quarta-feira, 24 de abril, 2024
31.1 C
Natal
quarta-feira, 24 de abril, 2024

“Não estou no ABC pensando em ganhar dinheiro”

- Publicidade -

»ENTREVISTA » Rogério Marinho – Executivo de futebol do ABC
Dirigente diz que se afastará do cargo em julho, para disputar as eleições estaduais, e ressalta que deseja profissionalizar a gestão do ABC
Como você classifica essa campanha que o ABC fez na primeira parte da temporada?

Existem duas formas de encarar esta campanha do ABC no Estadual. A primeira com sentimento de frustração e de desalento que os torcedores abecedistas certamente têm. Isso porque um time do tamanho, da estrutura e da história do ABC não merece uma campanha dessa que foi realizada. O segundo momento, como dirigente, nós temos de tirar algumas lições e aprender com os erros cometidos. Mas só erra aquele que tenta acertar, é importante colocar para o torcedor que num passado bem recente, na série B, o ABC saiu de um time virtualmente rebaixado — na lanterna da competição —  contratou um técnico que fez um milagre, na minha concepção. Pois pegou o clube na última colocação no 1º turno para fazer uma excelente recuperação no segundo, digna de clubes que lutavam pelo acesso, o que acabou garantindo a permanência do ABC na disputa da série B de 2014.

O que explicaria duas situações tão distintas, uma vez que a estrutura diretiva e técnica da salvação na Série B foi mantida para o Estadual e não foi registrado o mesmo sucesso?

No final do ano passado quando houve a punição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) ao nosso presidente Rubens Guilherme, suspendo o mesmo de suas funções por seis meses, de 13 de dezembro até o dia 10 de janeiro o ABC sofreu um vácuo na sua direção e os diretores, que remanesceram, decidiram entregar a Roberto Fernandes a responsabilidade de montar um time para disputar o Campeonato Estadual, em função do próprio histórico do treinador. Quem imaginaria que o treinador vitorioso na série B não conseguiria acertar na formação de um grupo para disputar uma competição muito menos competitiva que o Brasileiro? Por isso que acho que devemos aprender com os nossos erros, no intuito de evitar que se repitam. Devemos também ter a coragem de enfrentar o problema, reconhecendo os erros e procurar dar a volta por cima. A torcida do ABC merece respirar melhores ares e comemorar melhores resultados.

Mas sendo objetivo, se você tivesse de resumir a campanha numa única palavra, qual seria a mais adequada?

É difícil resumir tudo isso numa palavra, até por que como dirigente, adjetivar uma situação vivida pelo clube seria, no mínimo, desleal de minha parte com os demais diretores. Mas a frustração definiria bem, pois é aquilo que o torcedor está sentindo: frustração e desalento.

Roberto Fernandes teve carta branca para contratar. Como está a situação de Zé Teodoro como técnico do ABC? Ele tem a mesma liberdade?

Como já coloquei antes, repito, a gente não pode repetir erros. Na conversa que tivemos com Zé Teodoro escutamos todas as indicações que ele sugeriu, quais são as deficiências que na avaliação dele o clube possui,  mas a ação dele acaba aí. Estamos buscando reforçar esse grupo com cada um ocupando o seu devido espaço. O técnico comanda a equipe e a diretoria realiza as contratações dentro de critério estabelecidos e com a preocupação de que na hora em que for necessário se desligar atletas, ter o máximo cuidado para evitar deixar saldos remanescentes que, de alguma maneira, possaam vir a oprimir ou prejudicar o orçamento do clube esse ano e também nos anos seguintes.

Na conversa com o técnico, que tipo de time o ABC deixou claro que pretende montar? O que vai apenas brigar para não cair ou um que brigará na parte de cima da tabela?

Eu disse a Zé Teodoro, desde o momento de sua chegada ao clube, que nós temos intenção de montar um grupo capaz de brigar pelo acesso a série A. Isso foi corroborado por toda cúpula diretiva, também, claro. Mas isso não significa dizer que nós iremos modificar 100% do elenco. Nós vamos iniciar o processo de reforçar com algumas peças, principalmente as posições que o treinador considerar carente, não podemos nos apressar pois essa é uma competição com 38 rodadas e que sofrerá uma interrupção de 45 dias a partir da 10ª rodada, em função da Copa do Mundo. Então eu acho que seria leviano da parte dessa diretoria, contratar um número muito grande de atletas que poderão também não dar certo no decorrer da competição. Combinamos com o treinador para ele avaliar o atual elenco, definir as dispensas mais imediatas e indicar as contratações que devem ser realizadas de forma mais emergente.

O ABC acabou de ganhar um patrocínio da Caixa Econômica Federal. Qual será a saúde financeira do clube para disputar essa Série B?

Algumas questões são importantes serem ressaltadas neste momento. A dívida do ABC, posso dizer, quase 70% dela está equacionada, equalizada e foi alongada para diminuir o peso sobre as nossas contas. Falta resolver ainda 30% das nossas pendências que acredito estarão equacionadas até meados de maio. Todas as certidões negativas o clube tem: Receita Federal, Certidão Trabalhista, FGTS, Previdência Social, tudo está em dia. Os salários dos profissionais, nós estamos pagando em dia, o CT está passando por reformas e sendo modernizado dentro do padrão Fifa, estamos construindo um novo refeitório para as nossas bases e também temos hospedagem próprias para os nossos atletas dentro do  CT. O ABC tem uma realidade que é fruto de uma diretoria que nos antecedeu. Rubens Guilherme, que voltará no momento oportuno, fez um grande esforço para manter o ABC na série B e isso desequilibrou as finanças. Ele contratou um novo time na metade do Brasileirão e esse desequilíbrio nos deu algumas dificuldades no início desse ano. Ainda assim temos convicção de que o orçamento do ABC em função dos patrocínios, do reforço das dotações orçamentárias, da racionalização e da reestruturação da gestão do clube, já vai ser suficiente para que possamos montar um time competitivo e com condição de brigar pelo acesso. Pretendemos atender ao nosso treinador, dentro de suas necessidades, com jogadores de nível, bem como estimular o elenco através de boas premiações. Tudo isso posso garantir que será feito pela diretoria.

