com a higiene, por exemplo.

A partir da concepção primordial de reduzir a propagação do vírus, a ventilação desempenha um papel crucial, visto que em lugares fechados é mais provável que se concentrem partículas em suspensão e que elas sejam inaladas. Neste sentido, torna-se imperativo pensar em espaços bem arejados. Aliado a isso, é sabido que os raios ultra violetas têm impacto contra a Covid-19, que pode ser enfraquecida com elevação da temperatura. Estes cuidados repousam na relevância da iluminação e incidência solar apropriadas para cada ambiente. Como bem ensina o poeta da vida, Diogenes da Cunha Lima: “Deixa o sol entrar / Na tua morada / Que o sol vai deixar / Tua casa encantada: / A vida encantada.”

Tendo em vista estes primeiros aspectos, podemos elencar os ambientes dos lares que sofreram os principais impactos e que pedem, cada vez mais, maiores adaptações:  a nossa entrada, o nosso hall, passou a se dar no interior destas habitações, contando com bancos de apoio, cabides, prateleiras e estantes abrigando álcool em gel, e sendo local de parada obrigatória e de armazenamento de acessórios e objetos que podemos trazer da rua e que precisam ser higienizados antes de adentrarem mais fundo à casa. Nesse mesmo ínterim, também é preciso pensar a respeito da entrada das compras através das áreas de serviço. Esses pacotes precisam ser higienizados desde a sua entrada até o descarte devido do lixo.

O nosso lazer tornou-se reduzido às práticas caseiras, necessitando de espaços mais lúdicos, multifuncionais e agradáveis ao convívio das famílias, como a cozinha, a sala de estar e a varanda. As famílias passaram a cozinhar juntas, a brincar mais com as crianças na sala de estar e a desenvolver novos hobbies nas varandas, tais como a jardinagem e as hortas urbanas.

O Home Office configurou-se fundamental para a manutenção de toda essa estrutura, exigindo locais mais adequados para o exercício das atividades profissionais, reuniões e horários de expediente, tendo, muitas vezes, o olhar mais atencioso no momento da ambientação, uma vez que será o novo espaço a ser exposto em compromissos de trabalho.

As aulas remotas, por sua vez, também exigem espaços de tranquilidade e conforto para que as crianças possam acompanhar suas rotinas diárias de estudo e realizar as atividades escolares em ambientes, que podem ser tanto o destinado ao home office, quanto os espaços específicos situados em seus próprios quartos, mas que agora se transformam também para este propósito.

Por fim, discordando um pouco de Tolstói, todas as famílias felizes se parecem, mas elas são felizes cada qual à sua maneira, identidade e modo de viver. E a arquitetura vem expressar esta nova forma de viver e conviver e de pertencer de uma maneira totalmente inédita a um lar. 

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