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“Não existe insuficiência energética”

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Sílvia Ribeiro Dantas – repórter de Economia

entrevista/Paulo Medeiros/Superintendente comercial da CosernO risco de o Rio Grande do Norte voltar a passar por um novo blecaute – como o que atingiu 8 Estados da região Nordeste na noite de 3 de fevereiro passado e durou até a madrugada do dia seguinte – é muito baixo. É o que garante o superintendente comercial da Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern), Paulo Medeiros. Ao mesmo tempo, ele afirma que a capacidade de gerar toda a energia que precisa – estágio alcançado pelo Rio Grande do Norte no início de 2010 , com a entrada em operação da Termoaçu – não faz qualquer diferença prática, uma vez que o Estado integra o Sistema Interligado Nacional (SIN) e a Cosern compra energia elétrica de todo o Brasil, através de leilões. Nesta entrevista, além de comentar assuntos ligados à capacidade de fornecimento de energia, o superintendente comercial da empresa, que contabiliza mais de 1 milhão de clientes, fala sobre os investimentos previstos para este ano e conta como a companhia encara exigências da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Quais foram os efeitos, para o Rio Grande do Norte, do apagão que atingiu quase todo o Nordeste no início deste mês?

A falta de energia ocorreu em um período de carga baixa. Isto é, a partir da meia-noite até às 3h. Então, a falta de energia, para a Cosern, em sim, não altera muito o mercado. Nós compramos energia para o ano todo e oscilações ou falta de energia, com aquela ocorrida durante a madrugada, não afetam o nosso mercado.

Se fosse em outro horário, poderia afetar o mercado da empresa?

Bem mais. Se fosse em um período entre 17h30 e 20h30, que é o horário de pico para o sistema, poderíamos ter sido bem mais afetados. Mas não é que por ser de madrugada, a falta de energia não nos afeta, apenas isso ocorre com menos intensidade do que em outros horários.

De que forma essa interrupção no fornecimento de energia afeta a Cosern?

Como a energia deixa de ser fornecida, os clientes deixam de comprar o produto. O que quero dizer é que, se tivesse ocorrido durante o dia, os problemas e prejuízos seriam maiores, uma vez que a movimentação econômica é maior e tem também a questão dos transtornos. Imagine uma falta de energia às 17h, o que poderia provocar no trânsito ao longo da avenida Prudente de Morais. Seria o caos. Mas, de madrugada, só sentiu falta de energia quem acordou, e muita gente nem se deu conta que tinha passado um período de apagão. Em mesmo, passei em branco, pois já estava dormindo.

Estima-se que o apagão tenha provocado um prejuízo de R$ 100 milhões às indústrias do Nordeste. É possível quantificar o prejuízo para as indústrias potiguares?

A gente não tem essa informação, a respeito do prejuízo que a indústria veio a ter de lucro cessante. O que temos alguma informação é quanto aos pedidos de indenização por equipamentos queimados, tanto da indústria, quanto do comércio e das residências em geral. Temos alguns pedidos e posso dizer que cresceu, mas não muito, em relação ao que ocorre normalmente.

Qual foi o crescimento e por que o aumento nos pedidos de indenização foi pequeno? Com a falta de energia atingindo todo o Estado, não deveria ter sido registrado um volume considerável de pedidos?

Todos os dias há interrupção no fornecimento em algum lugar, então o resultado não se modificou muito. Temos indicadores para medir o fornecimento, que são o DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) e o FEC (Freqüência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) e fechamos 2010 com esses indicadores apresentando o melhor resultado em 15 anos. O DEC mostra que ao longo de 1997, os consumidores passaram uma média de 42,37 horas sem energia, enquanto em 2010 esse índice foi de 12,71 horas. E o FEC caiu de 25,7 para 6,9, sendo o melhor resultado do Nordeste e um dos melhores do Brasil. Isso mostra que, apesar da nossa rede ser totalmente aérea, é uma das melhores do país, em função da manutenção e da capacidade instalada.

Como os clientes devem proceder, para ter direito à indenização?

O cliente tem até 90 dias para fazer o pedido de indenização, contando de quando houve a falta de energia. Só que ele deve ter o cuidado de não providenciar o conserto antes da visita dos técnicos da Cosern, pois se isso acontecer, ele não será ressarcido. No caso de o problema ter atingido uma geladeira ou algum outro equipamento para acondicionar perecíveis, a empresa tem que fazer essa visita em 24 horas úteis e se for outro tipo de aparelho, o prazo é de 10 dias úteis. Feita a vistoria, o cliente terá a resposta dentro de 15 dias, informando se o dano foi, ou não, causado pela falta de energia. Esse cuidado é necessário, porque muita gente pode dizer que o equipamento foi danificado pela suspensão no fornecimento, mas ser constatado que a instalação era inadequada e, por isso, houve o dano. Portanto, a vistoria é imprescindível. Depois disso, ainda temos 20 dias para fazer o pagamento. Ou seja, o processo todo pode levar, no máximo, 45 dias.

Na maioria dos pedidos de ressarcimento, o dano é causado pela falta de energia ou por erro na instalação dos equipamentos elétricos?

A frequência de procedência costuma ser em torno de 50%. Mas, como houve uma grande falta de energia no início deste mês, pode ser que desta vez haja uma taxa maior de problemas causados pela interrupção no fornecimento.

Há o risco de ocorrer novos blecautes no Rio Grande do Norte?

É um risco muito baixo. Da parte da Cosern, a rede não tem nenhuma restrição de potência, nem de carga. Toda a estrutura de distribuição da empresa é muito robusta e isso é demonstrado pelos próprios indicadores que a gente tem registrado. O que também comprova a qualidade da nossa rede de distribuição é que no início deste ano, não houve registro de grande falta de energia nas praias da costa potiguar, onde a estrutura é menor do que na capital. Há alguns anos, antes da privatização, a gente via faltar muito.

E sendo autossuficiente energeticamente, o risco de novos apagões no RN será eliminado?

A Cosern distribuidora tem contratos que são acima do mercado previsto, em mais de 3%. Isso será uma realidade até 2016, então não existe insuficiência energética. A Cosern tem participado dos últimos leilões realizados e temos a certeza de que, se alguma indústria grande vier se instalar em território potiguar, não irá faltar energia. Agora, operacionalmente, o apagão é possível. Tanto que a própria Aneel estabelece os limites de tolerância para a distribuidora.

Isso significa que o Rio Grande do Norte hoje é autossuficiente, em relação à energia?

O RN faz parte do Brasil e o sistema do país é interligado. Você está me perguntando se a quantidade de geração de energia no Rio Grande do Norte é suficiente para suprir a demanda e isso é indiferente. Acontece que a Cosern compra energia de todas as regiões brasileiras, porque o modelo do setor elétrico é em forma de leilão e isso torna indiferente se há muita ou pouca geração de energia dentro do estado. Para a distribuidora, o que interessa é que os contratos estão feitos, para atender ao seu mercado. E aqui no estado, isso é uma realidade desde que esse modelo foi criado, em 1996, e já passou até por uma alteração no início do governo do ex-presidente Lula, na época em que a presidenta Dilma Rousseff era ministra de Minas e Energia.

Quais os investimentos previstos para o ano de 2011?

Este ano, a empresa pretende investir R$ 151 milhões, dos quais R$ 93 milhões na expansão e renovação da rede de distribuição e novas ligações, tanto na parte de mais clientes quanto no crescimento do sistema, com a ligação de mais subestações, reforma e construção de redes. Além disso, serão investidos R$ 8 milhões para instalações gerais e R$ 2,8 milhões em projetos especiais.

O senhor pode fazer um balanço de 2010?

No ano passado, o nosso mercado teve um crescimento de 8,9%. Em 2010, investimos R$ 100 milhões, contra R$ 137 milhões em 2009. Essa queda ocorreu basicamente em função do término das ligações do projeto Luz Para Todos. Mas a parte que não era subvencionada por esse programa, cresceu quase 50%. O mais claro para a gente são os indicadores de qualidade, uma vez que alguns investimentos só fazem efeito no ano seguinte à sua utilização, e temos conseguido altos índices de satisfação do cliente.

E o cliente da empresa tem demonstrado satisfação?

De todas as empresas do Brasil, com mais de 400 mil clientes, a Cosern foi a aquela que teve maior aceitação dos consumidores. Ficamos na frente da Eletropaulo, Cemig e outras grandes empresas. O nosso cliente diz que a energia falta pouco e quando isso ocorre, volta rapidamente. Ele também aceita o preço da Cosern, que tem uma das tarifas mais baixas da região Nordeste e percebe o comprometimento da empresa, em relação à qualidade do serviço e do bom atendimento junto ao consumidor. Isso é o principal.


De que forma a Cosern vem atuando em relação às adequações e mudanças previstas na resolução 414/2010 da Aneel, que rege sobre condições gerais de fornecimento de energia no país?

Durante o ano de 2011, de acordo com as regras estabelecidas nessa resolução, teremos a abertura das agências de atendimento nos municípios menores, contemplando todas as localidades até setembro deste ano. Basicamente, a grande alteração é o atendimento presencial, mas há outras, que dizem respeito a prazo de ligação e de religação. O que podemos dizer é que estamos fazendo todo o esforço para cumprir o que foi estabelecido pela Aneel.

Quais as perspectivas da empresa para o ano de 2011?

Na parte de mercado, esperamos crescer em relação a 2010, apesar de ano passado ter sido um período de forte crescimento. A nossa carga é muito influenciada por aparelhos de refrigeração e condicionamento de ar. Como houve muita chuva em 2009, a carga foi baixa e em 2010 foi registrada pouca chuva e calor intenso, então a carga sofreu elevação. Mas, mesmo assim, toda a energia que foi necessária para suprir as necessidades do estado, estava disponível. Na parte de operação, o nosso intuito é sempre melhorar.

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