A permanência de Rogério Marinho à frente do ABC tem prazo de validade?

Em junho eu saio até porque estarei numa campanha eleitoral até novembro. Mas na verdade eu nunca estive longe do ABC, quem me conhece sabe que sou conselheiro do clube há 12 anos, cheguei lá atendendo um convide do ex-presidente Judas Tadeu, que hoje está colaborando com a gente. Eu não entendo que o ABC necessite ter grupo ou facções, encaro o clube como uma família, mas como em toda grande família existem dissidências. As vezes sou cobrado porque não falo sobre o ABC nas redes sociais, mas entendendo que o clube possui um fórum para os seus associados discutirem assuntos de forma apropriada, que é o conselho deliberativo. Como eu não vivo do ABC, nem acho que ele deve ser encarado como ponte, trampolim ou escada para o meu processo político, uma vez que fui deputado sem nunca usar o nome do ABC, então prefiro me manter como estava antes, depois de passado esse processo. Mas é claro que fiquei muito mais próximo do clube e dos seus problemas. É uma paixão, uma situação contagiante mesmo com tantas dificuldades encontradas, sabemos que estamos construindo um trabalho que irá render frutos a médio e longo prazos, então pretendo voltar a ajudar o clube em novembro, mas não ocupando a função que ocupo atualmente.

Quando você chegou para assumir o ABC, ficou assustado com a quantidade de problemas?

[Risos…] É um desafio prazeroso por um lado, só não está sendo mais por falta dos resultados dentro de campo. Quando aceitei a função, imaginei que teria de ir ao clube, no máximo,  duas vezes por semana, mas hoje eu estou dando expediente todos os dias na sede. No carnaval fui todos os dias ao ABC, sábado e domingo eu também estou sempre por lá e os funcionários do ABC podem corroborar o que estou falando aqui. Eu tenho minha atividade, preciso estar sempre viajando para promover o sustento da minha família, eu tenho atividade política, mas sempre que estou em Natal eu vou ao clube. Dado a dimensão, a complexidade e ao tamanho do desafio de se fazer parte do ABC é importante se trabalhar muito agora, para tentar fazer com que as coisas entrem no automático, comecem a fluir com mais naturalidade e a gente possa realizar uma gestão um pouco mais à distância.

O ABC cresceu demais para ser tocado por dirigentes amadores? Aqueles sem remuneração?

O componente paixão é intrínseco, está ligado ao gene do futebol. Na hora em que se tem um presidente remunerado você desvirtua um pouco essa questão da paixão pelo futebol. Está certo que o futebol também é negócio, você não pode encarar um clube que precisa de 10 a 11 milhões de reais anuais para se manter de forma amadora, descuidada. Isso acontecendo se começa a acumular passivos que acabam se voltando contra o próprio clube e o estrangulando. É claro que devemos ter uma estrutura profissionalizada, pelo menos é isso que estamos tentando fazer, mas por outro lado, eu acredito que os vices-presidentes, essa diretoria de cinco a seis abnegados, com a responsabilidade de conduzir e proteger o patrimônio do clube, esteja sempre presente até para evitar o que é muito comum no futebol, que determinados dirigentes queiram ganhar dinheiro com o clube. Se eu estou lá é para trabalhar por que gosto do clube, acho que deve haver sempre essa distinção. Se fosse para eu ganhar dinheiro eu escolheria ser empresário de atletas.

Pela forma como acabou o Estadual, o ABC está fora da Copa do Brasil e da Copa do Nordeste de 2015. Vocês ainda têm esperanças de mudar esse quadro?

Evidente que nós estamos frustrados principalmente pelo que ocorreu no primeiro turno do Estadual, que nos daria uma condição de estar discutindo agora numa condição bem melhor sobre o calendário do ano subsequente, com muito maior conforto: com as vagas na Copa Nordeste e na Copa do Brasil garantidas e caledário assegurado. A obrigação do nosso clube é disputar qualquer campeonato com condição de vencer. Nós vamos para série B com pensamento de conquistar o acesso, para tanto formaremos um time competitivo. Existe uma possibilidade sim, há mais de três meses eu converso com o presidente do América, Gustavo Carvalho, e com o próprio Eduardo Rocha, que faz parte da Liga do Nordeste, sobre a probabilidade da ampliação no número de participantes na Copa do Nordeste já em 2015. Eles me disseram que a possibilidade existe e que de alguma forma, pelo critério do ranking nacional das federações de futebol, o RN pode ser beneficiado e conquistar uma terceira vaga no torneio regional. Em relação a Copa do Brasil, pelo ranking de clubes da CBF, o ABC se encontra na 29ª colocação, e tem grande possibilidade de entrar na competição em 2015. Dificilmente vamos deixar de estar nessa competição nacional.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas