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Na pisada de Flávio José

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CARREIRA - Flávio José diz ter cansado das promessas de gravadora

O sanfoneiro Flávio José viu pela primeira vez a luz do forró num show de Luiz Gonzaga aos cinco anos de idade. Natural de Monteiro, região Oeste da Paraíba, foi arrastado pelos pais até o município pernambucano de Arcoverde, onde o rei do baião se apresentaria para uma casa lotada. “Aperreei meu pai depois desse show. Queria uma sanfona e ganhei uma pequena. Um tempo depois comecei a tocar e não parei mais”, disse.  

Compositor de sucessos como “Caboclo Sonhador” e “Tareco e Mariola”,  “Caia por cima de mim”,  Flávio José volta a Natal um ano depois – quanto tocou ao lado de Eliane e Beto Barbosa – e se apresenta hoje, a partir das 22h, no Forró do Pote.  Ingressos custam R$ 15 (antecipado) e R$ 20 (na hora).

DVD pela Lei Rouanet

Profissionalmente, Flávio José já encara o fole da sanfona há 30 anos. A discografia do compositor registra oito vinis e 16 CDs. Em 2007, o forrozeiro parte para o primeiro DVD. O projeto – aprovado pela lei federal Rouanet de incentivo à cultura – inclui a gravação de um show previsto para ocorrer em Salvador, onde está concentrado o maior número de fãs do artista, e uma série de dez shows pelas nove capitais do Nordeste e São Paulo. 

Nesta entrevista ao VIVER por telefone, Flávio José fala do show, do atual momento da carreira, da praga do jabá no forró e os espaços dedicados ao resgate do legado de Luiz Gonzaga. 

TRIBUNA DO NORTE: Essa é a primeira vez que você se apresenta no Forró do Pote. O que o público vai ver?

Flávio José: Estou levando meu show acústico com sanfona, zabumba, triângulo, cavaquinho, violão de sete cordas, duas backing vocals. O repertório vai reunir as músicas do meu último CD “Tá bom que tá danado” e os sucessos que o povo gosta. É show para uma hora e meia. A repercussão por onde passo está sendo maravilhosa. Mas é aquela coisa: você só consegue se a tua música toca na rádio.

Os CDs de forró estão entre os discos mais pirateados do mercado. Isso pesa muito no teu bolso?

FJ: Principalmente quando o artista já conseguiu emplacar vários sucessos. Vi um dia desses uma pesquisa que dizia que 76% do povo brasileiro consome CDs piratas. E para mim a pirataria não é apenas causada pelo alto valor dos discos. Os meus, mesmo, são vendidos a R$ 10, e R$ 12, o que não é um preço alto. O que falta é interesse mesmo, o problema está na distribuição.   

Guarda alguma lembrança das últimas passagens por Natal?

FJ: Fiz um show ano passado aí com Eliane e Beto Barbosa, numa casa que fica embaixo de um viaduto, já fiz um show maravilhoso no Forró da Lua. De Natal eu sinto saudade, vontade de participar de grandes eventos. Tem uma cobrança enorme do povo daí para que eu apareça. Mas digo: ‘só vou onde me convidarem’ (risos)

Você acha que esses trinta anos de carreira tocando forró no Brasil fazem de você, hoje, uma espécie de símbolo da resistência do legado deixado por Luiz Gonzaga e outros grandes nomes do forró?

FJ: Não tento a menor dúvida. Sempre deixei claro que meu trabalho é voltado para a continuidade da obra de Luiz Gonzaga, apesar das dificuldades que a gente passa.

E que dificuldades são essas?

FJ: Principalmente de fazer tocar o disco na rádio, de fazer chegar às lojas. Parece que existe o monopólio…

Como você lida com o jabá das rádios. Costuma pagar?

FJ: Quando comecei minha carreira fui alertado sobre isso. Mas prefiro reconhecer que meu trabalho é bom e não toca porque existe o jabá do que ficar naquela de achar que só apareço na rádio porque estou pagando. Para o artista independente é difícil. Eu cheguei a trabalhar na gravadora BMG que tinha no cast 40, 50 artistas, mas deixei porque me prometeram meio mundo de coisa e não cumpriram nada. 

Que tipo de promessa as gravadoras fazem…

FJ: Aquelas coisas de me botar em programa de televisão. Teve um diretor que chegou para mim e disse: ‘você tem o perfil do artista que vai dar continuidade ao forró de Luiz Gonzaga, então vamos apresentar você na televisão como o cara que vai substituir o Luiz Gonzaga’. Mas nunca cumpriram 

Como é sua relação com os artistas de forró de hoje?

FJ: Maravilhosa, muito boa mesmo. E conheço muita gente que também vem desenvolvendo um trabalho de resistência, mas que por falta de apoio encerram a carreira antes da hora.  É bom que a mídia dê espaço a essa gente porque se não houver espaço para a cultura não vamos parar em lugar nenhum. Fico impressionado que durante os shows, canto uma música que gravei há dez, doze anos e do jeito que o povo canta parece que fiz ontem.

Você reclama da falta de espaço, mas aquele forró eletrônico, exportado pelo Ceará, tem ganhado muito destaque. A culpa é do jabá ou existe um outro motivo? 

FJ: Prefiro nem dizer, quero ficar bem com todo mundo e sei que o que disser não vai resolver o problema. Eu apenas lamento pelos palavrões, as cenas de sexo explícito. A minha geração foi muito feliz, sabe. Vi Pelé e Garrincha jogarem, o time do Santos, vi a Jovem Guarda, fui a show de Luiz Gonzaga e me diga o que os filhos da gente tão vendo hoje? Estão ouvindo música de palavrões. Quando tinha cinco anos de idade, meus pais me levaram no braço para assistir um show de Luiz Gonzaga na cidade de Arcoverde, em Pernambuco. Vi aquilo e fiquei aperreando meu pai para que comprasse uma sanfona para mim. Ganhei uma pequena e pouco tempo depois comecei a tocar e não parei mais.

Fazer um show de forró num período em que a população está com a cabeça no carnaval é diferente?

FJ: Confesso que fiquei surpreso com o convite, mas tem muito turista que gosta. E quem gosta de forró, gosta de forró.  E eu tenho um público bom, mas não costumo fazer show no carnaval.

E você é um folião de carnaval?

FJ: Não (risos). Já recebi até um convite para tocar num trio elétrico em Salvador, mas não aceitei. Não tem nada a ver comigo e achei que podia me queimar.  Prefiro o chiado da chinela, no forró não tem droga nem briga.

Semana passada, Chiquinha Gonzaga tocou no forró da Lua. Amanhã (hoje), você se apresenta no Forró do Pote. Espaço para quem faz o forró “raiz” deixou de ser exceção?

FJ: Mas isso é coisa da maior importância. Essas casas em Natal, o samba de reboco, em Recife, em São Paulo também tem um monte de casa,é espaço alternativo bom que serve para mostrar para o povo que a nossa música não é apenas para o São João.

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